A vida invisível de Eurídice Gusmão

A vida invisível de Eurídice Gusmão Martha Batalha




Resenhas -


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Stella F.. 09/11/2020

Leitura deliciosa!
Os livros sobre família me atraem.
Eurídice e sua irmã Guida. Eurídice queria fazer o que desejava. Pensava no futuro como musicista, quando jovem tocava flauta. Não queria o mesmo que a mãe, viver só como dona de casa. Quando se casa, e após o abandono do sonho com a música, porque o pai, severo e português antiquado, disse que ela não precisava ter uma carreira, somente um marido. Não podemos esquecer que o livro se passa entre as décadas de 1940 e 1960.
Ao se casar, foi pensando no vazio de sua existência e para preencher as longas tardes, resolve sempre inventar algo: costurava para fora e antes criava e escrevia receitas. Mas o marido, machista, achava que como ele era do Banco do Brasil ela não precisava fazer nada. Mas ela apesar de desistir por um tempo, se deparou com muitos livros que enfeitavam a estante e ao iniciar a leitura de vários deles, resolve escrever sobre sua vida invisível, mas até o final ninguém deu valor, mas sua vida mudou. A escrita deu a ela um novo olhar e ela se tornou mais participativa no mundo e seu marido também foi promovido e mudaram para Ipanema, um bairro ainda em ascenção na época.

Sua irmã Guida mais vaidosa após fugir para casar com um jovem rico da zona sul, onde sua família é poderosa, tem berço, onde o valor das coisas são as pratarias, os contatos, e não aceita aquela suburbana como nora. Mas o marido Marcos, não estava pronto para a vida, apesar de "querer" algo diferente, se libertar daquela família, cheia de regras, não sabia se virar, aliás não gostava de ser virar, estava acostumado aos privilégios de sua riqueza e abandona Guida a própria sorte. Ela sofre muito, passa vários apertos, tem seu filho Chico, que tem problemas de saúde, mas não desiste nunca, tem em mente que irá vencer. E é renegada pelo pai e mãe e fica sem os ver, principalmente a irmã Eurídice, que adora. Ela faz amizade com uma prostituta, Filomena, trabalha em vários lugares, mas o que deseja mesmo é ter um pai para seu filho, que possa cuidar dela e dele com segurança. Ela conhece Antonio, dono da papelaria, que apesar da mãe Eulália, aos pouquinhos e após muitos percalços ficam juntos e Antonio tem a sua libertação da mãe com esse amor a que ele sempre quis e nunca teve coragem de se permitir.

As irmãs ficam separadas por muito tempo e um dia Guida descobre o endereço de Eurídice e toma coragem e vau visitá-la. E é uma felicidade só! Tentam descontar o tempo perdido, daquele amor e de tanto sofrimento de ambas.

E junto a essas duas personagens, temos personagens masculinos, temos a fofoqueira, a mãe que não queria que o filho casasse, os casarões em Laranjeiras, o criador da primeira cerveja do Brasil, famílias abastadas que perderam tudo, famílias remediadas que ficaram ricas e se mudaram para Ipanema, em ascensão na época, o quitandeiro, o dono de papelaria e uma passeio por Santa Teresa, Estácio, Muda, Tijuca. E tudo isso se passando até o ano de 1964 do séc XX.
Recomendo!

"Porque Eurídice, vejam vocês, era uma mulher brilhante. Se lhe dessem cálculos elaborados ela projetaria pontes. Se lhe dessem um laboratório ela inventaria vacinas. Se lhe dessem páginas brancas ela escreveria clássicos. Mas o que lhe deram foram cuecas sujas, que Eurídice lavou muito rápido e muito bem, sentando-se em seguida no sofá, olhando as unhas e pensando no que deveria pensar. E foi assim que concluiu que não deveria pensar. Que para não pensar deveria se manter ocupadas todas as horas do dia..."

Acabei assistindo o filme logo após ler o livro, e me decepcionei um pouco, porque saí tão feliz da leitura, e quando me deparei com o filme, achei bastante melancólico. Alguns personagens mudaram suas características e o filme enfoca na amizade das irmãs que ficam separadas para sempre. No filme Eurídice é uma pianista que nunca se realizou, porque engravidou e fica perdida quando acha que a irmã morreu e Guida sofre demais com o casamento com um marinheiro estrangeiro, e escreve ao longo da vida cartas a Eurídice que o pai e mãe nunca entregam. É claro que o filme não é ruim, com algumas ressalvas, e que é baseado no livro. Mas na minha opinião, o livro dá de 10 no filme.
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Renato 27/02/2023

A opressão nossa de cada dia
A história de duas irmãs que tomam rumos diferentes na vida. Eurídice, que "se lhe dessem cálculos projetaria pontes" afunda-se num casamento sem perspectivas, com um marido conservador, autoritário e enfadonho. Guida que rebela-se com a família e atira-se sem olhar pra trás numa paixão arrebatadora e fútil. Assim, levando vidas separadas, as irmãs tecem suas histórias individuais de frustrações, fracassos, encontros e desencontros. Parece uma história banal como tantas, mas é ai que entra o talento excepcional da autora Martha Batalha. Sua narrativa é saborosa, seus personagens parecem saídos diretamente do nosso cotidiano para o texto e seus conflitos e sentimentos muito reais. Para apreciar toda a riqueza da sua escrita as vezes é preciso desacelerar a leitura, voltar um parágrafo ou dois e, como música, refazer o compasso. Descobre-se, então, a verdadeira mensagem contra a opressão das mulheres por uma sociedade cheia de hipocrisias. É muito gostoso de ler uma grande escritora que foge do modelo padrão da literatura de consumo.
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Juu 09/09/2021

Literalmente uma vida invisível...
1940, uma época em que esperava-se que as mulheres só tivessem dedicação a casa e aos filhos. Que nada além de suas "obrigações" eram aceitas. Momento em que persistia intacta a ideia de que não eram capazes de conquistar algo que não fosse o marido.
Isso caracteriza o cenário na qual não só a história se passa mas também onde Eurídice Gusmão desenvolve muitas habilidades, que são reprimidas posteriormente pela família e vizinhança que observa constantemente todas suas ações.
A leitura é dinâmica e rápida, intercalando bem entre o passado e o presente. Com repertórios da época, além de citar nomes de outros escritores e filósofos.
Vale a pena ler, gostei muito e recomendo para todos que se interessarem por livros brasileiros que retratem épocas mais conservadoras junto a personagens moldados pelas práticas, pensamentos e costumes desse período.
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Raissa.Cruz 29/06/2021

Eu amei esse livro. Desde o começo da leitura fiquei presa na escrita da autora. Os personagens me cativaram muito!? Amei a forma como ela desenrola a história e mescla entre o passado e o presente, mostrando as razões que levaram aquelas pessoas a serem como são.

Extremamente importante para mostrar como era a realidade de muitas mulheres da época e que muitos costumes até hoje são passados de geração para geração. Euridice poderia ser o que quisesse, porém estava fadada a ser a boa esposa. Essas pessoas tão reias que mostram como era a realidade das nossas avós, mãe e tias. Recomendo muito a leitura, eu dei risada, chorei e aprendi muito com a evolução dos personagens.
Beatriz Leão 30/06/2021minha estante
Me convenceu a ler! Já entrou para a lista ??


Raissa.Cruz 02/07/2021minha estante
Amiga vale muito a pena!!




adrianlendo 11/03/2023

Acho que uma das coisas que mais nos machuca na vida inteira é quando temos a constante sensação de que simplesmente não pertencemos a nada do que está acontecendo naquele momento. Como se tudo na nossa volta nos jogasse para um canto estranho e só não conseguissemos mais sair dali não importa quantas tentativas ocorram no meio do caminho.

Tenho um fraco por histórias desse tipo. Minha mente me sabota o suficiente para que eu me sinta constantemente assim. Mas isso é algo que, eu imagino, a terapia resolva.

Agora, imagina como é viver isso sendo uma mulher brasileira nos anos 40.

A vida de Eurídice Gusmão não é, de maneira alguma, invisível porque ela quer. Ela é uma pessoa que constantemente tenta fazer de tudo para ser vista, para que exista algo no mundo que traga conforto o suficiente para que ela seja genuinamente feliz como todos ao seu redor parecem ser. Mas nada na sua situação a ajuda a sair desse canto escuro no qual o patriarcado resolveu jogá-la.

Essa é a história de alguém que foi obrigada a desistir de muito para poder se encaixar no que se espera dela. De alguém que possui seus segredos não porque quer, mas porque é obrigada. De alguém que é deixada tão de lado que se imagina que qualquer coisa ao seu redor seja mais interessante. A história real de milhares e milhares de pessoas de qualquer minoria existente.

Eurídice Gusmão é uma das personagens mais fascinantes já escrita e tudo que a cerca possui a sua cota para que ela se torne tão gigante quanto é. Não existem palavras o suficiente para descrever o sufoco, o choque, a felicidade e a raiva quase constantes que acabam nos acompanhando durante essa longa jornada de menos de 200b páginas.

?A Vida Invisível de Eurídice Gusmão? é um retrato importante de tudo aquilo que durante muito tempo não pôde ser tratado da maneira como deveria. É sobre pegar o holofote para si, viver e contar a própria história mesmo com tudo que te leva para baixo tentando te atrapalhar. Uma verdadeira história de amor, de chance e de uma busca incessante por se tornar alguém que possamos enxergar, ao invés de apenas olhar.
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Miry 19/03/2024

Impressionante
Esse livro dá uma vontade imensa de abraçar Eurídice, de levar ela pra longe. Acompanhar o crescimento e a evolução foi magnífico. O crescimento da família e como as vizinhas amarguradas continuam amarguradas foi muito bom de acompanhar.
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JorgeFerlimnet 14/01/2021

Às pessoas que "poderiam ter sido"
O livro conta a história de Eurídice Gusmão, uma brasileira como tantas outras que poderiam ter sido tantas coisas e foram colocadas apenas como esposas, mães e 'do lar'. Ela bem que tentou, mas o machismo tão arraigado na sociedade brasileira ainda hoje (em muito mais forte nos anos 1940-60) não deixou que se extrapolasse os limites impostos à figura brilhante que poderia ter sido musicista, engenheira, apresentadora de programa de TV de culinária, costureira, escritora, historiadora.
Li o livro em dois dias, facinado pela história dos muitos personagens apresentados, mas sempre interessado em Eurídice que representa todos aqueles que poderiam ter sido alguma coisa, além de invisíveis.
A leitura é fácil e gostosa de ser feita, os personagens são interessantes, mas são muitos e alguns eu nem vi motivo de estarem ali, mas já que estavam poderiam merecer mais páginas, assim, como a história da própria Eurídice. Ainda assim o livro é primoroso e incrível para a estreia da autora.

A autora diz que o livro conta a história de suas e de nossas avós. Ele conta tamb um pouco da história de minha mãe que é apaixonada por música e canta bem, gostaria de conhecer o mundo, ser bióloga ou jornalista; mas tem sido mãe, esposa e 'do lar' nós últimos 40 anos. É estranho a sensação de ter uma Eurídice (mais falante, mais crítica e mandona, porém, com o mesmo potencial de ser várias coisas) em casa. Ao mesmo tempo, o respeito pela minha e pelas várias Eurídices que existem no mundo só aumenta. Não sei se concordo que estas são mulheres invisíveis, como a autora disse, mas tenho certeza que sua obra é uma bela e justa homenagem às pessoas que poderiam ter sido!

Quote: "Ela sempre achou que não valia muito. Ninguém vale muito quando diz ao moço do senso que no campo profissão ele deve escrever as palavras 'Do lar'."
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Henrique 09/03/2022

Surpreso
Conheci a história pelo filme. Quando o assisti, chorei do começo ao fim, me apaixonei pela história e torci muito para o filme concorrer ao Oscar na época. Pena que não aconteceu. Depois disso, fiquei ávido pelo livro, que li esperando uma história parecida com a do filme, mas fiquei surpreso ao descobrir o quão diferente era, mas me apaixonei pelo livro tanto quanto pelo filme.

Diferentes um do outro, mas cativantes em suas histórias. Uma pena que o filme seja tão triste em alguns momentos. Fiquei aliviado com o livro e o seu final. Acho que precisava disso. De um final leve. Já bastava ter sofrido o bastante com o filme.

Mas vale muito a pena ler e ver ao filme, são histórias bem diferentes e que nos fazem refletir.

Depois da leitura, me senti leve e completo. Feliz por ter conhecido Martha Batalha e ansioso para ler mais de suas obras.
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Danielle 15/04/2022

Duas mulheres fora de seu tempo
...e por isso, uma mulher com suas habilidades abafadas pelas convenções sociais da época. Uma mulher buscando a felicidade, mas tendo que esconder o seu passado. A história poderia ser de qualquer parente de uma ou duas gerações atrás. Mas são as histórias de Eurídice e de sua irmã Guida.
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Emanuelle.Marques 25/10/2022

Muito bem escrito
A leitura é fluida e fácil, me senti presa na história e não queria largar até saber o final. Fiquei um pouco triste com o final aberto mas isso não apagou a beleza do livro. Uma história triste e real que eu espero que permaneça apenas no nosso passado?
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lari 25/01/2021

"de qualquer forma, se alguém, algum dia achar na principal gaveta do escritório a encadernação de papel-oficio contendo na primeira página o titulo "A história da invisibilidade", e tiver a sabedoria de ler aquelas páginas, entenderá que é um livro importante demais para pertencer a apenas uma biblioteca".
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Sanny 24/12/2021

incrível
gostei do livro, me emocionei bastante com a história.
Achei o final meio vago, por isso não dou 5 estrelas
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