Pedro 16/07/2021A subversão das fantasias eurocentristas.Mais do que um livro, uma experiência. A forma como a autora consegue contar uma história na perspectiva de quatro personagens diferentes que acabam se cruzando durante as suas próprias jornadas e como eles vão se influenciar mesmo alguns não se conhecendo pessoalmente.
"Black Sun" é uma história sobre trauma que transcende gerações e que não pode ser curado por contra própria, mesmo se você der tempo suficiente. O livro mostra como ações de violência e brutalidade—mesmos distantes em termos de localidade e tempo—não recuam para o passado como uma maré. Em vez disso, eles deixam para trás uma mudança irreversível com conseqüências que reverberam por muito tempo. Nossas histórias, nossas memórias persistem, elas crescem dentro de nós como sementes. A história pode ser mais fácil de olhar quando a evidência de sua violência se afastou, mas nunca diminui a dor de perda e pesar—e raiva.
Essa é uma história sobre injustiças que se transformam em rancores, cheios de dor e ira, e de pessoas que crescem com a falta de confiança e suspeitas em seus corações. A autora contou essa história de forma a mostrar o amargo da vingança, quando tudo é remontando diante de você, mas que de alguma forma você herda tudo, todas as dores e o que resta é o ressentimento.
E para mim, o que esse livro retrata é um ciclo de guerras—e também violência— e como isso acaba sendo herdado, e se torna uma parte intrica de quem somos, uma dor crua sentada em nosso estômago como uma profunda ferida feita, sendo a fonte de nossa raiva contra um mundo que nos manifestou por tanto tempo e continua a fazê-lo.
Por fim, não podia deixar de comentar sobre a representatividade que contém dentro desse livro e como ela é explicitamente mostrada. Primeiro, começando pela própria autora sendo uma mulher indígena (leiam autores indígenas) e pelos personagens que são introduzidos dentro da história como trans, não binários, bissexuais e além de muitos personagens que utilizam pronomes linguagem não-binária.