Cyber Brasiliana

Cyber Brasiliana Richard Diegues




Resenhas - Cyber Brasiliana


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Nelson 14/04/2017

Cyber Cultura
Lançado pela Tarja Editorial, que encerrou suas atividades em 2013, Cyber Brasiliana é o primeiro romance de ficção científica de Richard Diegues, que já havia se aventurado pela fantasia e terror. Além de autor publicado, Diegues também era sócio e co-editor da Tarja. No posfácio, ele revela a intenção de “pavimentar” um caminho para os leitores ainda sem experiência que quiserem se aventurar pelo gênero, fato que explica muito sobre amaneira que o romance é conduzido.

A obra é uma das poucas publicações nacionais voltada a esse tipo de ficção científica, o que desperta interesse em qualquer fã de cyberpunk a procura de uma identidade nacional dessa literatura. Mas não é isso que acontece. Apesar da República Brasiliana ser a potência mundial descrita em algumas páginas, ela não é o cenário dos acontecimentos. Isso deixa uma sensação de propaganda enganosa, já que não há qualquer explicação sobre a escolha do título.

Parte da trama se desenrola no território que um dia foi os Estados Unidos da América, agora dividido e sob comando de diferentes corporações. A outra metade das ações acontece no mundo virtual, que já substituiu quase todas as necessidades humanas no mundo físico.

A narrativa em terceira pessoa acompanha diversos personagens. Ao que parece, Diegues quis trabalhar com muitos clichês, o que não é incomum dentro do cyberpunk. São: hackers, cientistas, soldados, etc. A única queixa quanto a isso é ao antagonista, Serguey Rajaram, que mesmo sendo bastante explorado, não apresenta qualquer evolução ao longo da história. Por outro lado, Guadalupe, uma inteligência artificial quase divina, consegue cativar o leitor em suas pouquíssimas aparições. Os que mais se destacam são Sa-ID e Zi Lin, que conseguem abandonar a bidimensionalidade de suas existências após dois terços do livro. Enquanto Cin-D, que surge para operar um deus ex machina, é tão cheia de habilidades, que é difícil de engolir.

O que mais me chamou atenção na obra, foi a quantidade de explicações sobre o worldbuilding, a começar pela sinopse, se estendendo aos fatos históricos/geopolíticos e ao passado dos personagens. Isso seria normal, se não fossem pela quantidade de detalhes que não são importantes ao leitor. São explicações que consomem grande parte de vários capítulos e, as vezes, aparecem em momentos impróprios, como quando interrompem uma cena de ação.

A maiorias dessas explicações se focam no funcionamento do Hipermundo. Isso não permite ao leitor descobrir por si só, o que torna tudo muito didático. Mesmo as entidades que controlam a realidade virtual, não escapam. Ao menos nesse ponto, usando da religião hindu para compor o sistema do Hipermundo, Diegues conseguiu dar uma interessante função para essas explicações.

A tecnologia também é descrita com abundância de detalhes. Se isso torna o ambiente crível ou não, depende do leitor. Particularmente, elas me agradaram quanto tiveram algum efeito naquele mundo. Em alguns momentos, porém, ela cria uma sensação boba, como a realidade aumentada usada nas rodovias. Também há o caso em que a falta de uma maneira melhor elaborada para descrever interações virtuais, cria um certo ar de artificialidade, como em momentos que os personagens “escrevem códigos no ar”. Isso me lembrou de como o filme Hackers (1995) simplificou o processo de hackear sistemas.

Pode parecer contraditório, mas mesmo com tantas explicações (que poderiam facilmente ser removidas sem afetar a obra), a narrativa é ágil. Diegues soube criar um ritmo tão intenso, que até as descrições tecnológicas mais difíceis não empacam a leitura. Mas isso não significa que você vai entendê-las da primeira vez que ler. Os capítulos curtos ajudam a tornar esse processo ainda mais acelerado. Além do livro também ser pequeno, apenas 254 páginas.

Em contraste a maneira que a tecnologia é apresentada, os processos históricos e geopolíticos não tem a mesma força de persuasão. Nesse ponto, é impossível não notar a influência de Snow Crash, de Neal Stephenson.

Há dois ou três momentos em que o estilo de escrita de Diegues é quebrado, como se outra pessoa assumisse o texto. Estranhamente, é nessa hora que surge o melhor lado da obra. Na memorável cena na capela, por exemplo, cria-se uma tensão capaz de reduzir o ritmo e, então, jogar o leitor contra reflexões que só uma obra de ficção científica poderia fazer. Também é nessa hora que os diálogos são mais carregados.

Levando em consideração a edição física, há detalhes que não podem ser escondidos do leitor. A escolha do papel é o mais notável deles, pois a folha é fina e branca o suficiente para gerar transparência com certa facilidade. Também existem marcações em tons de cinza que, por vezes, ficam um pouco apagadas. Em contrapartida, a arte de capa é muito chamativa e combina perfeitamente com o clima cyberpunk.

Em uma das orelhas do livro há uma série de questionamentos. Cabe ao leitor, após finalizar a leitura, responder: você considera que essas reflexões foram abordadas na obra? Particularmente, senti que os elementos estavam todos lá, mas faltou um pouco de profundidade, já que o autor decidiu pelo caminho de uma boa aventura, ritmo frenético e ação cinematográfica. Cyber Brasiliana é um livro que me deixou bastante dividido entre seus altos e baixos.

site: https://cyberculturabr.wordpress.com/2017/04/08/cyber-brasiliana/
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Literatura 18/06/2013

O mundo é virtual
Tenho que privá-los do meu direito de soltar um jargão muito do mal-educado para com este livro, mas não! Não pensem que isso é uma crítica negativa! Pelo contrário! Essa obra é incrível! E sinto-me feliz de falar para quem quiser ouvir: é Brasileiro!

Poucas vezes eu tive a chance de ler uma obra de Ficção-Científica, não por que eu não goste, longe disso, mas o real motivo – o de “verdade verdadeira” mesmo – é que eu tacava lá no fim da lista de prioridades. Assim, sem vergonha alguma. E não é por falta de capricho – e de vergonha na cara – que assumo: Fiz o mesmo com Cyber Brasiliana! Mas fiquem calmos! Eu conto o causo e vocês aumentam o conto. Ok?

Quando o livro chegou, eu já tinha ideia do assunto, já tinha lido comentários – alguns pretensiosos – e por incrível que pareça, já havia recebido os malditos spoilers! Sendo assim, esperei minha mente acalmar e tentei – frustrado – esquecer sobre o que eu li. Como nada funcionou e sua vez já tinha chego, peguei-o com culpa e completamente desesperançoso.
Sorte a minha que o livro é muito bom! E qualquer comentário que eu tecer vai parecer pouco.

Temos na obra um universo muito louco pós-cyber onde a população mundial está – literalmente – vivendo em outra “realidade”, a virtual. O Futuro agora é comandado pelos Países do Eixo-Sul enquanto os do norte estão completamente falidos. (Minha alegria foi tamanha nessa parte!)

Com isso surge o Hipermundo, uma rede gigantesca onde é possível criar uma espécie de avatar e realizar transações importantíssimas. Resumindo: É onde toda a população reside. Para ficar fácil imaginar, pensem no Facebook. Agora imaginem que no facebook é possível você criar um avatar e interagir com as pessoas de forma completamente natural, lembrando que tudo isso estaria ocorrendo através de um avançado aparelho tecnológico ligado diretamente a tua mente. Ok, fácil até aqui? Nesse Facebook (Uma versão miniatura do Hipermundo) você realizaria transações bancárias, criaria lojas e participaria de reuniões com pessoas importantes do seu serviço. Ah, esqueci-me de dizer, nada disso é feito fora do Hipermundo, o que faz dele a fonte máxima de interação com os “outros” (No meio de programação avançada e softwares quase vivos!) e fazendo da terra apenas um lugar para acessar o “Virtual”

Veja resenha completa no site:
http://migre.me/f4BrK
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Sci Fi Brasil 23/05/2013

Fica só na pretensão
Confesso que Cyber Brasiliana. Parecia ser "o" livro brasileiro de ficção científica que mostraria que ainda há alguma esperança para o gênero entre autores nacionais, mas não passa nem perto disso.

Cyber Brasiliana é pretensioso demais, tem uma narrativa muito truncada e tom excessivamente didático em vários trechos. As tentativas do autor de tentar explicar o sexo dos anjos na linguagem de programação e das tecnologias que desenvolveu no seu mundo fictício soam forçadas demais - e BEM pouco críveis.

Uma pena. Parece que uma pessoa com boas ideias e poucas habilidades de escrever e desenvolver a trama tentou tocar o livro e não deu nem um pouco certo.
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Nery 04/01/2012

Leia a resenha sem medo, ela não contêm spoilers, heh...

Cyber Brasiliana é um livro que surpreende. À primeira vista você pensa que encontrou mais uma história que explora o conceito de mundos virtuais a la Matrix, porém, à medida em que a leitura avança, você percebe que existe um imenso e rico cenário de fundo ambientando toda a trama.

As possíveis semelhanças com Matrix são logo esquecidas, pois o Richard Diegues conseguiu criar um conceito de mundo virtual muito bem atrelado ao mundo real. O 'Hipermundo' possui limitações, possui diferenças sociais (refletidas até na qualidade gráfica dos avatares) e possui regras próprias e bem definidas.

O sistema operacional do 'Hipermundo' é uma maravilha. Vários conceitos se entrelaçaram aqui, desde TI até religião. Achei fantástico.

Existe um 'bônus' para quem conhece algumas palavras-chave da área de programação, pois elas estão bem aplicadas no texto e nos dão a exata dimensão do que o autor pretende mostrar, porém, sem comprometer a leitura daqueles que não estão familiarizados com os termos.

Enfim, um livro muito bom. Eu recomendo a todos os fãs de ficção-científica e também àqueles que curtem uma aventura fantástica.

Grande abraço e obrigado Richard!



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Psychobooks 01/12/2011

Tá, vou confessar… Peguei o livro do Richard sem muitas expectativas… O tema sempre me deu um certo arrepio, e por puro pré-conceito mesmo! Pura falta de conhecimento do que se tratava! Depois de ler o significado de “Cyberpunk” percebi que já li alguns livros (e assiste muitos filmes) no gênero. E sabem de uma coisa? Eu gosto! \o/ Adorável percepção.
O livro é narrado na terceira pessoa, acompanhando o ponto de vista de três personagens principais:
Kamal – Soldado da República Brasiliana, que após um “infeliz” acontecimento (logo no primeiro capítulo do livro) se vê envolvido com o Cartel.
Sa-Id – Um muçulmano de 42 anos, fera na arte da programação. Sequestrado pelo Cartel, se vê obrigado a fazer uma entrega no Hipermundo.
5.i-cent – O personagem mais misterioso do livro. Ligado a Serguey Kajaram de uma forma obscura e misteriosa. Só conhecemos bem suas intenções no finalzinho do livro.
Sob o ponto de vista de cada um dos personagens principais, os coadjuvantes da história ganham vida e densidade. Richard criou um enredo bem complexo e cheio de detalhes. Num mundo dominado pela tecnologia, com muitas pessoas preferindo viver no Hipermundo – uma forma de interface de realidade virtual – toda a estrutura da sociedade foi redefinida. Em uma guerra sem precedentes, República Brasiliana (o Brasil após a conquista de vários territórios), Africanísia e Euronova dominaram o mundo, e têm o controle tanto do Hipermundo quanto do mundo real, e, como em todo enredo que se prese tem que haver algum antagonista, esse vem na forma do Cartel, uma Associação de 16 líderes mundiais, encabeçada por Serguey Kajaram da Sicilli Corporation, proveniente de Silicon Valley; aqui percebemos relação com nossa realidade atual, e fica clara a especialidade de Serguey: tecnologia da informática; e seu objetivo: tomar as rédeas do Hipermundo e do mundo real.
As mulheres da trama são Cin-d e Zin Lin Wong, cada uma está presente em um mundo, acompanhando um personagem principal. Zin Lin é uma programadora, que está no final da gravidez e está sendo usada pelo Cartel para chegar a seus objetivos, Cin-d cai na aventura meio que por acaso, seu crescimento durante o enredo é surpreendente.
A trama poderia ser confusa, se não fossem todas as explicações que Richard coloca entremeada ao enredo. Essa técnica é bem perigosa, alguns autores acabam se atrapalhando nas explicações, se focando muito na parte técnica do texto e deixam a leitura enfadonha. Não é o caso de Cyber Brasiliana: todas as explicações estão bem colocadas e são de suma importância para o bom entendimento do livro.
A carga emocional da história recaí sobre Zin Lin e sua luta no Hipermundo para acelerar a realização de seus objetivos e com isso salvar a vida de sua filha, que está prestes a nascer.
Todas as três histórias ocorrendo em separado, levam a um final bem amarrado e cheios de surpresa. Conforme as páginas vão avançando, o clima de tensão também cresce, e fica impossível largar a leitura.
O que me surpreendeu bastante, é que, apesar de o Brasil ser “A Potência” do momento, Richard não explorou esse ambiente, deixando toda a parte de ação focada na América do Norte. Isso me deixou um pouco decepcionada, mas não ao ponto do livro perder sua essência e riqueza de enredo.
(…) Ela respirou fundo e soltou aquilo que estava evitando, mas que sabia que seria melhor libertar do peito naquele momento. – Sa-Id é o seu terceiro pai, que lhe jogou nessa situação, sem ter a intenção de fazer isso. Você deve perdoá-lo por isso. Eu sou sua segunda mãe e serei também sua algoz. Mas não se preocupe, não preciso do seu perdão.”
Página 43
Tem muito de Matrix no enredo, mas em vez de lutar contra a realidade virtual, as pessoas buscam viver ali. Um novo enfoque ao tema que achei bem interessante.

Link: http://www.psychobooks.com.br/2011/05/resenha-sorteio-cyber-brasiliana.html
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Carol Mancini 13/10/2011

Sem precedentes. Incrível. Chocante. Perfeito.
Já faz um tempo que li esse livro, mas não fiz a resenha pois me sentia inapta por dois motivos. Primeiro pela complexidade do gênero “ficção cientifica” com a qual não tenho a menor familiaridade, e em segundo lugar, pelo estado de perplexidade e embriagues que fiquei após a leitura.
Richard Diegues - que além de escritor é editor e consultor tecnológico - nos diz na apresentação do livro sobre seu intuito de escrever um romance de Sci-Fi em um cenário cyberpunk que qualquer pessoa não familiarizada com as nomenclaturas tecnológicas pudesse se aventurar na história sem problemas e sem prejudicar a fluidez da leitura. O autor realmente consegue fazer isso. As terminologias mais complicadas vem e vão sem problemas, e conforme seus funcionamentos são descritos elas se tornam mais próximas e palpáveis.
Particularmente minha dificuldade (que foi apenas inicial) foi com o cenário em si, pois a estética futurista sempre me causou estranhamento e distanciamento. Mas aceitei a leitura aberta, e de bom grado me surpreendi com a capacidades do autor e as qualidades desta obra que é guiada pela humanidade e profundidade dos personagens, a riqueza dos cenários, a inteligencia nas divisões politicas e culturais desse mundo distópico e todos os outros ingredientes de um bom livro de ficção como perseguição, batalhas, romance, corrupção, vilões egoístas e poderosos, e seres humanos levados ao extremo de seus sentimentos mais variados e caóticos.
Agora, vamos ser mais específicos.
A capa. O personagem principal reina entre luz e sombra, com um óculos que lhe cobre o rosto, e na mão uma arma de fogo. A imagem parece ter sido construída com preto, branco (logo tons de cinza) e azul e verde. Tudo isso traz um resfriamento, combinando bem com a aura tecnológica e complexa do livro. Eu gostei muito da arte. Não parece uma obra que traria para si qualquer público, mas desperta curiosidade e ilustra bem o livro sem revelar detalhes.
O cenário. Podemos dividi-los em dois âmbitos que se somam. O primeiro é o político onde diferentes alianças e poderes assumem novos ares e estruturas, onde abaixo da linha do equador tudo parece ir muito bem economicamente, e do outro lado, tudo está incrivelmente caótico e o poder é mantido pela força. O segundo é a tecnologia do Hipermundo, um lugar ficcional (como a internet), mas onde realmente o mundo se baseia para sobreviver. Digamos que: é um ambiente onde todo o mundo se conecta com muita frequência e desde dados bancários até relações de amizade são feitas e firmadas. Mas ambas as realidades que se somam nos chegam de uma maneira bastante natural, apesar do estranhamento que ai possa haver, logo tudo é tão perfeitamente condicionado que a história caminha como se estive acontecendo na sua cidade. Esse universo tem seus primórdios, mas como é falho, também é finito, como todo sistema e regime que passa por crises até cair e então, precisar ser refeito.
O que tem um grande peso também na ficção, é sua capacidade de dialogar com a realidade atual tanto como metáfora como também como uma causa ou consequência do que se vive. E isto está lá: Metáfora e consequências provaveis. E a pesquisa somada a um enredo bem estruturado me vem como um respeito ao leitor, por acreditar na sua capacidade de raciocínio, não fazendo-o engolir um mundo novo totalmente incompreensível e não palpável.
Mas Cyber Brasiliana, não é a história de um mundo, é a história de pessoas. E os personagens, para mim são o ponto chave.
Não vou detalhá-los para não estragar a surpresa do leitor, mas as construções são do meu gênero favorito, são personagens com personalidades complexas, bem construídas, com suas razões, emoções, momentos de força, de fraqueza, de devaneio, de dúvidas de si mesmo, falhas, motivações reais, medos, virtudes e defeitos. Além disso, os personagens são mutáveis, evoluindo conforme a trama, e também revelam segredos. O autor nunca nos diz tudo a respeito das reais intenções de cada um, tanto os protagonistas, quanto os antagonistas, revelam reais intenções e motivações ao longo da trama.
Outra questão que adorei no livro é o tom real dos acontecimentos. Não existem heróis predestinados, ou vilões que são pura maldade, porém, há violência e bondade como existe nas coisas que acontecem no dia a dia, no mundo inteiro.
Como um registro da vida de alguém, uma cortina é suspensa a cada passo que se dá dentro da narrativa, com amor, surpresas, perigos, máscaras que caem, certezas que são erguidas. E o melhor tipo de herói, aquele que se torna um ao se deparar com a situação problema e resolver enfrentá-la por seus princípios e pelo bem maior.
O final realmente surpreende. Ele é sólido, com sofrimento, alivio, esperança e cicatrizes físicas e psicológicas que marcam tanto os personagens quanto o leitor. Não se sai do mesmo modo dessa leitura, cumprindo o real papel de um livro (na minha opinião) que é tirar o leitor de seu lugar de conforto e fazer parte da sua vida.

Eu fico muito feliz por ter adquirido esse livro, ainda com autógrafo, e recomendo essa obra aos quatro ventos.

Um romance ficcional de alto nível, um dos melhores. (ou até mesmo, o melhor que já li).
Richard Diegues é um dos poucos autores que promete mundos e fundos na sua obra, e cumpre com excelência.
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Junior Cazeri 10/07/2011

magine um mundo dominado pelo hemisfério sul, formando por três grandes potências: a União da República Brasiliana, a Africanísia e a Euronova. Nesse mundo, os EUA como conhecemos não existem mais, e o que sobrou do seu império é disputado por corporações inescrupulosas. A internet é coisa do passado, acessar a rede mundial é mergulhar no Hipermundo, vestindo um avatar e passeando por seus centros virtuais, mantido pelos Desenvolvedores.

Kamal está preso no Hipermundo. Não por uma conexão tradicional, mas ligado a ele através de um bioware, que conecta sua mente diretamente com a realidade virtual. Ele tem uma arma e uma missão, além da companhia de uma programadora chinesa grávida. Sa-ID é um hacker em uma situação de vida ou morte, e terá que se envolver em desafios bem reais para salvar a sua pele. E o Cartel tem um plano ambicioso de dominação.

Cyber Brasiliana é um romance pós-cyberpunk que se desvia da verborragia alucinada e fantasiosa que caracteriza outros livros do gênero, como Nevasca, de Neal Stephenson, notadamente uma referência para o trabalho de Richard Diegues. Optando pelo foco na ação e aventura em um mundo bem diferente do nosso, o autor rapidamente introduz os participantes do jogo de poder que conduz a trama, deixando as explicações técnicas para os intervalos das cenas e diálogos.

No que diz respeito à ação, Cyber Brasiliana não fica devendo em nada às melhores obras de ficção, pois temos mistérios, perseguições, lutas, tiroteios e violência suficientes para fazer o leitor mergulhar no universo futurista e acompanhar a saga de Kamal no Hipermundo, e de Sa-Id no mundo real, com entusiasmo. O livro acompanha vários personagens, inclusive os vilões, descartando um protagonista e dando uma visão mais abrangente dos acontecimentos. No quesito científico da ficção somos conduzidos pelos conhecimentos técnicos de Richard Diegues, que é Desenvolvedor de Sistemas, e usa principalmente os conceitos de lógica e programação para a construção de seu universo ficcional. O modo mais simples de explicar o que é o Hipermundo seria dizer que ele é como a Matrix, sem inteligência artificial e dominada pelos humanos. Não é bem exato, mas acho que o suficiente para criar uma imagem.

Além do ritmo frenético, capítulos de tirar o fôlego do leitor, ainda somos presenteados com a criatividade do autor. Eu poderia citar alguns exemplos aqui, mas isso tiraria o encanto de quem ainda não leu o livro, e deve encontrar essas passagens por conta própria. Só posso dizer que é divertidíssimo encontrar elementos inusitados em um gênero onde fórmulas prontas dominam constantemente as narrativas.

No entanto, nem tudo é perfeito. Como entretenimento, Cyber Brasiliana é um ótimo livro, mas, como ficção científica, deixa a desejar em um quesito essencial: informações técnicas. Não páginas e páginas de devaneios tecnológicos, pois não é esta a proposta do livro, mas algo que vá além de comentários rápidos dentro de diálogos, que mais confundem do que elucidam. Eu sou formando em Processamento de Dados, trabalho com informática, e tive que reler alguns parágrafos para compreender as idéias expostas ali. E o leitor que não tem a menor idéia do que é um kernel, uma instância de um objeto ou uma compilação? De tão sucintas, as explicações acabam se tornando rasteiras, e podem comprometer a interpretação da história. Uma dúvida, por exemplo, sem dar spoiler: por que Kamal, caso morra no Hipermundo, morre também no mundo real e os soldados não? Eu entendi o motivo, mas quantos leitores conseguem explicar? Dá pra simplesmente ignorar isso e ler o livro numa boa, é verdade, mas eu não acredito que um leitor goste de ignorar os fatos. Principalmente um leitor de FC.

Todos os personagens são muito bem construídos, vívidos e interessantes, os diálogos são naturais e história flui bem. Mas, em dado momento, Sa-ID acaba extrapolando. Vai muito além do que seria de se esperar dele, se torna super, e perde credibilidade. Kamal também não se destaca, parece que vai fugir do clichê de fodão cyberpunk, mas acaba recuando. A responsabilidade cai sobre Zi Lin, que era coadjuvante e acabou se mostrando a melhor personagem do livro.

Enfim, uma boa pedida se você gosta de ação e curtiu filmes como Matrix e seus clones, pode ter certeza de que você não vai largar o livro antes de chegar na última página. E um livro com altos e baixos para quem já conhece o gênero e esperava um pouco mais. No geral, um bom trabalho de FC.

Resenhado no http://cafedeontem.wordpress.com/
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ArenaFantástica 12/04/2011

ARENA FANTÀSTICA - Resenha: Cyber Brasiliana
Cyber Brasiliana é, salvo engano, o primeiro romance de ficção cientifica do escritor Richard Diegues e, sinceramente, não me atraiu a primeira vez que vi. Digo, atraiu pela capa, mas ficção nunca foi muito o meu forte e quando li na quarta capa coisas como “União da Republica Brasiliana, a Africanísia e a Euronova” fiquei imaginando que tipo de alucinógeno o autor teria usado para escrever aquilo. Afinal de contas, quem em sã consciência leria um livro sobre um futuro pós-cyber punk (eu nem fazia idéia do que isso significava na época) com traços de mitologia e política aliados a termos de programação que a maioria não entende?

Entretanto, apesar de meu preconceito inicial, os comentários crescentes sobre sua qualidade começaram a me intrigar e por fim criaram uma curiosidade maior que o pré-conceito que havia formado em minha cabeça e, vencido, adquiri um volume da obra. Foi ai que eu vi o quanto eu estava errado.

Desde o primeiro momento, os personagens excepcionalmente bem construídos de Diegues estabelecem um . . .

LEIA MAIS EM
http://arenafantastica.com/2011/04/07/resenha-cyber-brasiliana/

OU
http://arenafantastica.com/
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Antonio Luiz 21/08/2010

Um cyberpunk (mais ou menos) brasileiro
Recém-lançado, o "Cyber Brasiliana", de autoria de Richard Diegues, editor e fundador da mesma Tarja Editorial que o publica, revela no posfácio sua ambição: quer ser uma referência aos leitores menos acostumados ao gênero, para que saibam que nem tudo em ficção (científica, deve-se presumir) é um bicho de sete cabeças.

Conseguiu? Em parte. No fundamental, é um bom romance de ficção científica, digno de constar como uma das referências do cyberpunk nacional – ou do pós-cyber, se preferirem. Mas receio que, apesar da intenção do autor, está longe de ser uma leitura fácil para os não iniciados no subgênero e faz tropeçar mesmo os aficionados. Expliquemos.

Em termos de ritmo, linguagem, especulação tecnológica sobre programação e informática, construção da trama e desenvolvimento dos protagonistas, o livro merece sem hesitação um “muito bom” – e com isso, estamos qualificando pelo menos oitenta por cento da obra.

Com certeza, as influências estrangeiras incluem o William Gibson de "Neuromancer" e, de maneira inconfessa, mas visível, o Neal Stephenson de "Nevasca" ("Snow Crash", no original). "Cyber Brasiliana" não chega a ser tão ousado e inovador quanto foi o primeiro em seu tempo e fica algo a dever quanto a detalhes de construção do cenário, como veremos adiante, mas é comparável em senso de ritmo e de fantástico e, para o leitor de hoje, tem a vantagem de estar mais atualizado quanto à concepção de redes de informação, realidades virtuais e programação. Em relação ao segundo (best-seller nos EUA dos anos 90), ganha muitos pontos por não se perder em lições minuciosas e intermináveis sobre teorias absurdas e se mostra superior também na verossimilhança dos diálogos e dos personagens.

É muito comum na ficção científica, mais ainda no cyberpunk, o uso e abuso de personagens planos: caricaturas, heróis de ação, tipos sociais estereotipados, meras ferramentas para fazer avançar a história. Mas o romance de Diegues consegue desenvolver uma ação intensa e frequentemente violenta (ainda que em grande parte virtual) e uma especulação interessante, sem deixar de explorar reflexões e sentimentos pessoais e criar protagonistas críveis e humanos, com vida própria. Pena que não se possa dizer o mesmo dos antagonistas, estereotipados como vilões ávidos por poder absoluto.

Deve-se ressalvar também que algumas informações cruciais sobre os protagonistas são insuficientemente explicadas ou justificadas. Por exemplo: um deles, apresentado como um programador nerd que nunca fez outra coisa na vida, no momento crítico se revela um obstetra competente, que sabe exatamente como fazer para salvar a mãe e a criança de um parto muito complicado, inclusive que medicamentos aplicar e em que dosagem.

Nesta obra, diferentemente de muitas outras do gênero, a concepção da realidade virtual e de seus habitantes é consistente e embasada em um real conhecimento de ciência da computação. Mas é aqui que a porca torce o rabo. Este resenhista é usuário regular, se não intensivo, de computadores há mais de um quarto de século, aprendeu um pouco de programação no início da vida profissional e não se considera analfabeto no tema (mesmo se isso foi lá pelo Jurássico, quando se programava em Fortran com cartões perfurados por dentes de dinossauro, ou no Paleolítico, quando se rascunhava linhas de código APL em couro de mamute). Mas confessa que derrapou com frequência nas explicações e no jargão técnico, o que é bastante incômodo quando se trata de passagens críticas para o entendimento dos planos dos personagens e até de cenas de ação. E receia que leitores mais leigos simplesmente empaquem. Como neste trecho absolutamente crucial da página 42:

– E se não fossem informações armazenadas com as várias centenas de terabytes, mas sim um paradigma de algorítmico neural de reconhecimento de padrões, instanciado de forma a processar o cruzamento de dados por reconhecimento de suas respostas possíveis, não por sua armazenagem? Quanto espaço físico seria necessário para armazenar um trecho de código capaz de realizar isso? Quase nada! E não seria detectável, pois no lugar de uma tonelada de dados, teríamos apenas um grande volume de processamento, o que hoje é totalmente comum. Seria encarado pelo Hipermundo apenas como um avatar, recebendo uma carga de informações a partir de uma mente humana plugada, exatamente como você.

Acredite o leigo, não é tecnobaboseira à maneira de “Jornada nas Estrelas”: faz sentido. Mas mesmo quem já soube um pouco do riscado precisa ler várias vezes antes de começar a entender o suficiente para passar adiante – e é parte de um diálogo dinâmico, num momento de tensão e suspense. É verdade que esse conceito em particular é tão rebuscado que o autor volta a explicá-lo no posfácio: “para desenvolvermos um real sentido de inteligência artificial seria necessário partirmos do cruzamento de reações dentro de um conjunto finito de dados entrecruzados, fugindo dos conceitos, mantidos na época, que envolviam a armazenagem relacional de informações. Em minha visão, a única forma consistente de criação de uma IA seria a criação de um algoritmo com base matemática, em que o volume de dados seria reflexo apenas da lógica, não dos dados contidos, evitando assim a armazenagem de referências para o cruzamento organizacional em forma de pergunta/resposta, a qual necessita de uma armazenagem ampla”. Evidente! Agora tudo ficou claro, não é? Bazinga!

O enredo funciona mesmo que trechos como esse sejam entendidos pela metade. Mas uma das características da ficção científica costuma ser apresentar ideias técnicas e científicas de forma acessível e intuitiva e para isso esta obra não encontrou a fórmula mais adequada. Receio que o leitor com horror a Guimarães Rosa e James Joyce e que busca um entretenimento em linguagem ágil e simples vai desistir e procurar o conforto de um texto mais fácil – como, digamos, o de Machado de Assis. E até leitores mais acostumados com ficção científica vão ficar com a sensação de que seus algoritmos neurais de reconhecimento de texto foram parcialmente deletados.

Por outro lado, a sofisticação da especulação tecnológica no campo do software contrasta com ingenuidade nas concepções econômicas e políticas.

Assim como "Guerra Justa" de Carlos Orsi – outro cyberpunk brasileiro recente – "Cyber Brasiliana" afasta-se da concepção original e anglo-saxônica do gênero, de um futuro decadente de anarquia capitalista ou de Estados frágeis dominados por transnacionais privadas. No livro de Orsi, o poder seria de uma igreja mundial totalitária. Neste de Diegues, é de grandes Estados de tipo tradicional, mas não os que conhecemos hoje: as três grandes potências globais são a República Brasiliana, a Africanísia e a Euronova (esta na Austrália), todas nações ricas e prósperas, enquanto o hemisfério norte está decadente e politicamente fragmentado.

Tudo isso é plausível e aceitável. O autor não precisaria realmente explicar como esse cenário geopolitico viria a ser. Isso aconteceria daqui a mais de cem anos, tempo suficiente para reviravoltas tão surpreendentes quanto se queira. Mas tenta fazê-lo, e aí se atrapalha, embora diga ter se baseado em pesquisa “realizada com o apoio de grandes conhecedores de Economia, Sociologia e História”. Infelizmente, deve ter ouvido as pessoas erradas.

A República Brasiliana anexou a Bolívia e a Argentina destruídas por guerras: com quem? Comprou o México, Uruguai e Cuba: de quem? O mais comprometedor é a descrição (capítulo 12) de como uma crise de embargos de carne bovina levou a uma guerra mundial por bois no pasto que, por sua vez, resultou no colapso das potências tradicionais e na ascensão do Sul. Entre outros lances esdrúxulos, os chineses, famintos por carne bovina, invadem a Índia para se apoderar de suas vacas sagradas. Teria graça numa ficção científica humorística à Douglas Adams, mas não é o caso.

Essa elucubração de meia dúzia de páginas poderia ser riscada com proveito: é irrelevante para o enredo e só prejudica sua credibilidade. Além de diluir em contra-sensos o impacto da ironia bem achada que dá início à digressão: um protagonista se surpreende ao encontrar gado no mundo virtual e lhe explicam que se trata de avatares de bois e vacas reais que, confinados em cubículos e alimentados com ração, vivem conectados a bucólicos pastos virtuais para se manterem tranquilos. Uma Matrix bovina.

Numa especulação mais consistente do ponto de vista político, seria também de se questionar se faria sentido existir uma só moeda, um só banco central, um só banco de dados global centralizado e um só Hipermundo (uma espécie de "Second Life" vitaminado, mas não tanto quanto seria de esperar de uma tecnologia do século 22). Faria sentido numa utopia pacífica ou numa ditadura global, mas num mundo de potências rivais? Mas o foco não é especulação política séria e a necessidade dramática justifica a licença poética: convém que os vilões tenham como assumir o controle do mundo de um só golpe.

Outro paradoxo é que, apesar do título, o romance diz pouco do Brasil. A maior parte da ação real se dá nos Estados Unidos (nesse futuro, desunidos) e no México e a cultura especificamente brasileira não desempenha nele nenhum papel importante. Curiosamente, o Brasil supostamente domina a América Latina, mas a maioria dos termos técnicos militares e de programação são castelhanos. É como se o romance, apesar de escrito por um brasileiro e ter como antagonistas um cartel de líderes e empresários norte-americanos e europeus que tentam tomar o poder mundial para si, visse o Sul dominante do século 22 através dos estereótipos do Norte do século 20 ou início do 21.

Não só o México do romance faz pensar em um cenário montado em estúdio de Hollywood, como o nosso próprio país, a ponto de contrariar as próprias premissas do romance. Um personagem é (entre outras coisas) guia de turistas na ilha do Cardoso, litoral de São Paulo. Pois fica de olho em um casal de bermudas e mocassins sem meias, “provavelmente gringos pela cor da pele rosada. Era de onde vinham as boas gorjetas”. Ora, mas não é a República Brasiliana que, nesse cenário, é a grande potência econômica, ante um hemisfério norte decadente e empobrecido?

A física também está longe de ter sido tão bem trabalhada e embasada quanto a programação. Em vez de especulações complicadas mas coerentes, temos neste aspecto fantasias apressadas. Literalmente: entre elas contam-se motocicletas que contornam caminhões e pedestres a 1.600 quilômetros por hora. Nada contra a fantasia em si, mas seria o caso de explicar como se lida com forças-G proporcionais ao quadrado da velocidade. Ou as estradas teriam de ser absolutamente retas e sem obstáculos, ou os motociclistas perderiam a consciência na primeira manobra. Para não falar do pobre coitado na garupa.

No campo do hardware, pode-se encontrar até mesmo tecnobaboseira legítima, para Spock nenhum botar defeito – felizmente, poucas vezes. Como neste exemplo da página 231: “a energia nuclear das baterias era conduzida por uma centena de microdutos periféricos, que movimentavam os elétrons e faziam a conversão da energia dentro de um compartimento das baterias, retornando por um tubo central até o servidor acoplado”. Se o leitor não entendeu, está de parabéns: desta vez, realmente não tem nexo.

Todas essas ressalvas não devem fazer perder de vista que o romance é na maior parte bom, como especulação e como entretenimento. Se fosse podado de alguns excessos, incoerências e elucubrações desnecessárias, ficaria melhor. Se também descobrisse como não abusar do jargão e encontrar a linguagem certa para transmitir ao leitor leigo suas especulações sobre o futuro dos universos virtuais, seria o grande marco do cyberpunk brasileiro. Este resenhista não se candidata a ensinar o padre-nosso ao vigário, mas a façanha não deve ser impossível se um Richard Dawkins consegue explicar questões de ponta em biologia ao leigo e Stephen Hawking faz o mesmo em física quântica e relativística, com relativa simplicidade.

Faltou também uma revisão mais cuidadosa. A maior parte da prosa é fluida e inteligente, o autor sabe usar um vocabulário rico e complexo e fugir dos clichês e do excesso de adjetivos, mas sobraram algumas frases desajeitadas e alguns erros ortográficos (o mais comum é trocar “há” ou “à” por “a”). Por fim, alguém devia ensinar o autor, ou ao menos a seu personagem, a preparar corretamente uma "michelada" mexicana. Vale a pena.
Ramiro Catelan 20/08/2010minha estante
Muito boa, a resenha! Antes eu tinha me decidido por não ler o livro. Agora não estou tão certo.


Vitor 08/11/2010minha estante
Ótima resenha! Por acaso é o primeiro ou um dos primeiros livros de cyberpunk no Brasil? Não contando as antologias de contos, claro...


kalb 14/08/2011minha estante
Ótima resenha. Mas eu não concordo com varias especulações tecnológicas do autor.
Exemplo: Ele diz que quando alguém "morre" no Hipermundo é seu código que é destruído. Pensando em programação não é bem assim, seria eliminar uma instancia de variável/estrutura/objeto não uma interação com o código.
Também não concordo com o fato de que a pessoa que tem um bom processamento ou uma boa banda de internet tem o avatar mais bem desenhado. O que faria sentido pra mim é: quem tem o melhor processamento veria as coisas, o mundo completo, melhor e com mais detalhes. Quem tem o pior processamento veria as coisas com poucos detalhes.




JotaFF 12/08/2010

O gênero Cyberpunk surgiu em meados dos anos 80 quando os computadores pessoais se proliferavam, o capitalismo avançava feliz e sorridente e o consumismo se instalava como a nova divindade. As maiores características dessa literatura são a grande integração entre a as pessoas e a tecnologia que estaria acessível a qualquer um que pagasse o suficiente e uma sociedade utópica/distópica onde o conceito de estado nacional estaria diluído nos interesses e investimentos de conglomerados privados.

É fácil entender como o gênero hoje esta mais em baixa, dando espaço para o surgimento do Steampunk, Sandalpunk e outros derivados. Afinal, hoje em dia qualquer um tem celular com câmera e acesso a internet. Redes sociais ligando as pessoas ao redor do globo, e crises climáticas, econômicas e políticas pipocando a toda hora em algum lugar, aumentam o desejo dos leitores por uma época mais "simples".

"Cyber Brasiliana" de Richard Diegues não é uma obra despretensiosa. No posfácio o autor declara o desejo para que a obra se torne uma referência a leitores não acostumados ao gênero, preparando o terreno para novos lançamentos e convidando outros escritores para o desafio. Dentro dessa proposta, Richard Diegues conseguiu criar um universo cativo e bem desenvolvido, demonstrando o seu conhecimento na área computacional.

A trama se passa em 2116. Os velhos impérios caíram dando espaço para que os emergentes assumissem o controle político da humanidade. Grande parte da narrativa se passa dentro do Hipermundo, uma versão ultra avançada da internet sendo, nas palavras do próprioo autor, " como o que o Second Life gostaria de ser quando crescesse muito, e tivesse alguma função que não o mero entretenimento e perda de tempo". Todos os elementos comuns estão presente: a alta tecnologia de fácil acesso, o consumismo, a relação utopia/distopia.

Todas as personagens são apresentadas de forma a nos dar maiores entendimentos sobre a sociedade e sua organização. Kamal Brandão, o Pistoleiro, nos da a forma em que as guerras e os soldados eram moldados. Sa-Id o biocientista, Zi Lin a programadora e Cin-D a motoqueira/mercenária/prostituta/garçonete cada um nos mostrando uma faceta do mundo. Serguey Rajaram, o vilão com desejos de virar um deus dentro do Hipermundo. 5.i-cent o jovem super hacker.

Fica claro que o objetivo do autor era o de apresentar personagens clichês desenvolvendo-os em sua profundidade, criando laços com o leitor. Algumas arbitrariedades que incomodam como o surgimento de Cin-D na trama, e seu breve relacionamento com Sa-Id. A chegada até Santa Guadalupe, uma inteligência artificial que usa um inusitado sistema de rede, é interessante mas levanta algumas questões que não chegam a atrapalhar. Kamal também toma certas atitudes um tanto mecânicas, mas o intuito é dar seguimento com a ação e funciona. Arjuna, um dos criadores do Hipermundo, fica com uma participação apagada quebrando um pouco a expectativa de sua aparição.

O visual é bem descrito ao longo da história. É impossível não visualizarmos as ruas de São Paulo conforme é descrito no capítulo que abre o livro, ou a mega motocicleta de Cin-D. Os nomes dos personagens são interessantes e caçadores de Easter Eggs vão se divertir com as inúmeras referências espalhadas desde a mais sutis até os assumidos no posfácio.

As influências da mitologia hindu são bem aplicadas. A questão tecnologia versus religião, levantada na apresentação do livro, é bem desenvolvida até certo ponto, mas fica um tanto superficial. O clímax funciona mas deixou a sensação de algo faltando. Fica o desejo por mais histórias dentro do universo.

"Cyber Brasiliana" é um bom representante da literatura cyberpunk nacional e um dos lançamentos de 2010.

(postado também em http://tocajota.blogspot.com)
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