Luccal1 10/12/2023
Esse livro foi uma jornada incrível. Aprendi sobre mim mesmo ao ler a história dela e a jornada cientificista dela. Tentar entender o amor e o casamento pela pesquisa foi incrível e genial. Me senti visto por ser meio que nem ela, por questionar, por querer entender. Me senti visto por entender por meio da literatura que eu não preciso ser completo e que a existência é um trabalho gratificante mas eterno, relacionamento não resolve só intensifica então pra que a pressa? Chei que vou achar alguem mas cansei de correr.
Nunca ensinaram a minha amiga, a avó hmong, a esperar que a tarefa do marido fosse torná-la felicíssima. Aliás, nunca a ensinaram a esperar que a sua tarefa na terra fosse ser felicissima. Como nunca alimentou essa expectativa, ela não colheu nenhum desencanto específico com o casamento. O casamento cumpriu o seu papel, realizou a tarefa social necessária, tornou-se meramente o que era, e isso era bom. Ao contrário, a mim sempre me ensinaram que a busca da felicidade era o meu direito de nascença natural (e até nacional). A marca registrada emocional da minha cultura é a busca da felicidade. E não é qualquer tipo de felicidade, mas sim uma felicidade profunda, até mesmo exorbitante. E o que poderia nos trazer felicidade mais exorbitante do que o amor romântico?
Como a maioria dos seres humanos, depois de me mostrarem opções vou sempre preferir ter escolha na vida: escolhas expressivas, individualistas, inescrutáveis e indefensáveis, às vezes talvez arriscadas... mas todas minhas.
O problema, falando simplesmente, é que não podemos escolher tudo ao mesmo tempo. Assim, corremos o risco de ficar paralisados pela indecisão, com um pavor terrível de que cada escolha esteja errada.
Num mundo de possibilidades tão abundantes, muitos de nós simplesmente brocham de indecisão. Ou então a jornada da vida sai dos trilhos várias vezes, e voltamos para experimentar as portas que deixamos de lado na primeira rodada, desesperados para acertar agora. Ou nos tornamos comparadores compulsivos, sempre medindo a nossa vida em comparação com a dos outros, achando no fundo que deveriamos ter seguido aquele caminho que eles escolheram.
Como é muito difícil ter certeza, as decisões de todos se transformam em acusações as decisões de todos, e como não há mais modelo universal do que é "um bom homem" ou "uma boa mulher", quase se tem de conquistar uma medalha pessoal de mérito em navegação e orientação emocional para achar o caminho pela vida.
Todas essas escolhas e todo esse anseio podem criar um tipo esquisito de assombração na vida, como se os fantasmas de todas as outras possibilidades não escolhidas ficassem para sempre num mundo de sombras à nossa volta, perguntando sem parar: "Tem certeza de que era isso mesmo que você queria?
casamento vira trabalho duro quando despejamos todas as expectativas de felicidade da vida nas mãos de uma mera pessoa.
Manter isso funcionando é trabalho duro"Eu pedi tão pouco!", não parava de dizer, como se bastassem as exigências diminutas para protegê-la de decepções. Mas acho que ela se enganava; na verdade, pediu muito. Ousara pedir felicidade e ousara esperar que a felicidade viesse do casamento. Isso é tanto que é impossível pedir mais.
Quando nos apaixonamos por alguém, na verdade não estamos olhando aquela pessoa; só ficamos cativados pelo nosso próprio reflexo, inebriados por um sonho de completude que projetamos em alguém praticamente estranho
O que é o casamento, afinal, se não um modo de obter o extase supremo?
Assim que queremos alguém queremos de verdade, é como se pegássemos uma agulha cirúrgica e suturássemos a nossa felicidade na pele desse alguém, de modo que toda separação provoca um ferimento dilacerante. A única coisa que sabemos é que temos de obter o objeto de desejo pelo meio que for necessário e depois nunca mais nos separar dele. Só conseguimos pensar no ser amado. Perdidos nessa urgência primitiva, não nos possuímos mais por inteiro. Viramos servos cativos dos nossos anseios
A sedução trabalha em tempo integral como criada do desejo: tudo o que faz é iludir - essa é a sua verdadeira tarefa
a depressão foi um amigo enviado para salvá-lo das alturas exageradas da falsa euforia que vinha fabricando desde sempre A depressão o empurrou de volta à terra, de volta a um nível onde finalmente seria seguro andar e se manter na realidade.
Todo mundo consegue amar as partes maravilhosas do outro. Mas isso não é ser esperto. O truque esperto é o seguinte: dá para aceitar os defeitos?
Talvez criar um espaço dentro da consciência grande o bas tante para guardar e aceitar as contradições de alguém, e até as suas idiotices, seja um tipo de ato divino.
Talvez a transcendencia não se encontre só nos picos solitários das montanhas ou nos ambientes monásticos, mas também na mesa da cozinha, na aceitação cotidiana dos defeitos mais cansativos e irritantes do parceiro.
Quando temos um mínimo de capacidade de reflexão, nos esforçamos muito para manter sob controle esses aspectos mais arriscados da nossa natureza, mas eles não somem.
No fim das contas, parece que o perdão talvez seja o único antídoto realista que o amor nos oferece para combater as decepções inevitáveis da intimidade.
Não vamos perder tempo com os erros do passado, querida. É melhor nos concentrarmos nos erros do futuro"
nem por que eu mesma herdei dose tão grande desse impulso, do impulso de sempre cuidar e remendar, de tecer redes complexas para cuidar dos outros, até mesmo em detrimento de mim mesma
Ninguém sabe! Isso é que é maravilhoso em ser brasileiro. Não significa nada! Por isso, dá para usar a brasilidade como desculpa para viver a vida como a gente quer. Na verdade, é uma estratégia brilhante. Ela me levou longe.
Pode ter sido uma experiência confusa e mal- ajambrada, mas não é por isso que eu não deveria ir. Às vezes, a vida é confusa e mal-ajambrada. Fazemos o possível. Nem sempre damos o passo certo.
Não paramos de pular daqui para lá como bolas de pingue-pongue entre duas visões rivais do amor. A nossa visão hebraica (ou biblica/ moral) do amor se baseia na devoção a Deus, que é a submissão diante de um credo sacrossanto, e acreditamos nisso plenamente. A nossa visão grega (ou ética/filosófica) do amor se baseia na devoção à natureza, que trata de investigação, beleza e um profundo respeito à expressão pessoal.
Por que não começa a pensar como brasileira? Como? Escolhendo o que você quer! Esse é o jeitinho brasileiro, não é? Pegamos as ideias de todo mundo emprestadas, misturamos tudo e depois, com isso, criamos algo novo.
Continuamos simplesmente a tentar, sem parar, por mais insensato que fosse, recriar o ser de duas cabeças e oito membros da união humana perfeita de Aristófanes.
Ansiamos pela intimidade privada mesmo que seja um risco emocional. Ansiamos pela intimidade privada mesmo que a detestemos. Ansiamos pela intimidade privada mesmo que seja ilegal amar quem amamos. Ansiamos pela intimidade privada mesmo quando nos dizem que deveríamos ansiar por outra coisa, algo melhor, algo mais nobre. E não paramos de ansiar pela intimidade privada, e por razões só nossas e profundamente pessoais. Ninguém jamais conseguiu ex-plicar esse mistério inteiramente e ninguém jamais conseguiu nos impedir de querer.
Portanto, não somos nós, como indivíduos, que devemos nos curvar com desconforto à instituição do casamento; em vez disso, é a instituição do casamento que tem de se curvar com desconforto diante de nós. Afinal, "eles" (os poderes constituidos) nunca conse- guiram impedir totalmente que "nós" (duas pessoas) interligasse- mos a nossa vida e criássemos um mundo secreto só nossoo casamento é um jogo. Eles (os ansiosos e poderosos) dão as regras. Nós (os co- muns e subversivos) nos curvamos obedientes a essas regras. E ai vamos para casa e fazemos o que queremos de qualquer jeito.
No dia do casamento da minha amiga Jean, há trinta anos,
ela perguntou à mãe:
- Todas as noivas se sentem assim tão apavoradas quando estão prestes a se casar?
E a mãe respondeu, enquanto abotoava calmamente o vestido branco da filha:
-Não, querida. Só as que pensam.