Isa 17/03/2021Horas da minha vida que nunca recuperareiEis a minha resenha para A Court of Silver Flames, e para facilitar a minha vida e a de quem pretende ler essa resenha, separarei esse texto em tópicos e sub-tópicos.
1) Coisas que gostei: gostei das cenas de sexo. Acredito que a SJM escreve erótica muito bem, e que ela deveria focar apenas nisso nos próximos livros, pois aparentemente é a única coisa que ela sabe escrever. Nada contra autores de erótica - eu mesma escrevo fanfics nesse gênero. Mas é bem claro que esse é o único ponto forte na escrita da SJM.
Fim das coisas que eu gostei nesse livro.
2) Coisas que não gostei nesse livro:
2.1) Abuso sexual e estupro: eu não cheguei a ser avisada sobre esses gatilhos, mas tudo bem, já que eles geralmente não me fazem sentir mal. No entanto, as cenas de ameaça de estupro/menção a estupro e/ou violência física à uma mulher são tantas e tão detalhadas que eu me pergunto como alguém que realmente passou por isso deve se sentir enquanto lê esse livro. Agora, não estou dizendo que estupro e violência sexual não devem ser abordados na literatura - uma das minhas personagens literárias favoritas, Inej Ghafa, é uma sobrevivente de estupro. O ponto aqui é que, nesse livro, todos esses assuntos delicados são abordados da maneira mais irresponsável possível, servindo apenas ao propósito de ser conveniente para o plot. Todos os vilões masculinos do livro, sejam eles high fae, guerreiros illyrianos ou monstros humanóides milenares - todos eles querem possuir a Nestha à força. A maior parte das personagens femininas com quem a Nestha convive sofreram violência sexual, ou física nas mãos de um homem. Toda vez que a Nestha olha para as sacerdotisas na biblioteca, tudo que ela consegue pensar é "coitadas, elas foram abusadas", ou pior, "se ELAS que foram estupradas conseguem ser fortes, eu também consigo". Como se o estupro de outras mulheres servisse apenas para motivar a protagonista - as outras personagens são tão mal desenvolvidas que o leitor simplesmente aceita que elas estão ali pra isso. E por fim, ainda nesse assunto, chegamos à parte que mais me incomodou no livro inteiro: quando a Gwyn conta sua história. Para não dar spoilers desnecessários, apenas saibam que a cena é a seguinte: Nestha e suas 2 amigas estão perante uma situação difícil, mas elas não precisam continuar. Elas poderiam parar ali, mas uma das amigas, a Gwyn, insiste que quer continuar, mesmo machucada. E, para motivar suas amigas, Gwyn conta a história de como foi estuprada no passado, em detalhes. É uma história muito violenta e gráfica. Nunca na minha vida eu me senti tão enjoada lendo uma cena de estupro, porque eu sei que ela foi INÚTIL. Não havia necessidade nenhuma para o plot detalhar o estupro dela ali, mas a SJM quis escrevê-lo por conveniência, por ser uma escritora imatura, preguiçosa e sem noção, por achar que ser sobrevivente a estupro é empoderamento feminino girlboss vibes. Por conta dessa cena, eu decidi que nunca mais lerei nada que essa mulher escreve - queria ler Crescent City, mas desisti completamente.
2.2) World building: não me entendam mal, eu não sou leitora chata que fica cobrando universo impecável em todos os livros de fantasia que leio, mas em ACOTAR, é tão confuso e incompleto que fica impossível entrar de verdade na leitura. Eu já havia percebido isso nos outros livros, mas nesse isso fica ainda mais claro. Quem me segue no twitter sabe que eu vivo brincando que ninguém realmente sabe qual período histórico inspira os livros da SJM, e por isso nas fanarts as personagens estão sempre usando roupas historicamente ambíguas. Nesse livro, há uma cena em que a Nestha diz que a Feyre está usando moletom e leggings, e eu tive que rir. Parece que esse livro não passa por nenhum tipo de proofreading, vai direto do Google Docs da autora pra gráfica, pq não é possível.
Existem momentos em que a autora tenta dar ao leitor uma sensação de aprofundamento no universo, como quando o Cassian faz um ou outro comentário sobre a história de Illyria, mas eles são tão rasos e escassos que não nos esclarece nada.
2.3) a suposta depressão da Nestha. Ainda linkando ao assunto acima: a autora se perde no próprio universo ao adicionar conceitos ultra modernos ao livro. O Cassian dá uma aula de nutrição e até comenta sobre os efeitos do ácido lático nos músculos, sendo que mais pro final a gente aprende que nesse universo, nem cesarianas existem ainda; enfim. Uma coisa que me fez rir bastante foi o fato de que tudo que a Nestha faz pra se curar da depressão são eventos modernos aplicados a um universo de fantasia. É como se a Sarah J. Maas tivesse pesquisado "como curar depressão" no Google e pensado: "ok. Academia? Check. Meditação? Check. Caminhada pela natureza? Check." SÉRIOOOOOOO
Ademais, o fato de que todas as recaídas da Nestha foram feitas APENAS para ser conveniente ao plot, e não pra demonstrar que pessoas em processo de recuperação às vezes têm recaídas, me incomodou profundamente. Todas as suas recaídas eram seguidas de algum acontecimento que era importante para o arco da vilã, ou então ela afastava alguém da família e isso servia de escadinha pra eles terem uma reconciliação mixuruca páginas depois, ou acabava em sexo raivoso com o Cassian. Geralmente a última opção. Com frequência. Enfim, eu acho que se a Sarah J. Maas queria que a Nestha fosse uma personagem crível que sofre de depressão, ela deveria ter pesquisado mais, conversado com um profissional, ou algo assim. Foi uma "representatividade" bem porca.
2.4) A construção dos personagens em si: eu já percebi que a SJM, além de não se importar o suficiente com o próprio trabalho para realmente conhecer os próprios personagens, tirar um tempo para entender como eles funcionam, quais suas motivações, persoalidades e etc, tem a mania de transformar a personalidade de seus personagens de um livro pro outro. Ademais, ela esquece tanto de desenvolvê-los, que eles fazem coisas que não fazem sentido nenhum - o Cassian, que é supostamente um general super foda, vive cometendo erros estratégicos. A Nestha, que leu meio livro de teoria de guerra, sai falando durante as reuniões as opiniões impecáveis dela e todo mundo fica uau, realmente, faz todo sentido. NÃO FAZ SENTIDOOOOO.
Eu sempre soube que a Nestha era um personagem que, durante ACOTAR, teve uma única função: ser a irmã malvada da protagonista. No entanto, por alguma razão, ela virou fan favorite, e a SJM $e $entiu na obrigação de criar mais dimensão pra ela, uma backstory, mas simplesmente... não colou. O livro todo ficamos sem entender pq ela tratava a Feyre tão mal no passado, e as desculpas que a autora dá são confusas, incompletas. O que eu quero dizer aqui: quando eu digo no twitter que a SJM escreve como uma autora de fanfic, eu não quero dizer que ela escreve mal. Eu não acho que autores de fanfic escrevam mal, eu mesma escrevo fanfic há anos. O que eu quero dizer com isso é que NADA que ela escreve têm profundidade, tudo é ultra raso. Em fanfics, isso ocorre porque o universo e os personagens já existem, o autor só precisa criar o plot - mas a SJM esquece que nesse universo, TUDO é original dela. Não tem como o leitor entender o que aconeteceu, o que vai acontecer, o pq disso acontecer, se a SJM não se aprofundar. Dito tudo isso:
2.5) o livro, em si, é chato. Monótono. Eterno. SJM cria diversos arcos pra diversos personagens mas não se aprofunda em nenhum, o que faz com que o leitor não crie interesse em nada. A vilã do livro é um porre. Tinham capítulos que eu pensei que não fossem acabar nunca, páginas e páginas de NADA. Um dos plots mais importantes é tão confuso e mal explicado que o leitor nem consegue criar interesse. Esse livro poderia ter metade do tamanho, e nada na história seria afetado.
Em suma, acredito que a SJM escreveu esse livro com o intuito de tirar dinheiro de fã, assim como ela fez com Corte de Neve e Estrelas. Se vc staneia essa mulher, eu te indicaria a tomar cuidado com ela, pq não acho que ela se importe muito com vc.
Eu realmente não sei mais o que escrever, minha mente está em frangalhos. Queria poder fazer uma análise com spoilers, analisando cada uma das decisões estapafúrdias da autora, mas decidi que não vou perder nem mais um minuto com essa obra. Paz.