Leticia 03/06/2021Todos os nossos amanhãsParece que serei eu a escrever a primeira resenha negativa sobre esse livro. Talvez estivesse com expectativas altas demais. Tenho certeza que se eu tivesse lido em outra época da minha vida eu teria gostado. No inicio eu estava gostando, estava empolgada com a ideia de um romance cristão de época que se passasse no Brasil de 1889.
Primeiro, achei a história muito dramática. Mais dramática que novela de época da Globo hahahaha. A mocinha deve uns dois minutos de sossego o livro inteiro. Às vezes eu tinha a impressão de que as coisas seriam mais fáceis de resolver e o autor complicava para dramatizar.
(Alerta de SPOILER!!!!)
Os personagens não conseguiram me convencer. Os quatro personagens maldosos na história tentam justificar suas maldades: D. Esmeralda, o amor de um homem mais inveja da irmã levou ela a sequestrar os sobrinhos, o medo da pobreza a levou a escravizar negros depois da abolição. André justifica seus maus tratos aos negros porque foi criado para isso. Pilar arma um roubo para os próprios pais porque não gostava da Bíblia, vende o noivo da irmã no dia do casamento para ser escravo – porque ela amava a irmã e só queria o seu bem e não queria que ela se casasse com um negro pobre – sabia que a irmã estava presa em cativeiro, levava suas refeições e não pediu ajuda para ela. Inácio, perdi até as contas das coisas que ele fez em nome do seu “amor” pela Helena, amarrou ela numa árvore no meio de uma tempestade, queimou a casa do seu noivo, a prendeu em cativeiro.
Não entendi porque ele fica tão obcecado em saber da história do Estevão no final e porque ele não contava logo já que era sua garantia de liberdade e ele mesmo não sabia quase nada dessa história.
Estevão me pareceu humano quando deu uns socos em Inácio e quando prendeu o feitor no tronco. Estranhei Helena não tentar impedi-lo de bater nele já que isso não seria muito cristão da parte dele. A Helena tinha uma fé inabalável, e ninguém consegue ser essa “Pollyana da fé”, em nenhum momento ela sente dúvidas ou questiona Deus, e essas coisas fazem parte do nosso amadurecimento na fé.
E o Estevão falando para o André se entregar a polícia e pagar pelos crimes que fez, porque ele não diz a mesma coisa para o Inácio que também cometeu crimes contra ele e sua noiva? (D. Esmeralda ter morrido no final foi uma saída fácil do autor para não lidar com seu crime).
Como todo esse dramalhão termina? “Em pizza”, perdoem-me a expressão, mas toda essa história de dor, sofrimento, traição e mentiras é resolvida quando os personagens presenciam um milagre. Todo mundo se perdoa lindamente, o que soa forçado e algo difícil de acontecer de verdade no mundo caído em que vivemos.
O livro termina com uma carta que Estevão escreveu para Helena, sério que depois de todo o sofrimento tanto dos protagonistas quanto meu não temos nem uma cena bonitinha de casamento no final?
Esse tipo de livro é exatamente o que temia quando eu ouvia o termo “romance cristão”, a propósito o nome de Deus não é nem citado, muito menos o de Jesus Cristo! Só o Livro Sagrado é citado. O autor podia ter aproveitado toda a maldade dos seus personagens para falar sobre a queda do homem e o plano de redenção de Deus por intermédio do seu filho MAS O NOME DE JESUS NÃO É SEQUER MENCIONADO.