Livros da Julie 16/04/2022Quando o luto e a dor se transformam em amor e reparação-----
"o ódio não é uma doença; é um vício. Uma vez que o coração recebe uma dose dessa droga, sempre desejará mais."
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"Não precisava pensar em me magoar nem perder partes do meu coração. (...) eu não tinha mais um coração que pudesse ser colocado em risco."
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"nunca saberíamos a batalha que os outros travavam até sentirmos na própria pele."
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"O luto era um filho da mãe imprevisível."
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"não podíamos racionalizar o amor. (...) O amor não era nosso para remediar ou forçar, para tirar algum sentido ou usar para esquecer de coisas que nem deveriam existir."
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"amor pode curar isso. (...) é melhor que o tempo, e melhor que a verdade. Ele pode encobrir coisas feias e destrancar coisas difíceis de abrir."
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O resto de mim foi a leitura coletiva oficial de março do Clube Literário FerAvellar (@clubeliterarioferavellar).
Seis meses após a morte de seu marido e querendo mudar de ares, Layla Carter comprou uma fazenda no Wyoming, onde ela e seus quatro filhos poderiam criar cavalos, animais que possuem grande poder terapêutico. Mesmo assim, ela ainda não tinha conseguido estabelecer uma rotina saudável nem dar a devida atenção às crianças. Mas agora, completado um pesado ano de luto, Layla achou que já estava mais do que na hora de seguir em frente e colocar sua vida nos trilhos.
Foi a chegada de Reid Harrison, o novo vizinho, porém, que acelerou o ritmo de sua recuperação. Ex-peão de rodeio, ele começou a dar aulas de equitação para os filhos de Layla e estabeleceu uma forte relação com eles, tornando-se fonte de apoio e confiança para toda a família. No entanto, Reid não falava muito de si e ninguém sabia que ele também lutava para deixar seu passado para trás. Quando Reid e Layla finalmente se deram conta de que tinham mais em comum do que imaginavam, já era tarde demais.
A história prende o leitor já nas primeiras páginas. O ambiente interiorano e doméstico, as dificuldades cotidianas que Layla enfrenta, as crianças tentando se virar por conta própria, tudo emociona e nos faz mergulhar na leitura para descobrir como os obstáculos serão superados.
Ashley aborda a triste e dolorosa temática do luto e é fácil simpatizar com a protagonista. Algumas reações podem até parecer exageradas, mas não sabemos se não agiríamos do mesmo modo ou até pior caso estivéssemos em seu lugar, lidando com a morte da pessoa amada.
Contudo, por maior que seja o sofrimento, eventualmente ele se atenua. A vida tem suas formas de se impor e de evitar ser desperdiçada. Ela exige o máximo de cada um de nós, e temos que honrar esse presente diário aproveitando tudo o que ela nos oferece.
Layla aprendeu que a vida ainda tem muito a proporcionar e que a morte é apenas um dos muitos percalços a serem vencidos ao longo do caminho. Ela percebeu que a presença sobrepuja a ausência e que, embora tenha vivido bons momentos no passado, precisa ter em vista o futuro e deixar mente e coração abertos para novas oportunidades.
Cada protagonista carrega em si a esperança de recomeço e de cura para o outro e assistir a esse processo tão particular é bem tocante. A atração entre o casal só não é imediata devido às delicadas circunstâncias, mas a consolidação de sentimentos mais profundos é tortuosa e instigante. A autora soube construir a evolução da relação de forma orgânica e crível, apesar de todas as flutuações de humor e dos altos e baixos de emoções que imperam ao longo da jornada.
Se há um personagem que personifica o padrão masculino para as mulheres, é o Reid. Nada de príncipes da Disney, mas sim homens que saibam cuidar de crianças e cativá-las como ninguém. Assim como Layla, somos completamente arrebatados e comovidos pelas grandes demonstrações de amor e carinho do protagonista, e seria impossível não se apaixonar por alguém como ele.
O mistério que envolve o passado de Reid, aliás, não é difícil de adivinhar, mas a dúvida em torno de como seria a revelação e suas consequências sustentou a tensão do enredo até o fim. O suspense foi o toque de mestre dado por Ashley a essa linda história de amor e redescoberta da felicidade, que cruzou dois destinos do jeito mais improvável. Como já diria Renato Russo, "E quem um dia irá dizer / que existe razão / nas coisa feitas pelo coração? / e quem irá dizer / que não existe razão?"
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