Rodrigo1001 30/12/2023
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra (Sem Spoilers)
Título: Irmão de Alma
Título original: Frère d'ame
Autor: David Diop
Editora: Nós
Número de páginas: 126
Irmão de Alma, do escritor franco-senegalês David Diop, venceu o International Booker Prize de 2021 e foi finalista do prestigioso prêmio Gouncourt, tendo levado também o Goncourt des Lycéens. Ambientado durante a Primeira Guerra Mundial, mostra o conflito pelo olhar de um soldado senegalês que vê seu melhor amigo ser morto, sofrendo as consequências psíquicas do trauma.
Em entrevista após a publicação do livro, David Diop disse que, "ao escrever Irmão de Alma, quis permitir ao leitor habitar a mente de um jovem africano, dar-lhe acesso direto à sua experiência de guerra. A escolha de uma narrativa de fluxo de consciência permitiu-me amplificar a voz interna deste jovem que, como todos os seus irmãos de armas africanos durante o período colonial francês, não tinha forma de se fazer ouvir".
Para mim, este livro é um grito visceral de um soldado que enlouquece em meio à brutalidade e à lama da guerra de trincheiras. Não me pareceu uma obra de protesto racial, mas antes um lamento sonoro contra as pressões capitalistas e desumanizantes que produzem uma guerra.
Lento e implacavelmente violento na primeira parte, a história assume uma nota pessoal mais interessante na segunda metade. A narrativa flui como se estivéssemos lendo a transcrição da mente de alguém, como se fôssemos meros expectadores. Nada ali é mutável pelos desejos do leitor.
Alerto, porém, que se você acha que deveria ler este livro simplesmente porque ele foi coroado com o Booker Prize, então você poderá ficar desapontado. Embora retrate tão bem a dura realidade da guerra, toda a história gira apenas em torno de alguns eventos relacionados com o protagonista principal e seu melhor amigo. Não há muita diversificação. É como se você estivesse com fome, mas só colocasse um pouquinho no prato para se alimentar.
No mais, com muitos termos e frases repetidas, não estranhe se você sentir uma leve irritação ao longo da leitura. Embora o tradutor tenha feito um ótimo trabalho, sinto que o autor exagerou nessas repetições que, por fim, cansaram mais do que qualquer outra coisa. É como dedilhar uma mesma tecla de um piano diversas vezes – já entendemos a nota, não é necessário estressá-la tanto.
De outro prisma, a impressão que tive é como se o conceito geral deste livro fosse algumas boas linhas de uma novela ou mesmo de um ensaio, e o autor tivesse que encontrar uma maneira de ampliá-lo. É um bom livro, mas mesmo sendo bastante curto, me pareceu longo demais, abordando os mesmos temas continuamente.
Tendo se revelado um livro unidimensional pra mim, a experiência de leitura não suplantou a expectativa de um livro tão premiado e consagrado. Fechei a última página crendo que as suas credenciais são, na verdade, um tanto quanto superestimadas. Ainda assim, recomendo este livro para qualquer pessoa que se interesse por livros de guerra e queira entender melhor sobre uma mente deturpada pelas misérias que ela causa.
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