rodrigueswlucas 19/12/2023
A autora introduz a obra explicando seu título: Ruptura. Afirma que, diante de uma situação totalmente sem precedentes, como foi a disseminação da covid-19, não é possível trabalhar com dogmas pré-estabelecidos.Teorias já concebidas não se enquadram e não servem para resolver um problema que nunca antes ocorreu na história da humanidade. Faz-se necessário pensar em soluções inéditas para um problema inédito.
Dentro do contexto da economia, que é uma área da ciência marcada pelo estudo de previsões do que pode ou não ocorrer diante de determinados cenários, a pandemia trouxe essa ruptura ao tornar descartável todos os dogmas dessa ciência social aplicada, obrigando seus expoentes a pensarem em novas soluções para a crise que se instaurou.
Desse modo, a autora propõe uma série de medidas econômicas que poderiam ser adotadas pelo governo brasileiro para melhor enfrentamento da crise como, por exemplo, a implementação da renda básica permanente para a população de baixa renda; a inversão da pirâmide tributária (mais tributos sobre renda e patrimônio e menos sobre produção e consumo); investimento público (para combater o risco de deflação, atrelado a inação do governo); sustentação do sistema bancário (pois são os maiores provedores de crédito para pequenas e médias empresas); abertura de linhas de crédito via BNDES; utilização do "quantitative easing" (compra de títulos pelo Bacen no mercado secundário); flexibilização do teto de gastos, abordado em uma entrevista, transcrita no capítulo 12, com a procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo, Élida Graziane, na qual foram discutidos assuntos como responsabilidade fiscal e segurança fiscal.
Destaca-se, ainda, a explicação muito interessante sobre bens públicos, como, por exemplo, saúde, segurança e conhecimento. Sobre eles é necessário que haja uma regulação do Estado em sua exploração, pois eles são não excludentes e não rivais, ou seja, não se pode discriminar os que podem ou não ter acesso a eles por mecanismo de preço e não precisam ser consumidos por uma pessoa de cada vez, pois todos podem se beneficiar deles. A proposta é uma atuação conjunta entre Estado e mercado para prover da melhor maneira os bens considerados públicos.
Fica bastante claro que as sugestões na esfera econômica são inteiramente voltadas para a proteção social, via investimento público, e para a preservação do máximo de vidas possível, permitindo que a crise seja enfrentada de maneira a priorizar a saúde, ou seja, utilizar as ferramentas que a economia disponibiliza para poder agir da melhor maneira possível colocando em primeiro lugar a vida do maior número de pessoas possível. Nas palavras da autora: "Não existe escolha entre saúde e economia. A saúde vem em primeiro lugar. A economia, em segundo. A vida é soberana. Portanto, as medidas sanitárias tem que ser tomadas e a economia tem que ser apoiada pelo governo federal. Passada a pandemia, haverá partes da economia que terão sofrido mais, e nós, economistas, teremos que ajudar a reconstruí-las."