Lucy 17/10/2023
Guia de Sobrevivência ao Pará
Em Rio em Chamas, Nana se foca muito em mostrar a cultura da terra de seu marido, deixando a história do casal em segundo plano. Maju e Zé não têm nenhuma conexão além da sexual, e a trama é completamente rasa. Gosto quando autores nacionais usam o nosso território para contar suas histórias, e a ideia de mostrar uma cultura da qual a maioria da população não tem muito conhecimento é interessante. Porém, era uma verborragia sobre seus costumes e história, o uso totalmente desmedido de expressões e gírias regionais, ao ponto de tornar a leitura morosa, desgastante, pobre e chata. Sem contar que muitas vezes é praticamente incompreensível. Como Diego disse, temos que andar com um dicionário para entendermos o que os personagens paraenses falam.
Falando em Diego, ele me representou muito nessa trama. Detestei a forma como a autora simplesmente transformou todos que não amavam o Pará e tudo relacionado a ele em babacas arrogantes e esnobes. Lili foi uma insuportável intransigente que discutia e fechava a cara toda vez que alguém falava um "ai" sobre a região. Ninguém é obrigado a gostar de nada, muito menos de ficar praticamente isolado em um local rodeado de mato, água escura, insetos, cobras ou de dormir em rede. Lili estava acostumada, pois nasceu lá. Não era frescura Aline temer ser ferroada por uma arraia ou dizer que não queria mais ser picada por nenhum mosquito. Quanto mais afastado, maiores as chances de se deparar com animais peçonhentos e letais. Ainda mais estando longe de qualquer atendimento médico. Ela se dispôs a conhecer, tinha todo direito de não amar a experiência como seus amigos. O lugar é precário, e tem gente que não vai gostar. Assim como alguns não gostariam do Rio de Janeiro e de suas músicas, por exemplo, e ninguém deve ser tratado como um monstro por isso. Maju chega a chamar Diego de preconceituoso e prepotente por apenas dizer que ali não era lugar para eles, mas, pouco depois, ela assume que nunca se "adaptaria a viver assim, por mais que estivesse amando cada momento". Hipocrisia que fala, não é?
Este não é o melhor livro da Nana. Ele é extremamente repetitivo, chato e longo. Com menos de meia dúzia de palavras, Maju estava ajoelhada cheirando os pentelhos enormes (e ela enfatiza muito o quão grandes são) de Zé. O tal do fetiche só está jogado para justificar estar nessa série, mas o foco mesmo é em mostrar o Pará. Só para se ter uma ideia, Zé, de mastro erguido e calça abaixada, quase deixa o sexo de lado para contar à Maju a história da castanheira, como ela era usada pelos índios e coisas do gênero que ninguém está interessado em ver em um livro hot. E não é por ser hot que significa que queremos ler um pornô. Como os dois só vivem pela atração que sentem um pelo outro, sem qualquer envolvimento emocional profundo, não consegui me interessar pelo casal. O que tornou o final bem desproporcional e estúpido. Não consigo imaginar nada além de Maju se arrependendo amargamente de ter aceitado a proposta de Zé, e em menos de 1 ano o tesão acabar e ambos se separarem sabendo que cometeram um enorme erro.