Julia Agnes | @pontoparagrafoo 04/10/2021It's alive!Pioneiro no gênero ficção científica e denominado um clássico do terror, Frankenstein ou, O Prometeu Moderno, teve sua primeira publicação em 1818, com nome e prefácio de Percy Shelley, marido de Mary Shelley. Em uma época que certas coisas não cabiam à uma mulher, escrever histórias com uma narrativa tão inovadora era uma delas. Entretanto, após sua segunda publicação, o livro passou a receber o nome de quem realmente o fez. Diversas histórias a mais contemplam o momento em que a autora criou seu Frankenstein, em especial, contando com a presença de renomes da literatura, como John Polidori, criador do primeiro vampiro aristocrata que se alimentava de sangue humano, tendo sido inspirado em Lorde Byron e logo após vindo inclusive a influenciar Bram Stoker em criar Drácula.
A importância em relatar estes fatos é grande, tendo em vista que além de ser a primeira e única entidade do tipo nos primórdios do horror, trata-se de tempos tão conservadores. Mary Shelley, como não era uma mulher convencional à sua época, por meio de conversas sobre ciência entre os cavalheiros na casa de Byron, cativou-se quando soube que o cientista Galvani descobrira como reproduzir o movimento do estimulo elétrico em animais dissecados para estudos - apesar de Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin, acabar sendo atribuído à descoberta da animação da matéria através da aplicação de corrente elétrica. Através de tal interesse, no ano de 1816 - o famoso Ano sem Verão - Shelley com apenas 18 anos iniciou seus escritos sobre o assunto e foi então onde tudo começou.
A narrativa em si tem um formato muito similar ao clássico Drácula que viria a nascer alguns anos depois, já que trata-se de um romance epistolar, ou seja, é contada por meio de cartas do narrador-protagonista, além de anacronismos muito bem realizados, sem perder o ritmo da leitura. Tudo se inicia com o vislumbre da criatura nas geleiras, e a partir deste ponto somos apresentados a como tudo foi se desenrolando para sua existência.
Além de diversas versões da mesma história, tendo sido modificadas pela própria autora, a obra conta com adaptações cinematográficas em que a aparência da criatura é esverdeada e com parafusos nas têmporas. Entretanto, suas características físicas são distintas das tradicionais associadas à sua imagem, já que o famoso Frankenstein na verdade é amarelado e com dentes proeminentes. Com o texto em sua integralidade, vemos que há aspectos intrigantes entre Victor e sua criação. Como muitos pensam, o criador nunca chamou deliberadamente o Prometeu de monstro, sempre se referindo como coisa, criatura e até aberração. Porém, além de tratar de sinônimos, seus atos subsequentes dão a entender que a criatura de fato seja.
Apesar do intuito em amedrontar, por ser uma história realizada através do experimento científico macabro, em diversos momentos temos empatia para com a criação de Victor, já que nos deparamos com os conflitos emocionais existentes no Prometeu, como o humano que de fato é, quando se vê à mercê da sociedade e com medo. Por conseguinte podemos vir a desprezar seu criador, já que Victor o menospreza, por conta da forma rudimentar pela qual foi feito. A figura de Victor Frankenstein passa de um gênio dedicado à um humano que agiu por meio de um impulso egoísta, já que fez a criatura por curiosidade e a seu bel prazer. Um dilema então é criado - quem de fato é o "monstro"?
Os detalhes presentes na obra são cativantes, pois apesar de serem um tanto quanto excêntricos, Mary Shelley consegue colocar um pouco de sentimentalismo em todo o horror ambientado para os fatos, além de toda a pesquisa envolta para fundamentar sem lacunas a criação de Frankenstein. Ainda, apesar de ser uma literatura do século XIX, é de pleno entendimento do leitor.
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