Nathani 11/08/2022InspiradorMary Shelley é uma de minhas autoras favoritas. Sempre fui fascinada pelo fato de uma menina de dezoito anos ter escrito um livro como Frankenstein em tão pouco tempo e sua influência ressoar até hoje, duzentos anos depois. Como se não bastasse, Mary foi filha de dois grandes autores, sendo sua mãe Mary Wollstonecraft a precursora de vários ideais que mais tarde seriam parte do feminismo. E, mais uma vez, como se não bastasse, foi casada com um dos grandes poetas Percy Shelley e amiga de Lord Byron e Coleridge (esse desde criança).
“Mulheres extraordinárias” é uma biografia dupla, intercalando capítulos da vida de Mary Wollstonecraft e Mary Shelley que podem ser lidos assim mesmo ou primeiro todos sobre uma e depois todos sobre a outra. Foi dessa última forma que li e gostei muito por poder acompanhar de forma cronológica. Suas vidas têm muito em comum, talvez a primeira forma de leitura evidencie ainda mais essas similaridades. Se antes Mary Shelley era uma de minhas favoritas agora posso dizer que Wollstonecraft se tornou uma de minhas inspirações também.
As duas foram mulheres muito à frente de seu tempo, tendo a coragem de sustentar aquilo em que acreditavam mesmo sendo renegadas e criticadas severamente apenas por serem quem eram. A morte precoce de Wollstonecraft não permitiu que ela e sua filha tivessem muito tempo juntas mas o amor entre elas persistiu até os últimos dias da vida de Mary Shelley, quando ao saber que em breve morreria ainda manteve a esperança de logo se unir à sua amada mãe. Durante toda a vida, Mary filha revisitou além do túmulo da mãe, seus escritos que foram a base de quem ela viria a ser.
Mary Wollstonecraft foi escritora e filósofa, lutou durante toda sua breve vida para que as mulheres tivessem acesso à educação assim como os homens e para que pudessem decidir o que fazer de suas próprias vidas. Infelizmente, mesmo depois de muitos anos após a sua morte, os escândalos de sua vida (que nada mais era que uma mulher que vivia da mesma forma que os homens da época) foram mais comentados do que seus livros.
Mary Shelley teve a infelicidade e o sofrimento de perder um filho por várias vezes em sua vida, assim como sua mãe não pode ter uma longa vida ao lado de suas filhas. As entradas em seu diário em que relatava seu medo ao ver mais um filho doente ou por estar em uma gravidez difícil são de cortar o coração. Ainda mais por estar sempre tão sozinha. Percy por inúmeras vezes abandonava Mary ao menor sinal de tristeza para encontrar parceiras felizes e que queriam ouvir o que ele tinha a dizer (poemas e barcos e amigos e trilhas).
Os homens que passaram pelas vidas de ambas as Marys foram extremamente decepcionantes e cruéis. Godwin, Percy, Byron e diversos que não me lembro agora em nenhum momento pareciam amá-las pelo que verdadeiramente eram. Godwin que no papel era contra o casamento e a favor da emancipação dos direitos das mulheres, primeiro com a esposa e depois com a filha, se mostrou o oposto daquilo que seus livros exaltavam. Após a morte de sua esposa, tentou vender uma imagem de uma Mary Wollstonecraft que nunca existiu ao mesmo tempo que escrevia sobre intimidades que mancharam ainda mais a reputação da autora por anos. Depois, se recusou terminantemente a aceitar a relação entre Mary e Percy Shelley: não queria ver ou responder cartas de sua filha que sofria com o rompimento abrupto com o pai enquanto ele pedia ajuda financeira para o genro.
É doloroso ler por tudo que passaram, as traições e abandonos que ambas sofreram em suas breves vidas. O apagamento que mesmo as pessoas que as amavam por vezes fizeram de suas verdadeiras personalidades. Não que elas tenham sido perfeitas, como nenhum de nós somos, mas foi inspirador ler sobre tudo que viveram e como foram corajosas em todos os momentos. É fascinante ler sobre a luta de ambas pela educação e igualdade entre os gêneros e como o amor nunca as deixou: o amor uma pela outra, o amor pela família mesmo com todos infortúnios, o amor pela escrita, o amor pela luta pelos direitos das mulheres e o amor e a esperança pelo mundo mesmo nos momentos mais sombrios. É uma biografia completa e essencial para qualquer um que admire as autoras ou apenas queira saber mais sobre como era a vida de uma mulher no século XIX.
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