Resenhas - Aventuras na História - nº 59

z..... 25/02/2020

Junho de 2008
Aproveitando o feriadão para adiantar minhas leituras na coleção Aventuras na História...

O que mais gostei nessa edição foram as notas históricas. Curiosidades que gosto de encontrar nas leituras, tipo:

"Moda da TV para as ruas" - sobre a influência das novelas na sociedade, destacando a questão da moda. Lembro de quase todos os exemplos citados, como os turbantes da Viúva Porcina (de 'Roque Santeiro,' 1985), usados por conta de um oba oba e não pela empatia e valorização consciente da cultura afro (como acontece hoje).
Também posso citar influência não mencionada... Não lembro a que personagem da novela 'Rainha da Sucata' se referia (possivelmente a protagonista vivida por Regina Duarte), mas em 1990 teve muito sucesso umas tais saias balonês.
A pior influência é a ideológica e as novelas tem sido palanque de cada barbaridade, que o povo aplaude com criticidade manipulada.
Na novela 'A dona do pedaço' por exemplo, exibida em 2019, vi muita gente falando da igreja, cheios de acusação sobre hipocrisia (por causa de duas personagens, em que uma era psicopata e a outra ambiciosa, também com algum tipo de psicopatia). Que critiquem e denunciem, existe corrupção sim entre os homens, mas a igreja não é isso, como a novela semeava que fundamentalmente era, em visão extremamente desajustada, clichê, onde o foco era de querer ridicularizar e menosprezar... Fiquei indignado porque os mesmos acusadores não tinham criticidade nenhuma em coisas igualmente sérias e decadentes, existindo até a apologia. É o caso da blogueira Vivi, que tinha uma questão de atitude libertária e aí foi transformada numa mulher objeto capacho de bandido, ao qual se aniquilou para agradar o machão matador, e o povo torcendo... Registre-se também a elevação do sujeito como herói popular, incluindo ação em que a polícia é reduzida a banditismo e punida... E justiça com as próprias mãos, só para o lado de lá, né! Não vi em Facebook e outras mídias, onde o povo gosta de linchar a igreja, nenhuma posição sobre isso... Ainda mais no contexto atual de crescente feminicídio e agressão à mulher e seus direitos...
É a influência da TV criando valores. Não estou aqui defendendo não criticidade contra a igreja, pois também critico tudo que vejo errado e assim deve ser para todo crime, onde existir, mas que o povo, na influência da TV, é manipulado para alienação e adesão a valores deprimentes.

"Comer com os olhos" - o ditado remete a cultura antiga, como dos romanos, em que existiam festejos em homenagens aos mortos com rituais de oferecimento de comida. O povo, em respeito, não podia consumi-la, só com os olhos... Eita! Essas coisas ainda existem...

"Vinho de cana e origem da cachaça" - a cachaça, segundo o texto, surgiu de bagaço e caldo de cana restantes na produção do açúcar nos engenhos antigos, onde eram despejados nos cochos dos animais e acabavam fermentando. Alguém em certo momento provou e a partir daí a cachaça começou a governar a vida de muitos...

"O Infográfico do navio Kasato Maru", que em 1908 trouxe imigrantes japoneses para o Brasil (mais de 700 pessoas). Fiquei com dúvida que o texto não esclareceu, essa é a primeira imigração japonesa para o país?

Não me empolguei com as reportagens de destaque, mas vou deixar algum registro...
"A saga do Santo Graal" - só faz mostrar o quanto existe avidez para a idolatria... Se importam tanto com o que chamam relíquias sagradas e se esquecem da principal figura do contexto, Jesus, reduzindo-o também a um ídolo em que até o que ensinou é manipulado para agradar todos os gostos, sem que exista qualquer compromisso, apenas bem-estar a bel prazer.

"Seu pecado amar demais" - sobre Mata Hari, que no imaginário do século 20 foi transformada na maior espiã do mundo. O texto destaca a sua vida como dançarina e cortesã, que seriam seus maiores destaques, mas a ação como espiã foi extremamente amadora e insignificante. Foi condenada a morte em 1917, na França, ao ser usada como bode expiatório para amenizar as derrotas francesas. Teriam visto nisso uma resposta ao contexto derrotista em que estavam, ao eliminarem "a maior espiã do mundo".
A reportagem destaca que o que incomodou foi sua posição libertária do conservadorismo vigente.

Gostei também da entrevista com o Zagallo. O ponto que pareceu-me de maior destaque foi o que falou sobre ter assumido a seleção brasileira de 1970 como técnico, no lugar de João Saldanha. O treinador anterior teria sido afastado por recusar interferência do presidente Médici, que queria a escalação de Dadá Maravilha. Segundo Zagallo, isso teria sido uma farsa (afinal, ele também seria colocado numa visão de pau mandado, né!). O texto não cita, mas acredito que a saída é relacionada ao posicionamento socialista do Saldanha, inviável para a conotação de propaganda política que o governo desejasse associar à seleção.... Zagallo disse que nunca aceitou interferências, tanto que o Dadá foi banco na seleção canarinho.

Ah, Páginas Amarelas voltou, mostrando uma entrevista com Evita Péron. O tom é de humor caricato, destacando a famosa primeira-dama como pessoa sempre disposta a discursos políticos inflamados...