Olivier.Louhenhart 02/03/2022
Vive L'Empereur des français
Napoleão Bonaparte, coroado Napoleão I, imperador dos franceses (não confunda com imperador "da França"), é o segundo personagem histórico mais famoso da história - atrás apenas de Jesus Cristo - e com mais livros dedicados a ele que número de dias após sua morte.
Surgiu de uma ilha de uma família pouco relevante, Por seu méritos alcançou a coroa imperial francesa e conquistou a Europa, e por seus erros foi destronado e exilado.
Foi o general de algumas das mais brilhantes campanhas militares da todos os tempos e o general com maior número de batalhas vencidas registradas na história e também o autor do maior desastre militar que já aconteceu. Conquistou e foi conquistado.
Foi contemporâneo de uma das maiores e mais radicais polarizações políticas e sociais da história, a Revolução Francesa. Conseguiu reunir e um país em crise, acalmar os ânimos, medos e terrores do caos político francês e estruturou um novo um sólido e eficiente Estado, condenado por ele mesmo. General genial, Estadista memorável, administrador brilhante, diplomata limitado, político inconstante. Em seu governo alcançou liberdade econômica, sexual e religiosa e ideais de meritocracia, justiça civil e social. Seu Código Napoleônico é vigente na França até os dias de hoje e o principal espelho legalista do mundo secularista. As principais personalidades políticas, intelectuais e artísticas de seu tempo orbitaram suas ambições e seu gênio.
Um Imperador amado pelo povo e odiado pelos outros principais monarcas da Europa de seu tempo. Era um general adorado pelo seus soldados, um líder que liderava e participava ativamente no fronte de batalha, distante da segurança e conforto da corte, compartilhando as privações das campanhas com seus homens. Não se escondia atrás de supostos "direitos" ou títulos, chegando uma vez a desafiar "Eis-me aqui seu Imperador. Matem-me se assim o desejarem".
Foi chamado de ogro corso e pequeno cabo. Foi imperador dos franceses, rei da Itália, primeiro-cônsul vitalício, protetor da confederação do reno. Inteligente e temperamental, inseguro e orgulhoso, dedicado e ambicioso, impetuoso e generoso. Controverso, Napoleão foi um grande homem, de grandes qualidades e também com imensos defeitos. É símbolo de um período e de algumas das mais sangrentas guerras da história e visto como "warmonger", apesar de nunca ter declarado uma guerra ofensiva. Foi o último líder político a ter plenos poderes políticos e militares aos moldes de Alexandre e César moldando uma era e um continente, construindo uma dramática lenda, um gigantesco, conflituoso e polêmico legado fruto de uma vida que foi uma verdadeira epopéia, passando pelos Alpes da Itália, areias do Egito e neve da Rússia, estabelecendo um mito épico. Mas o que atrás dessa lenda que alça visões tão apaixonantes e calorosas, entre prós e contras, é verdade e o que é apenas parte do imaginário? Napoleão foi um herói ou vilão? E principalmente, quem foi o homem por trás do mito?
Adam Zamoyoski se propõe a contar de forma imparcial e definitiva, a gloriosa e trágica história do homem além da lenda de Napoleão Bonaparte, nascido Napoleone Buonaparte, desde suas origens até seu fim, sem demonizar ou defender o personagem histórico ou seu mito.
Apesar da proposta de Zamoyoski ser de uma biografia imparcial, senti um leve viés negativo, com opiniões mais negativas e mais críticas do que elogios e defesas, apesar de implicitamente elogiar constatando lados e ações positivas, mas sem se aprofundar muito. Um exemplo é a Campanha da Itália onde Zamoyoski não chega a tratar com grande ênfase os feitos de Napoleão, mas posteriormente a trata como exemplo do auge militar Napoleônico.
As opiniões de Zamoyoski parecem tender a descreditar Napoleão. Discordo de concepções do autor, como a de que Napoleão não foi um gênio militar por exemplo, mas apesar disso, há alguma lógica por trás dessas opiniões. Em alguns casos sugere acusações muito graves sem evidências conclusivas ou pouco confiáveis, como sugere que ele estuprou uma amante - e que ele mesmo sugere que ela se apaixonou por Napoleão -.
Apesar disso, casos isolados não afetam o trabalho geral, que é uma biografia série, bem documentada, e em geral honesta, cuidadosa e responsável com suas fontes e evidências, humanizando o homem e seu contexto.
Adam também deixou um pouco de lado algumas outras personalidades, eventos, contextos e relações que poderia ter aprofundado, para entender melhor a época, as ações, o panorama, a influência, a situação as consequências e o legado do imperador francês. Apesar de achar um erro, entendo que é a biografia do homem, não do seu legado, carreira ou época.
A escrita do livro é fluída e particularmente prazerosa de se ler, fazendo a leitura de de várias páginas divertidas e não ser cansativo, chato ou arrastado, de uma forma clara, elucidativa e agradável. Um toque particularmente interessante é o nome atribuído a Napoleão em cada época, variar com os nomes que usou durante esse período.
Em geral, é uma biografia muito boa e eu recomendo. Um exemplo de trabalho acadêmico sério e o mais próximo de uma biografia definitiva, ainda que do homem e não do seu mito, de sua era e do marco que se tornou. Certamente irei reler com mais cuidado no futuro.
A edição é linda, bem editada, alguns poucos erros de tradução mas bem poucos. Capa dura e lombada especialmente bela com as cores da bandeira francesa, dão um grande destaque e um ar de biografia definitiva.