Andrea 21/01/2022O q dizer dessa autora q mal conheço e já considero pakas???Achei esse livro no twitter, sem querer, e me interessei de cara (afinal, aqui é team Hannibal, né, hahaha). Não lembro exatamente porque estavam falando dele, mas acho que era porque o ator Chris Pine foi fotografado com um pilha de livros e ele estava no meio. (Agora fico me perguntando: será que ele já leu? Será que gostou? Será que ele quer interpretar o Tejo???)
Mas bem, eu nunca tinha lido um livro que praticamente fechasse a cartela de bingo dos TW/CW!! (TW = trigger warning e CW = content warning, que em português, eu conheço como "aviso de gatilho", mas parece que tem uma polêmica por trás da expressão etc etc.) Acho que só não teve incesto, nem alusão, mas de resto, FALE QUALQUER COISA que deve ter aparecido:
- tortura*? check
- pedofilia e necrofilia? check
- depressão?? check
- assassinato*? check
- violência explícita? check
- estupro? check
- suicídio? check
- canibalismo? -chorrindo- check
* tanto de ser humano quanto de animais
A história basicamente se resume a: e se "o governo" não apenas permitisse e legalizasse coMO INCENTIVASSE O CONSUMO DE CARNE HUMANA (aka carne especial, porque falar "carne humana" não é good vibes). Mas não é qualquer carne especial, não, são "cabeças" criadas justamente para esse fim.
Um parênteses aqui: isso me lembrou de um texto que li uma vez, acho que era sobre racismo, e questionava como seria se dividíssemos o planeta com outra espécie de ser humano (acho que teve uma época que isso aconteceu, né?): será que os enxergaríamos como seres inferiores, como animais? (Ou o contrário: talvez NÓS fôssemos a ralé.)
E isso é exatamente o que acontece nesse livro: parece que a maioria das pessoas simplesmente aceitou como normal ter criadouro e abatedouro de humanos (que nem são de outra espécie), chegando ao ponto de se poder...
SPOILER
comprar uma cabeça e criá-la dentro de casa pra consumir aos poucos. Sim, eles vão arrancando pedaços das pessoas vivas e tem até tutoriais ensinando como.
FIM DO SPOILER
Isso também me lembra outro livro, A Estrada, que até tem todo um contexto de escassez e tal, mas quando você pára pra pensar, o ser humano é todo fodido da cabeça, né? Deixe-o solto, sem leis e punições, e ele se transforma (pra pior).
Acho que o que mais me pegou foi ler esse livro justamente quando estamos passando pela pandemia de covid-19. Antes, the old me leria e pensaria, "gente, esse tipo de coisa aconteceu na segunda guerra mundial [como se tivesse ocorrido há muito tempo], mas hoje estamos mais evoluídos e não aceitaríamos situações como essas"! Aí você corta pra 2022 e tem gente que acredita na terra plana e que toma remédio de verme pra vírus. Bateu muito perto da realidade pro meu gosto.
Não é uma história pros fracos de coração e estômago - inclusive, ele tem uma das cenas MAIS PAVOROSAS QUE EU JÁ LI/VI, que é o tour pelo abatedouro onde o personagem principal trabalha. Se com animais o processo já é horrível, com ser humano então... Definitivamente, este livro desbancou Quando os Adams Saíram de Férias do meu pódio de livro mais medonho da vida, e jogou Bloodchild, da Octavia E. Butler, pra uma honrada terceira posição.
Eu li a versão traduzida em inglês, pois mi español és muy ratatá, mas parece que a Darkside Books comprou os direitos e quero só ver o que ela vai fazer com esse livro. Vou preparar meu bolso, pois sei que acabarei relendo em português (deus me defenderay).
Um PS: eu achei o estilo de narrativa da autora muito interessante e diferente, porque é uma terceira pessoa meio misturada com primeira, mas não sei até onde a tradução influenciou nisso, se é que influenciou.