No Horizonte, a Terra

No Horizonte, a Terra Danielle Sousa




Resenhas - No Horizonte, a Terra


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Nara 06/10/2021

No horizonte, terra.
Assisti a live com a escritora Danielle, professora de História e é do Rio Grande do Norte.

A coletânea de 4 contos é o primeiro livro(de muitos espero rs) porque amei a escrita dela.

Me apaixonei por esse título-imagem: No horizonte, a terra.Vou falar dos contos prediletos.

O horizonte pode definir a extensão do campo visual, mas, também é o ponto onde "uma linha imaginária" figura o encontro entre terra e mar, unindo-os ao céu. E, aqui territórios fronteiriços traçam as linhas imaginárias de Baboquivari, para onde "À noite, no meio do frio, debruçado sobre si mesmo, Hermínio sonha" em atravessar o deserto do México rumo a América.

O destino que anseia será essa miragem em meio a paisagem árida, a fome e a sede proporcionadas pela travessia do deserto de Sonora.

Quote predileto: "O grupo se dispersa:alguns seguem à frente, outros vão se deixando ultrapassar.Vultos.O deserto medindo forças, se perdendo em dunas e pedras. Hermínio já ouviu falar em histórias de pessoas que perdem o juízo quando ficam à deriva no mar,por exemplo.A razão vai embora quando o mar é a única vista que se multiplica mil vezes diante dos olhos,nenhuma saída,nada além de azul.Então tenta se concentrar em uma música, em uma lembrança, qualquer lembrança porque, com ele, é o deserto que não para de se desdobrar.Ri sozinho." pg.21

Em Antônia, uma mãe envia correspondências para a filha.A mãe em solo argentino, vivendo na capital Buenos Aires, visita Recoleta e, traça relações entre as figuras por lá enterradas e a própria vida, o peso de suas escolhas.

A filha que, tenta através das cartas decifrar quem é essa mãe que não conhece, que não sente culpa por tê-la deixado.

Além das deliciosas descrições de Buenos Aires realizadas pela mãe, essa questão das tentativas de se comunicar via cartas, não mudou o fato de que ambas não conseguem se compreender. Fica sempre esse (re)ssentimento, no horizonte, essa fronteira que demarca essa terra que as separa e distancia.

"Antônia,

O cemitério emana cheiro de putrefação foi o que pensei na hora.Cheiro de morte antiga.De roupa puída.De mandeira de caixão.De terra revirada. Cheiro do que está por vir.Mas pensando agora, talvez tenha sido só o vinho.

Eu fiquei feliz, mesmo estando tão longe de você. Nesse dia dormi sozinha,chorosa e bêbada por tudo isso que escrevi acima, espero que sinta."

"Em algum momento, pensou ter visto arrependimento nas cartas, suirto, loucura, algo que indicasse um fim(...) pensou que seu pai faria uma campanha para trazer de volta a mãe da sua filha, que compraria passagens e iria até Buenos Aires pegar Augustina pelo braço e trazer,nem que fosse à força, aquela mulher indecifrável e dizer que era lá. Lá era a sua verdadeira casa." pg.40

AMEI as ilustrações, mas não encontrei o nome da artista! Fica apreciação das fotos! (No meu insta)
comentários(0)comente



Ivandro Menezes 15/01/2021

No horizonte, a finitude
Certa feita, alguém me disse que Caim teve sua oferenda rejeitada porque tinha os olhos na terra. Estava demasiado envolvido com a terra que revolvia para plantar. É esse olhar para o terreno, para o finito que o condena, que o marca e o sentencia a uma vida que perde em potência e ganha em medo, dor e amargura. De modo semelhante, os quatro contos de ?No horizonte, a terra?, bela estreia de Danielle Sousa, refletem sobre esse lugar entre a altivez da esperança e a vulnerabilidade de pés fincados no chão.

?Baboquivari?, conto que abre o livro, é sobre deslocamentos e esperança, que apesar de se passar na travessia do deserto do México rumo aos Estados Unidos, reflete algo de universal (poderia ser retirante saindo do sertão ou uma poderosa personificação de nossas ambições e buscas). O modo como usa a linguagem, constrói personagens e apresenta dilemas e a empatia dos que se veem no extremo entre morte e vida, fracasso e sucesso, ir adiante ou ir adiante é sincero, honesto e empático.

?Antônia? é de uma delicadeza incrível. A mãe circulando entre túmulos num cemitério em Buenos Aires, criando intinerários que a possam aproximar da filha que se viu obrigada a deixar para trás.

?História em seus Movimentos? tem um tom ácido, e movimentos tragicômicos, que não tiram a seriedade de um relacionamento abusivo, mas não lhe grava com a gravidade panfletária comum a muitos contos que narram essas relações. A delicadeza no modo de olhar da Vó, a melancolia do contraste entre um amor profundo e duradouro e o caos de violência, ciúme e sufocamento de uma casamento em ruínas traz luz ao conto e lhe confere potência e graça.

?Tire o L da Lira? é uma ode à Álvares Azevedo. Repleto de referência históricas (aqui aparece bem a historiadora) consegue de modo brilhante reconstruir com riqueza o período histórico, façanha notória, sobretudo, pelo espaço do conto. Os bacharéis de capas pretas do Largo do São Francisco, devassos representantes da Justiça, vendo-se diante dos domínios de Hades. Um belo modo de encerrar o livro dentro de uma capela onírica para encarar a sentença irremediável da finitude humana e da parcela de imortalidade que nos cabe.

Da aridez das fronteiras, a desolação dos cemitérios, a claustrofobia dos relacionamentos abusivos, ao esplendor da morte e o desejo da imortalidade, a morte ladeia, com elaborado sentimento escatológico, a existência humana, trazendo sentido e apontando direções de quem compreende, da escassez ao laissez-faire, que a existência humana cresce, toma sentido ou direção apenas diante da sua própria finitude.

Concordo com a Maria Valeria Rezende, que assina a orelha, é, de fato uma bela estreia.

P. S.: Vale destacar o cuidado e a beleza da edição e do projeto gráfico, não apenas a capa belíssima, como as ilustrações e cuidado da diagramação e revisão. O produto livro é de uma qualidade e zelo singulares.
comentários(0)comente



Élida Mercês 07/10/2020

Um livro composto por quatro contos sobre o que é ser humano, expressos de maneira tão intensa que é impossível largar antes do fim.
comentários(0)comente



Dandara 01/10/2020

No horizonte, a Terra
O primeiro livro de Danielle Sousa já chega nos encantando do início ao fim. São quatro contos de uma profundidade é escrita que nos tira o chão, deixando-nos em difícil situação ao ter que escolher o melhor.
Recomendo a leitura, a releitura, a rereleitura e assim sucessivamente.
comentários(0)comente



Tálison 26/09/2020

Um leitura marcante
A morte chega cedo pois breve é toda vida é a frase de Fernando Pessoa que abre o livro de estreia de Danielle Sousa, No horizonte, a terra, que tive a honra de conhecer e ler nos últimos dias. O livro é dividido em quatro contos e a morte está presente nessas narrativas de uma forma muito peculiar e poética.

Em Baboquivari, conto de abertura, conhecemos Hermínio e sua trajetória na travessia entre a fronteira do México e dos Estados Unidos, as dificuldades que ele encontra pelo caminho, as pessoas que conhece e as suas motivações de vida. Se juntasse dava mais de setenta pessoas, de todas as partes, brotando da escuridão do deserto. Hermínio mal pode acreditar que atravessavam crianças.

Em Antônia, conhecemos a intimidade de Augustina e Antônia, mãe e filha, que trocam cartas depois de anos distantes numa tentativa de reaproximação. Após abandonar à família, Augustina procura restabelecer essa relação com a filha por algum motivo que não fica totalmente claro, apesar de que pelo contexto de suas cartas é possível entender que ela tem poucos dias de vida.

Histórias em seis movimentos, Carol e Júlio vivem um relacionamento abusivo, Carol apanha de Júlio e precisa esconder as marcas da família. Enquanto Carol luta pelo divórcio, também ficamos sabendo que a avó de Júlio está prestes a morrer e reunindo pessoas para se despedir. Cruzando as histórias dessas pessoas, Danielle faz uma abordagem sobre fim de relacionamentos e de vida. (esse foi o conto que mais me tocou).

Por fim, em tire o l da lira, Danielle faz referência à Álvares de Azevedo e outros escritores ao contar, em segunda pessoa, sobre a morte de uma turma inteira de bacharéis em direito. Grandes alunos do São Francisco. Futuro brilhante como bacharéis da Justiça do país. Mal tinham feito 21 anos, todos mortos.

Amei a escrita e a estética do livro e já quero ler mais Danielle Sousa. Se você gosta de contos e dessa temática, indico muito o livro!
comentários(0)comente



5 encontrados | exibindo 1 a 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR