Garota, mulher, outras

Garota, mulher, outras Bernardine Evaristo




Resenhas - Garota, mulher e outras


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Bookster Pedro Pacifico 10/03/2024

Garota, mulher, outras - de Bernardine Evaristo
Mulheres com diferentes histórias e que compartilham a raça. São mulheres negras que enfrentam as mais diferentes dificuldades. De jovens a senhoras. Problemas de relacionamento, sexualidade, medos, saudades e decepções. Mas, por outro lado, também tem emoção e felicidades.

Em um romance extremamente atual, Bernardine Evaristo constrói capítulos que levam o nome de suas protagonistas. E, muitas vezes, de forma inesperada, essas vidas se conectam. O cenário é Londres e temas atuais como Brexit, relacionamentos não monogâmicos e gênero neutro revelam uma cidade que está na liderança dos movimentos. Mas o contraste entre gerações também não passa despercebido.

A autora é muito talentosa em suas palavras e se vale até de um estilo mais experimental: não há pontos finais nos parágrafos. O ritmo acelera e a vontade é conhecer qual nova protagonista Evaristo poderá criar. Aos poucos, você se acostuma e até se pergunta se aquele ponto final teria alguma utilidade maior

A inventividade e potência da autora lhe garantiu o Booker Prize de 2019. Bernardino me fez rir, me emocionar, sentir raiva e até estranhamento pelo que me é novo. A gente aprende com essas mulheres e termina com a vontade de mergulhar mais em suas vidas. Agora é conhecer mais da autora em suas outras obras.

Uma leitura excelente e que nos mostra como a literatura nos coloca diante das diferenças e é com esse contato que a gente aprende tanto. Leiam e não tenham medo do novo.

Nota 10/10

Para mais resenhas, acesse o @book.ster no Instagram.

Post: https://www.instagram.com/p/C4RP58wRO0_/
Site: https://booksterpp.com.br/
Jamile157 11/03/2024minha estante
Estou com ele aqui para ler, agora a vontade só aumentou. Vou ler logooo.




Ana Sá 04/01/2022

Aline Bei, Chimamanda e as outras de Bernardine Evaristo
?Nasce mais um clássico do século XXI escrito por uma mulher?, foi o que pensei ao fechar o livro! 

Se o cânone literário do passado é eurocêntrico, branco e heteronormativo, autoras como Bernardine Evaristo, ao lado de Chimamanda, Paulina Chiziane, e tantas outras, chegam com o pé na porta da literatura contemporânea para cravar suas unhas na historiografia literária mundial. No futuro, seus escritos serão, a meu ver, a melhor tradução daquilo que denominamos de ?início do século XXI?.

Eis minha aprendiz de resenha deste romance vencedor do Booker Prize 2019:

Em um dos meus históricos de leitura, eu afirmei: ?este livro é uma mistura de Aline Bei (na forma) e de Chimamanda (no conteúdo e nas ironias)?.

De fato, quem recentemente se aventurou pela escrita de Bei, sentirá uma imediata familiaridade com a ficção em versos de ?Garota, mulher, outras?, essa curiosa estratégia narrativa que reveste a prosa de uma cadência boa de ler. E se alguém mais, como eu, estiver com a leitura de "Americanah", de Chimamanda, fresca na cabeça, se lembrará dos risos que as caricaturas e ironias do nosso tempo, quando bem trabalhadas, podem provocar. Em comum, a escrita de Chimamanda e de Evaristo presta um testemunho poético do século XXI, sem recorrer a maniqueísmos nem simplificações, mas enfrentando todas as contradições identitárias e ideológicas que a contemporaneidade nos impõe. Raça, gênero, identidade (trans)nacional, tudo com um toque de maestria. Semelhante às ironias de Machado de Assis ao retratar a elite brasileira do passado, a literatura dessas mulheres ironiza nossos esforços de nos encaixarmos, de encenarmos, de nos encontrarmos e/ou de prestar reverência a certas condutas sociais, sem antes, ou depois, refletirmos sobre os significados das ideias que abraçamos.

Relacionamento abusivo lésbico. A mulher que deseja ser bela, recatada e do lar. O desejo sexual da mulher da terceira idade. O conservadorismo homossexual. Os grupos identitários que se confundem com seitas. O feminismo liberal. Os devaneios de uma bisavó que tem um@ net@ de gênero neutro. A representatividade na arte. A autoestima e o corpo racializado das mulheres. O não lugar das estrangeiras. Uma professora exausta? ?Garota, mulher, outras? abala as placas tectônicas do dito ?politicamente correto? sem deixar de lado a importância que essas questões (tão sensíveis) têm, sem tampouco se esquecer do respeito que esses temas merecem. Nesse livro, vemos a nós e às nossas, pessoas do século XXI, como uma caricatura de nós mesmas. 

As mulheres de Bernardine Evaristo me lembraram Grada Kilomba, quando esta diz que ?a mulher negra é sempre a mulher negra. a mulher branca é apenas mulher?. Lembrei-me disso justamente porque a obra consegue trazer mulheres racializadas em suas especificidades identitárias (tratando, por exemplo, do preconceito e da sexualização dirigidos ao corpo da mulher negra) ao mesmo tempo em que, naturalmente, e como deve ser, tais personagens se apresentam também a partir de seus traços universais, dado o complexo trabalho ético e estético desenvolvido em torno delas. Eu, você, todas nós podemos ver um pouco da mulher que somos em algumas dessas mulheres. Quando não, nos veremos desejando ter a oportunidade de nos tornamos amigas delas, nem que seja para dizer: ?amiga, socorro, você tá toda errada e cagada!?.

Difícil me despedir deste romance. Me apaguei. O livro, ambientado no Reino Unido, se organiza em 5 partes + Epílogo, cada parte trazendo a história de três mulheres que estabelecem, entre si, algum laço familiar, afetivo ou social. Mulheres de uma mesma geração, mulheres que frequentam a mesma escola ou ambiente de trabalho. A mesma narrativa contada sob prismas diferentes, desafiando nossa vontade de classificar o mundo entre ?certo? e ?errado?. E, sim, é uma narrativa com um final à altura!

Parafraseando a saudosa Marília Mendonça, este é daqueles livros que a gente fecha e pensa: ?você virou saudade aqui dentro de casa!?. Dominique, Shirley, Carole, Penelope e "outras" deixaram  mesmo saudades por aqui!

Obs. 1: este romance me fez lembrar também de "Insubmissas lágrimas de mulheres", da nossa Evaristo, a maravilhosa Conceição Evaristo!

Obs. 2: "Garota, mulher, outras" é o favorito de 2021 de muita gente que conheço; porém, aqui no Skoob, cheguei a cruzar com uma pessoa que acusava a escrita da autora de ser capacitista. Eu tentei dar atenção a essa questão durante a leitura, mas não percebi traços de capacitismo no romance, talvez por ignorância minha, talvez porque, de fato, não seja um aspecto que salte aos olhos ou que se faça presente de forma significativa. Não sei! Se você for a tal pessoa que fez essa crítica, comenta aqui para que a gente possa refletir junto! Eu, em particular, não notei nada nesse sentido.
Luciana 04/01/2022minha estante
Fiquei curiosíssima!!


Ana 05/01/2022minha estante
Sempre que eu olhava essa capa eu pensava que era teoria kkkkkk vou atras dele agora com essa resenha


Joao 05/01/2022minha estante
Ana, que resenha maravilhosa! Parabéns!


Julia Mendes 05/01/2022minha estante
Sigo adorando tudo que você escreve! ??


Paloma 05/01/2022minha estante
Que resenha incrível, Ana! Me deu ainda mais vontade de lê-lo


Dani 05/01/2022minha estante
Ana esse livro é tudo isso messssssmo!!! Maravilhoso
Acho q foi um dos meus preferidos de 2021 tbm


Ana Sá 05/01/2022minha estante
Eu me empolguei na resenha, então se vocês não gostarem do livro, podem voltar pra reclamar aqui no meu Procon!! ?


Ana Sá 05/01/2022minha estante
Ana, você mudou o olhar que eu tinha da capa!! ?

Dani, eu falo pra Kênia que vocês leem livros maravilhosos no clube de vocês!! Eu vou na esteira do skoob de vocês duas!!

Obrigada Paloma, Julia (que linda na foto) e João! Me animei pra escrever sobre o livro, fico feliz de vocês terem gostado!

Luciana e Paloma, voltem aqui pra me contar quando lerem!!!


Julia Mendes 06/01/2022minha estante
??


Pablo Paz 07/01/2022minha estante
Ana, tua resenha está à altura da obra. Feliz 2022!? ?


Ana Sá 07/01/2022minha estante
Pablo, feliz 2022!! ?


dani 08/01/2022minha estante
Amei a resenha! O título do livro me chamou a atenção e já coloquei na minha lista há um tempo. Agora fiquei com vontade de ler imediatamente.


MelQuezado 05/07/2022minha estante
Uau, que resenha.. tipo, uau


Ana Sá 05/07/2022minha estante
Obrigada, Melissa! ??




Lauraa Machado 16/06/2021

Um tesouro em forma de livro
Esse livro é de longe um dos melhores que eu já li. Antes de chegar na metade, já saí recomendando para todo mundo que conheço, já pensei em algumas pessoas para quem quero dar de presente e já tinha entrado para os meus favoritos. Não é um livro, é um tesouro, e eu ainda estou tentando entender como é possível que uma única pessoa tenha escrito essa história! É por autores assim, com essa capacidade de criar e desenvolver personagens tão diversos, essa de absorver e entregar tanta humanidade em algumas frases, em poucas páginas, que eu amo ler. São livros como esse que me provam que nada no mundo é melhor do que ler.

Eu realmente poderia parar minha resenha aqui, mas acho válido explicar um pouco mais sobre o livro, porque já percebi a tendência que existe de generalizar a sinopse, o que eu acho que acaba afastando leitores e fazendo-os acreditarem que o livro é bom demais para eles, inteligente e superior demais. Talvez esse seja, mas também acho que todo mundo deveria ler, então quero ajudar.

O livro é separado em cinco capítulos. Durante os quatro primeiros, a autora separa eles entre três personagens (na maioria mulher e negra) diferentes e conta um pouco de sua história, da história de sua família em verso livre. As personagens têm quase todas uma conexão entre si, ainda que só fique clara mais para o final, e são todas tão diversificadas, de tantos lugares, países e orientações diferentes, que aí é que está a verdadeira riqueza do livro. São tantas opiniões, vozes e atitudes, cada uma tão complexa e única, nem sempre boa ou ruim, que eu achei bem difícil escolher a mais importante, a mais impactante, a que mais me agradou. Realmente me senti lendo partes da vida de pessoas reais e não consigo ainda entender como que foi uma única escritora que criou todas elas!

Eu queria poder falar mais, mas acho que descobrir a história de cada uma e como elas se conectam é mais interessante sem outras informações. Mas queria dizer também que esse livro faz uma conexão entre gerações que chegam até os dias de hoje e tem uma revelação logo no final que me deixou inconformada, feliz e ainda mais intrigada! Além de ter outras nem tão boas, nem sempre certas e agradáveis, bem humanas e complexas mesmo.

Já falei que esse livro é excelente? Cheguei ao final com vontade de reler, de fazer um TCC sobre ele, de estudar e analisar cada personagem e depois fazer uma apresentação sobre elas. É do tipo de livro que me dá orgulho e gosto e que todo mundo deveria ler!
Chris 16/06/2021minha estante
Só 5 capítulos??? ?


Lauraa Machado 16/06/2021minha estante
São mais de 400 páginas, tá? É que cada capítulo é separado em mais três partes e cada parte é separada também por números




André Vedder 15/11/2021

ótima e necessária leitura.
Ótimo e necessário livro para os dias atuais, pois a autora aborda temas e assuntos urgentes em nossa sociedade, principalmente o racismo. Mas sua obra é muito mais que isso. A escritora nos brinda com uma narrativa cativante e fluída, numa prosa original, sem pontos finais, onde nos apresenta a diversas vozes que tratam sobre as mais variadas questões humanas, sobre tudo o respeito ao próximo. Uma leitura contemporânea obrigatória.

"A vida é uma aventura para se acolher com mente aberta e coração amoroso."

"...comigo você está em casa, porque a casa é uma pessoa e não um lugar."
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ElisaCazorla 05/08/2021

Caminhos da Terra, Caminhos do Sangue
Esse é o título da minha monografia para a conclusão do curso em Ciências Sociais. Não tem relação direta com as histórias que acompanhamos neste romance, mas de alguma forma, ao terminar este livro, foi essa a frase que me veio à mente. Os caminhos que trilhamos no chão, na terra, e os caminhos que o sangue percorre até correr em nossas veias. O quanto de cada uma dessas coisas faz parte da pessoa que somos? O quanto os caminhos da terra nos marcaram? O quanto de nós foi moldado pelos caminhos dos infinitos litros de sangue que se encontraram e se misturaram até se tornarem o meu sangue?
O livro é potente! Muitas são as discussões que ele levanta desde o ser mulher, racismo, feminismo, gênero (tema delicado), arte, ascensão social, ancestralidade e origem. Sangue e história. Histórias, melhor!
Não sabemos o quanto os nossos ancestrais, desconhecidos, distantes ou perdidos desempenham algum papel na nossa formação enquanto pessoa e nas decisões que tomamos, mas é inegável que recebemos respingos ou até mesmo cataratas de influência das histórias vividas por nossos ancestrais e, também, o sangue que herdamos de todos eles.
Os caminhos da terra e os caminhos do sangue percorridos por nossos antepassados têm importância em nosso desenvolvimento. Nossa origem pode ser usada como algo engrandecedor ou devastador.
Nossa história, essa que vivemos neste momento, as ações que tomamos e as decisões que são tomadas por nós afetarão, sem dúvida alguma, a história de alguém que eu não sei quem é e que talvez ainda nem tenha começado sua própria trajetória.
Ideia divertida, intrigante e assustadora.
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Mariana Dal Chico 06/03/2021

“Garota mulher, outras” de Bernardine Evaristo, foi vencedor do Booker Prize de 2019, publicado pela @companhiadasletras que me enviou um exemplar de cortesia.

O livro é dividido em 5 partes e conta a história de 12 personagens, a princípio achei que apenas as personagens de cada parte estavam relacionadas, mas ao final do livro o leitor é capaz de unir todas as peças e finalmente enxergar o grande quadro que não é possível ver quando se analisa apenas os detalhes.

Essa foi uma leitura intensa, vertiginosa, triste, mas com algumas risadas ao longo do caminho, já que algumas personagens são bem humoradas e sabem como se divertir em qualquer situação.

Você vai encontrar cenas de estupro, tortura psicológica, miséria, exploração, mas também de superação, esperança, força, sororidade, amor, amizade.

Dominique é a terceira a contar sua história e é uma das narrativas mais sufocantes que já experimentei na literatura, ainda que o cenário seja em uma fazenda com muito espaço e um ideal de liberdade, a sensação que as paredes da cabana vão se fechando cada vez mais é real.

Além de Dominique, outras histórias me marcaram como a de Amma, Carole, La Tisha, Megan/Morgan, Hattie - essa senhora de 93 anos ganhou me coração!

É interessante observar que a comida tem papel central em cada história, a tradutora da obra Camila von Holdefer, falou sobre isso em um texto no blog da @companhiadasletras

A perícia da autora em passear por tantas personalidades de idades e convicções diferentes é impressionante, seus versos livres sem pontos-finais me envolveram de uma forma que foi impossível largar a leitura antes de chegar à última página.

Leitura mais que recomendada, uma das melhores que fiz em 2020.

site: https://www.instagram.com/p/CJjpWQljOws/
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Pablo Paz 07/09/2021

Comprei pela capa e me surpreendi
Quando comprei esse livro, sabia nada dele, da autora, muito menos de que ganhou um prêmio importante na Grã-Bretanha. Quando uma capa me agrada, tenho esse hábito de não pesquisar sobre o livro para não desistir. E lê-lo foi uma surpresa! A história, caleidoscópica, gira em torno das questões afetivas e existenciais de um grupo de amigas londrinas, artistas de vanguarda e negras em sua maioria, e das pessoas que têm alguma importância em suas vidas. E a FORMA caleidoscópica como essa autora inglesa escreve é deliciosa. É prosa poética em forma de romance. Se você já leu o best-seller nacional chamado 'peso do pássaro morto' (esqueci o nome da autora) e gostou da FORMA, adorará este 'Garota, Mulher, Outras' ainda mais do que aquele.
Ana Sá 07/09/2021minha estante
Muita gente falando bem! Comprei há pouco... Estou curiosa!

Obs.: o livro é da Aline Bei rs


Pablo Paz 07/09/2021minha estante
Ah menina tu vais adorar. Aline Bei, isso mesmo ahahah.


Paloma 08/09/2021minha estante
Foi uma das melhores leituras de 2020. Perfeito!


Pablo Paz 08/09/2021minha estante
Pra mim também, Paloma ?




Victoria Vendemiatti 31/05/2021

Para nos lembrar de como somos fortes
O livro conta as histórias de doze mulheres que, de uma forma ou outra, estão interligadas.

A sensação que a obra me trouxe é de nós mulheres somos extremamente fortes, independente das nossas singularidades.

Terminei o livro com sensação de potência. Vale muito a pena ler!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/11/2020

Bernardine Evaristo - Garota, mulher, outras
Editora Companhia das Letras - 496 Páginas - Tradução de Camila von Holdefer - Capa: Estúdio Daó - Lançamento no Brasil: 13/10/2020

A anglo-nigeriana Bernardine Evaristo se tornou a primeira mulher negra a ganhar o prestigiado Booker Prize em 2019 com este romance, dividindo o prêmio com a canadense Margaret Atwood, uma decisão que só havia ocorrido duas vezes desde a criação do Booker em 1969, a primeira em 1974 (Nadine Gordimer / Stanley Middleton) e a segunda em 1992 (Michael Ondaatje / Barry Unsworth). O livro, que foi muito elogiado pela crítica internacional, narra a história de 12 personagens dos séculos XX e XXI, a maior parte das quais são mulheres negras vivendo no Reino Unido, mas isso é pouco para entender a genialidade desta obra, muito além do que apenas um bom romance.

O texto é curiosamente editado em versos livres, sem pontuação, uma técnica peculiar logo assimilada pelo leitor que, antes do que possa perceber, estará lendo compulsivamente sem querer largar o livro, contudo este também é apenas mais um detalhe original da autora. A verdadeira engenhosidade do romance consiste em contar uma história que se desdobra em muitas outras, oferecendo múltiplos pontos de vista e fazendo com que as personagens dividam o protagonismo ao longo da narrativa, além de interagir entre si, complementando ou contrariando a perspectiva inicial que se possa ter tido sobre elas. A polifonia narrativa é ainda mais enriquecida pelas diferenças de idade (variando de 19 a 93 anos), herança cultural, classe social e orientação sexual das personagens.

A estrutura se divide em quatro partes principais – além de mais dois capítulos finais que esclarecem algumas conexões –, sendo que cada uma dessas partes desenvolve um grupo de três personagens. Na primeira, o foco é mais contemporâneo com a narrativa centrada em Amma, Yazz e Dominique. Amma é uma dramaturga na casa dos cinquenta, lésbica, e que está vivenciando o dia de estreia de sua peça no National Theatre. Ela sempre trabalhou à margem do circuito oficial e, portanto, é questionada pelo sucesso. Yazz é sua filha, concebida por inseminação artificial, uma verdadeira força da natureza, feminista, sempre questionando os pais e o tratamento da sociedade em relação às minorias. Dominique é a melhor amiga e ex-sócia de Amma na companhia de teatro alternativa que criaram na juventude, ela se mudou para os Estados Unidos envolvida em um relacionamento tóxico.

Na segunda parte, o núcleo de personagens é formado por Carole, Bummi e La Tisha. Carole foi vítima de estupro aos treze anos, depois de uma festa na casa da amiga La Tisha, e este trauma provocou um comportamento compulsivo para conquistar o sucesso na carreira e a necessidade de superação, fazendo com que ela obtivesse notas estupendas no ensino médio e fosse admitida na Universidade de Oxford. Bummi, a sua mãe, luta para manter as tradições culturais da família, ela emigrou da Nigéria depois que o marido morreu em um acidente ao refinar diesel em casa de forma ilegal, "enquanto milhões de barris de petróleo eram sugados a milhares de metros de profundidade na terra pelas furadeiras gigantescas das companhias petrolíferas a fim de fornecer energia preciosa para o resto do planeta". La Tisha, amiga de infância de Carole, acabou se tornando mãe solteira antes de completar vinte e um anos, com três filhos de pais diferentes, até se equilibrar, trabalhando como gerente de um supermercado.

Shirley, Winsome e Penelope, dividem a terceira parte do romance. Shirley sempre trabalhou como professora em uma escola localizada em Peckham, uma região de Londres com muitos imigrantes. Ela era conhecida pelos alunos (inclusive Carole e La Tisha do capítulo anterior) como "Cara de Cu" e teve seu idealismo desmontado ao longo dos anos devido às crises do setor de ensino, tornando-se uma mulher autoritária e ressentida. Winsome, sua mãe, uma imigrante do Caribe, esconde um caso tórrido que manteve com o genro Lennox no passado e Penelope é a única das doze personagens que é branca, colega de trabalho de Shirley. Ela tem um histórico de alcoolismo devido à frustração e crise de identidade por ter sido adotada e não saber nada sobre os seus pais biológicos.

Na quarta parte, ficamos conhecendo Megan (que se transformou em Morgan), Hattie e Grace. Megan preferia usar calças quando criança e uma vez destroçou a sua coleção de Barbies, cortando o cabelo das bonecas, arrancando os olhos e mutilando algumas. Depois de passar por muitos problemas na adolescência, ela (ou "elu" como prefere ser referenciada) se apaixona por Bibi que transicionou de gênero para ter estrogênio, seios e vagina. Megan, por sua vez, quer uma "existência não binária" e se identifica como "gênero neutro", considerando que tem "várias alternativas à disposição" e muda o próprio nome para Morgan. Já Hattie, chamada pela família de GG, é a bisavó de 93 anos que sempre morou em uma fazenda no norte do país e aceita sem restrições as escolhas de Megan/Morgan, diferente do restante da família. Hattie guarda um segredo da sua juventude, uma filha bastarda rejeitada pelos pais. Finalmente, chegamos até Grace, mãe de Hattie, que se casou com um homem branco, herdeiro da fazenda Green Fields, depois da Segunda Grande Guerra, origem das futuras gerações.

Um livro difícil de resenhar devido às dezenas de personagens bem construídas e convincentes, assim como histórias de forte apelo humanista e diferentes pontos de vista que se conectam ao longo de quase quinhentas páginas, apresentando um grande e rico painel sobre a formação e a atualidade da sociedade do Reino Unido pós-Brexit e a luta contra o machismo e racismo. Certamente Garota, mulher, outras é um dos melhores lançamentos do ano.

Sobre a autora: Bernardine Evaristo é uma premiada escritora anglo-nigeriana, autora de obras de ficção, ficção em versos, ensaios, poemas, teatro e crítica literária. É professora de escrita criativa na Universidade de Brunel, em Londres, e vice-presidente da Royal Society of Literature. Garota, mulher, outras é seu oitavo livro. Bernardine Evaristo foi escalada para abrir a edição de 2020 da Flip, agendada para os dias 3 e 6 de dezembro.
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João Paulo 05/04/2022

Mais um para lista de favoritos de 2022 ? Uma história grandiosa em todos os sentidos, repleta de persongens fortes, empoderadas e necessárias. Apesar de tratar de tantos assuntos pesados e sérios o livro possui uma escrita muito fácil e fluida. Você não consegue parar de ler. Super recomendo!
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Margô 31/05/2021

O inédito é TUDO!
Escolhi esta obra pra ler, pela bela capa, e um título nada comum. Às cegas.
Jamais tinha ouvido falar de Bernardine Evaristo, e antes de saber da sua origem, achei que fosse caribenha ou angolana. Ela é anglo-nigeriana.
Pois bem. A escrita é experimental, não tem pontos! ( Isso mesmo...ponto parágrafos e final estão fora do texto). Leia como estivesse falando e respirando, que tudo se estrutura naturalmente.

Cada capítulo é uma personagem e sua história. Quase todas personagens são mulheres e negras, (99%). As histórias se cruzam, como uma rede hipnótica. Quem um dia esteve no teatro vendo uma peça da protagonista Anna, é uma mulher que lê sobre Dominique que é ex-namorada de Anna, e as conhecem pela mídia...

E assim, cruzando histórias, a autora aborda assuntos poucos traduzidos pra o mundo literário, ( pelo menos de forma tão assertiva!), como o universo "trans", lésbicas, gays, racismo, adoção, órfãos, arte, moradia, família, velhice, etc...

Tudo isso é tão bem ilustrado, tão bem trabalhado, que você não lê o livro, você traça cada página com um Interesse revigorado!!!!
Cada caso te lembra uma história familiar. E com certeza você se encontra em uma das personagens, apesar de culturalmente estarmos bem distantes. O cenário do romance é Londres, ora EUA, ora Escócia, ora Nigéria...rss.

A migração está tão presente quanto a questão do gênero, ou a educação, até as linhas filosóficas dos envolvidos são apresentadas com ares de excelência, nas quase 500 folhas.
É um seriado... daqueles que você maratona, e fica extremamente aborrecida por quê não tem a segunda temporada.
É isso. (Sem spoiler.)

Surpreendente!!!
Livia.Sena 31/05/2021minha estante
Que resenha espetacular! Tem uns 3 meses que aguardo o momento de mergulhar nessa leitura, está perto!


Margô 01/06/2021minha estante
Obrigada Lívia...??? Foi mais uma ode à Bernardine Evaristo...rsss. Você vai se apaixonar!




Lu 05/11/2021

Todos deveriam ler pra HOJE
Sendo sincera foi um livro que no começo eu fiquei com um pé atrás, estava com medo de ser só histórias "jogadas" durante o livro, mas ainda bem que não desisti!
Resumidamente, é a história de 9 mulheres de etnia, classe, idade e gênero diferentes e é incrível ver essa mescla de vivências, fora que, o que torna o livro ainda melhor é que tem sim essa mescla entre as personagens, a maioria se conversa em algum momento da história e é isso que deixa o livro tão rico, fora que faz o cérebro funcionar para lembrar do nome e enredo de cada.
A escrita é particularmente a peça chave do livro, a autora, Bernadine Evaristo, mexe com as palavras e tem um domínio sobre sua escrita surreal, ela te passa emoção não só pelos acontecimentos da história, mas também pela forma que foi escrito. Que autora meus amigos!!!
Enfim, da mesma forma que o livro foi me indicado, eu indicaria para todos também, sem dúvidassss

"A gente pode escolher entre ser esmagado pelo peso da história, e das atrocidades dos dias atuais, ou ir à luta"
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laly 21/08/2021

O livro é dividido em cinco grandes partes, em que as quatro primeiras contêm as narrativas de coletivos de personagens que protagonizam o romance e a quinta traz um evento em que todas elas se encontram, além de um epílogo. Garota, Mulher, Outras retrata as vivências e histórias de doze personagens, imigrantes ou descendentes de imigrantes de países africanos e caribenhos, no qual a fluidez é a principal marca da maneira em que a autora busca romper com o discurso colonial
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Carla Verçoza 24/01/2021

Livro interessante quanto à sua forma: ao invés da prosa tradicional, a autora escreve sem pontuações nem letras maiúsculas nos inícios dos parágrafos. Não há separação entre fluxo de pensamento e diálogo, o que achei bem interessante. Como uma prosa em versos, as quebras de linha não seguem um padrão. O texto é dividido em blocos, com histórias de 12 personagens imigrantes (ou descendentes de imigrantes) de países africanos e caribenhos, 11 mulheres e uma pessoa não-binária.
A autora se preocupou em dar a cada personagem uma voz própria, diferenciada, o que deu muito certo, mostrou a diversidade de vivências de mulheres negras, com suas dificuldades na vida mas também suas conquistas, são personagens que chegaram a algum lugar, cada uma à sua maneira e que, em algum ponto, as histórias se cruzam.
As minhas histórias favoritas foram da Carola, Dominique, LaTisha, Bumma, Hattie e Morgan.
A história de Dominique foi a que mais me impactou, com a descrição de seu relacionamento abusivo, bem pesado.
O capítulo de Megan/Morgan achei que foi de uma delicadeza e respeito singulares, porém em alguns momentos soou palestra demais. A partir do momento em que a personagem passa a se designar como Morgan, o tratamento passa a ser com pronomes neutros, sem causar entraves na leitura nem um estranhamento, mérito da incrível tradução da Camila von Holdefer Kehl.
Obra muito atual, focada em relacionamentos, sociedade raça, gênero, sexualidade, sem muita panfletagem. O final achei que não foi tão bom (os capítulos Festa e o Epílogo), mas não acho que comprometeu a experiência de leitura. Um bom livro.
Aqui a tradutora fala um pouco sobre o processo de leitura e tradução da obra, vale a leitura: https://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/A-experiencia-de-traduzir-e-ler-Bernardine-Evaristo
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@livrosdelei 10/10/2021

Obra-prima contemporânea
?Garota, mulher, outras? de Bernardine Evaristo é um livro que todes deveriam conhecer. A obra conta um pouco sobre a vida de 9 mulheres negras britânicas, que viveram vários períodos históricos e com diferentes backgrounds.

Eu queria falar muito mais a fundo sobre esse livro, mas tenho medo de dar spoilers. Então vou dar uma visão completa e espero que te faça querer conhecer o livro ??

A escrita é uma característica peculiar de Bernardine. A escrita é toda feita na letra minúscula, mas não prejudica em nada a leitura. Na verdade, senti que causou uma maior fluidez e que combinou com o próprio enredo.

O livro tem uma diversidade incrível em suas personagens (cada uma do seu próprio jeito). Consegui aprender mais sobre a vida da população negra na Inglaterra do século 20: desde a ida dos primeiros moradores negros no interior até a crise de AIDS na comunidade LGBTQIA++ dos anos 70/80.

Outro ponto interessantíssimo é como navegamos nos mais diferentes feminismos e em diversos pontos da comunidade LGBTQIA++. Temos contato com o feminismo radical e seus problemas, além de embarcar em relacionamentos LGBTQIA++ abusivos e a complexidade da não binariedade.

Eu indico a leitura desse livro para todo mundo que quer uma leitura nova e que abre uma nova janela com diferentes realidades.
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