Pâm 12/04/2021Para além da DisneyA imagem que a maioria de nós temos de Alice é a da animação de 1951, talvez, alguns mais jovens, pensem mais nas live actions, mas a questão é que o nosso imaginário sobre essa história clássica muito provavelmente venha das adaptações cinematográficas. Considerando isso, ler a obra original me fez ter um outro olhar, vendo na proposta original do autor algo que vai muito além de um país multicolorido e quase alucinógeno, como vemos na animação. Wonderland é um mundo fabular infantil permeado pela incrível capacidade criativa da mente infantil. Como nas demais histórias infantis de antigamente, vemos Alice encontrar um mundo que, apesar de fascinante, não faz sentido algum, incluindo aí algumas maldades sem sentido e maltratos diversos e absurdos. Embora o final seja uma bonita apologia à ideia de nunca deixarmos morrer nosso olhar infantil, percebi com a leitura que o país das maravilhas, com suas criaturas bizarras e acontecimentos nonsense, talvez seja uma imagem de questionamentos já pulsantes na pequena Alice, sobre como o mundo pode ser caótico e como as leis dos adultos podem parecer ordenadas, mas podem também ser cruéis. Um livro cheio de trocadilhos e muito poético, um tom bem britânico, lendo em inglês pude até imaginar um homem britânico de meia-idade falando. Fiquei feliz em ter feito essa leitura com uma amiga, pois pudemos colocar em perspectiva nossas impressões sobre a obra em si, sobre a linguagem e também comparar a experiência com a dos filmes, que já estava engessada em nossa mente. Para quem gosta do universo de Alice, recomendo a leitura, para expandir o olhar e entender a origem do imaginário que tantos de nós temos a respeito.