Thaisa 07/12/2023
"Morte de Tinta", último livro da trilogia "Mundo de Tinta", encerra a história de Mo Folchart, um encadernador de livros que possui o extraordinário poder de trazer personagens e coisas de dentro de um livro ao lê-lo em voz alta, enquanto pessoas e objetos reais são transportados para a obra como troca; e após sua filha, Meggie, descobrir que tinha o mesmo poder do pai, ela acaba entrando no mágico mundo do livro "Coração de Tinta", cheio de beleza e morte. Mo, junto de outros personagens, encontra uma forma de ir atrás de Meggie e nós, leitores, conhecemos mais desse universo, desde os elementos mágicos e lindos até os vilões dessa história, espalhando fome, violência e sofrimento o tempo inteiro.
O "Mundo de Tinta" sempre foi muito importante pra mim - tanto que eu tenho uma tatuagem de "Sangue de Tinta" que mistura a figura do duplo do Gaio (nome que Mo recebe e que faz com que ele se transforme em uma figura temida na história), o amor pela literatura e, claro, a importância dessa obra na minha vida, que tanto me acompanhou e me abraçou nos momentos mais difíceis que vivi. No entanto, estava apreensiva quanto a ler esse último livro por ser o único que eu ainda não havia relido... Mas que ótima experiência foi embarcar novamente nessa obra e não me decepcionar nem um pouco - muito pelo contrário!
A escrita de Funke é simplesmente maravilhosa, fluida e imersiva, capturando o leitor com uma narrativa incrível e misturando a fantasia desse universo com temas tão reais e necessários: quando jovem, confesso que o que mais me encantava eram os personagens e seus arcos, como se desenvolvem e se transformam ao longo da narrativa, mas também a magia presente em cada canto da cidade de Ombra...
Nessa releitura, vi como a trama carrega muito mais do que isso, entrando em temas como a maneira com que os poderosos tratam os trabalhadores, as mulheres, as crianças, os artistas; como as pessoas querem lutar contra o sistema, mas o medo as impede; como a sociedade ignora e maltrata aqueles que não se encaixam no padrão; como a depressão, a ansiedade e a morte traumatizam pessoas e as impactam para sempre, de forma pungente e dolorosa.
Eu adorei retornar para esse mundo, acompanhar personagens que eu tanto amo e compreendê-los melhor agora, já adulta, além de ver tanto o lado bom quanto o lado ruim que todo lugar carrega - e como a saudade e a depressão são reais em qualquer universo, nos machucando e nos modificando ao longo do tempo.
"Morte de Tinta" é o final perfeito de uma trilogia perfeita; e é perfeita não por expôr apenas as coisas boas e lindas, mas por mergulhar na dor dos personagens, na dura realidade que as pessoas subjugadas enfrentam e na essência que nos carrega e que constrói nosso caráter.
No fim dessas páginas, eu só posso enfatizar que foi difícil fechar esse livro e dizer adeus à "Coração de Tinta" e tantos protagonistas incríveis. Porém, mais do que nunca, tive a certeza que essa trama estará para sempre comigo: na minha mente, no meu coração, na minha pele. E que lindo saber disso!
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