Carolina2454 04/10/2023
Realizada por ter feito essa leitura! ?
Estou positivamente surpresa com o quanto esse livro me cativou! Nella Larsen tem uma escrita apaixonante, e muito inclusiva, sem trazer complexidade na escolha de palavras e ainda assim fazer cada passagem soar tão bonita mesmo quando está simplesmente descrevendo as cores de um vestido.
Como mulher negra de pele clara, essa leitura em diversos momentos foi muito acolhedora, expondo o quão diversa a comunidade negra pode ser desde suas características externas até suas percepções de raça, privilégios, ou mesmo uma falsa ingenuidade na esperança de se privar de um mundo tão hostil.
Gostei muito da escala menor e mais íntima que a história possui, e ao mesmo tempo tão abrangente. Irene e Claire são personagens muito intrigantes e, mesmo já tendo assistido ao filme antes de fazer a leitura, o perfil de ambas as personagens, suas camadas e contradições, foram ainda mais chamativas e interessantes do que recordava!
Por ter sido escrito em 1929, mesmo sentido falta de alguma discussão sobre sexualidade, já me surpreendi positivamente com as passagens que foram colocadas.
Gostaria também de algumas páginas a mais sobre Claire, mas creio que seu perfil enigmático e ao mesmo tempo tão transparente seja o ponto chave do livro.
Recomendo fortemente ?
(Leve spoiler abaixo)
Mesmo já sabendo do final, a última parte do livro me chocou tanto quanto o último arco do filme. Ver todo o desespero crescente de Irene, suas inseguranças e receios que trespassam a estabilidade do seu casamento (sendo impossível não fazer a leitura do recorte racial que é sempre colocado, mesmo que nas entrelinhas) são tão sufocantes para nós leitores que me trouxe a urgência de uma válvula de escape para a personagem antes que ela se perdesse em si.
Como um único acontecimento ou até pensamento é capaz de fazer alguém desmoronar.
Mesmo sabendo o que aconteceria, a cada página eu sentia que queria fugir do final do livro, e ao mesmo tempo queria procurar uma solução junto com a personagem.
Estar imersa assim e acompanhar as contradições de alguém sem saber o que pensar a respeito foi uma experiência novamente muito interessante!