Solução de dois Estados

Solução de dois Estados Michel Laub




Resenhas - Solução de dois Estados


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Bookster Pedro Pacifico 23/11/2020

Solução de dois estados, de Michel Laub
Em seu mais novo romance, um dos principais nomes da literatura contemporânea nacional aborda temáticas muito atuais, sobretudo a polarização que marca as discussões políticas e sociais do nosso tempo.

O enredo da obra tem como base a elaboração por uma cineasta alemã de um documentário sobre a violência em diferentes países, dentre eles o Brasil. Para desenvolver o seu trabalho no país, a cineasta opta por analisar um acontecimento de violência e que teve repercussão mundial: uma agressão pública sofrida por uma artista em uma apresentação em São Paulo.

É característico da produção de Laub escolher formas de escrita criativas e que fujam do comum. Assim, para construir a sua narrativa nesse livro, o autor vai alternando os capítulos entre as versões de Raquel - a vítima da agressão - e Alexandre, seu irmão, sobre o ocorrido. Os dois têm pensamentos muito antagônicos e para tentar encontrar os possíveis motivos para o episódio de agressão, acabam explorando o seus passados, de traumas na infância e perdas familiares, e o contexto político vivido pelos brasileiros no governo de Fernando Collor.

É impressionante perceber como a polarização torna quase impossível a tarefa de conciliar posições tão diferentes. Ao longo da leitura, até tentava entender de que forma os irmãos poderiam tentar reestabelecer seus laços ou, ao menos, um diálogo razoável, mas tive dificuldades de encontrar uma resposta.

Essa prejudicial consequência da polarização é um tema cada vez mais atual. O livro, portanto, desperta reflexões muito interessantes a partir de um caso aparentemente isolado e com características peculiares.

Da mesma forma que nos outros livros que li do autor, a escrita em “Solução de dois Estados” é agradável e também escancarada. Laub não poupa vocabulário na hora de descrever os acontecimentos e os sentimentos vividos pelos personagens. Recomendo muito!

Nota 9/10

site: http://instagram.com/book.ster
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Nado 14/06/2021

Romance ficcional escrito por Michel Laub, um dos autores em maior ascensão no cenário literário nacional. Na trama o leitor vai acompanhar os irmãos Alexandre e Raquel sendo entrevistados pela cineasta Brenda. Os dois foram escolhidos por conta do passado de brigas e desentendimentos entre eles que perduram por décadas, do qual teve como ponto alto um episódio de violência explícita que chocou o país com direito a repercussão mundial.
Raquel é uma artista obesa que utiliza seu corpo e seu passado para trabalhar em filmes voltados para o público adulto, mas que ela faz questão de dizer que é arte com fundo crítico. Alexandre é um empresário do ramo fitness, só aí já dá para ver o extremo escancarado que há entre os dois, e que usa a fama de sua academia para angariar outros fundos de origem polêmica. Os segredos mais obscuros dessa família vêm à tona no momento em que são revelados detalhes que envolvem bullying, briga por uma herança milionária e a visão diferente dos irmãos em temas como sexo e religião. Mesclando esses fatos, que são mostrados também em flashbacks, é mostrado o cenário político do país e como um plano do governo ajudou essa família a entrar em ruína.
O que eu levo dessa leitura é a crítica crua que o autor faz sobre como a visão odiosa de duas pessoas, convictas de suas verdades, pode culminar em um destino cruel e irreparável que em nenhum momento houve uma trégua e nem foi cogitada uma possível reconciliação. A crítica política merece o mesmo destaque. Tanto os irmãos como a documentarista, vão despertar os mais diferentes sentimentos no leitor que inevitavelmente odiará muito mais um do que o outro. Cada leitor adquirirá um ranço diferente e de distinta intensidade para um ou outro personagem, levando em conta a sua experiência de vida e até seus traumas.
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Katia Rodrigues 16/11/2021

"É preciso (...) dar nome ao horror óbvio"
O protagonista de Solução de dois Estados, sem dúvida, é o Ódio. Nesse romance poderoso e extremamente incômodo, que apela à inteligência do leitor, chameja um protesto. Entretanto, é sobretudo um testemunho contundente do ódio de uma sociedade profundamente dividida. No caso, a brasileira.

A meu ver, o livro consegue transcender a circunstância histórica e social para se converter em uma explanação das raízes do humano, em seu aspecto mais sombrio. Raros são os enredos que conseguem expressar de maneira tão sintética, subjugante e palpável, o mal-estar social, entendido em suas conotações individuais e em suas projeções sociais.

A extrema complexidade da história está muito bem sublinhada pela inusitada estrutura da narração, pelos narradores e tempos superpostos, pelos quais acompanhamos várias fases da vida dos personagens e do Brasil.

Um livro como esse não deve ser julgado somente pela perspectiva literária, pois além de uma excelente ficção, é também uma parábola dedicada a nos educar criticamente, não sobre o mundo que lemos, mas sobre a nossa realidade. Portanto, não espere que Laub proponha algum caminho ou solução.

Do romance se desprende uma visão pessimista, para dizer o mínimo. Enfim, é certo que existem também, para sorte da espécie humana, seres que a redimem, porém não nesse livro.

Ig: @ingrisias
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Anderson 11/06/2021

Um livro crú e sarcástico diz muito sobre o Brasil
Esse livro faz parte daquelas obras que não existiriam se os personagens fizessem terapia. Acompanha o ponto de vista de duas pessoas que se odeiam e odeiam qualquer pessoa ou opinião que não seja igual a deles fala muito sobre os discursos de ódio que acompanhamos, a polarização ideológica e a atual política. É um livro que fala, sobretudo, do caráter do ser humano e da falta de valores. Gosto muito da forma como o Michel Laub manipula nossos sentimentos durante o livro, mas permite com que a gente não sinta pena de quem está sendo vítima da situação ou o denominado vilão, no primeiro momento. A escrita crua e sarcástica combina perfeitamente com o enredo do livro, recomendo demais!
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Elo 29/03/2021

Leiam solução de dois estados
O livro é bem pé na porta em alguns aspectos, percebe se por algumas palavras chave. Não quero falar muito porque, sinceramente, spoiler é um pecado na escrita do Laub. Ele escreve de uma forma que você vai descobrindo os fatos na medida em que a história vai caminhando, as coisas vão se elucidando aos poucos.
Tudo muito bem feito e bem amarrado. Muitíssimo atual e necessário.
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Ferreira.Souza 19/02/2022

Gênio- laub é um escritor que cria sua estorias
Michel laub é o escritor que cria as suas estórias e perde o jabuti para quem copia da vida
Criativo , sensível a sociedade moderna ele não escolhe lados
Não dita o certo e errado
Deveria ter faturado o jabuti em pelo menos duas ocasiões fazer o que?
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 28/07/2021

Pesado e necessário
Num cenário de polarização absoluta, é cabível considerar qualquer possibilidade de diálogo? Solução de Dois Estados, de autoria do Michel Laub e uma das leituras que mais se destacaram neste meu primeiro semestre, fez meu pensamento dar voltas e voltas em torno dessa questão – não sem uma constante sensação de desconforto, devo dizer.

A narrativa intercala os depoimentos dos irmãos Raquel, artista performática de 130 kg, e Alexandre, empresário envolvido num negócio de academia/igreja/esquema de pirâmide. Suas falas contaminadas por ódio e ressentimento estão sendo gravadas para um documentário de uma cineasta alemã sobre violência.

Em meio a um denso recheio, o mais interessante é observar como esses personagens são imperfeitos, como fazem de seu discurso ferramenta para aniquilar o outro. Mesmo assim, não podemos invalidar a dor que enfrentaram na juventude, ambos têm pontos a serem ouvidos (embora o personagem Alexandre seja difícil de engolir). Mas a grande questão é: o que eles fizeram dessa dor? Fato é que as perspectivas são indissociáveis das vivências pessoais, das escolhas e trajetórias trilhadas até o momento da violência sofrida por Raquel em um evento em pleno 2018, que é o motivo da participação dos irmãos no documentário.

Até mesmo na estrutura o trabalho de Laub foi primoroso. Os depoimentos em si já revelam a incomunicabilidade, a inexistência da mera disposição em estabelecer uma conversa entre as partes, que dirá um acordo. E o mal-estar duplica de tamanho quando, em sua posição de distanciamento (embora não total), a figura da documentarista passa a ser atacada por cada um dos entrevistados. Já a nós, leitores, é permitida a privilegiada visão “de fora”, mas não nos enganemos: estamos mais dentro do que qualquer outra coisa.

Espelho do Brasil dos últimos anos, Solução de Dois Estados é um livro incômodo, pesado e, por isso, fenomenal.

site: https://www.youtube.com/alinetkm
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Bruno 25/03/2022

2018 não acabou
É 2018, o ano da eleição do inominável. E uma documentarista vem da Alemanha ao Brasil para contar a história de violência sofrida por uma artista sob a versão da própria e de seu irmão.

Os dois não se gostam e nem se falam e têm versões muitos diferentes em relação ao dia do ataque, sobre a história da família e a política no Brasil.

O livro toca em feridas abertas de nossa história recente desde o Plano Collor até as milícias e igrejas evangélicas que dominaram o campo politico nas grandes capitais.

Os dois personagens são igualmente complexos e o leitor é levado a cada virada de página a estar do lado de um deles.

Discussões sobre gordofobia, machismo, pornografia, corrupção e violência urbana perpassam todos os depoimentos e proporcionam um desvelamento de nossa história tão ferida.

Poderemos nos recuperar depois de 2018?

Indico muito a leitura pois ajuda a reflexão dos tempos atuais e nos leva a pensar o que não queremos para nós como pessoas e para o Brasil como povo.
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Julio.Gurgel 08/02/2021

desconcerto dos nossos tempos
Duas trincheiras, uma à esquerda e outra à direita. Uma ocupada por uma artista de 130 quilos e outra por seu irmão, um miliciano dono de uma rede de academias-igreja.

Solução de Dois Estados é um recorte claro do tempo atual: tenso, sem respiro e sem perdão, à mercê de uma bala, de um cancelamento. O ódio, e só o ódio, é o que determina as ações. Não há diálogo possível. A coisa é polarizada do começo ao fim.

O irmão, Alexandre, é o típico macho patriarcal político-religioso-obscurantista. A irmã, Raquel, uma artista radical que faz uso da violência pornográfica para expressar seu descontentamento.

Raquel é financiada por um grande banco. As milícias são financiadas por grandes bancos. Os apoiadores culturais, condescendentes com o poder, estão ali apenas para ver o circo pegar fogo. Ninguém faz nada.

Vai ler? Prepare o estômago. É leitura de mal-estar.
Helder 07/03/2021minha estante
Resenha perfeita




Lari 23/03/2021

Não vou saber explicar o porquê, mas me lembrou o que senti lendo Um Copo de Cólera, uns 8 anos atrás. É um livro pesado, não só por falar sobre ódio, mas por retratar uma fatia enorme da quinta maior população do planeta (eu e você também). Vou lembrar desse livro pra sempre. Não tive como não dar cinco estrelas.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/11/2020

Michel Laub - Solução de dois Estados
Editora Companhia das Letras - 248 Páginas - Capa de Raul Loureiro / Imagem com detalhe da tela "Carteira de identidade (auto polegar direito)", 1965, de Rubens Gerchman
Lançamento: 09/10/2020

O título do oitavo e recém-lançado romance do gaúcho Michel Laub é uma referência ao improvável acordo de paz entre judeus israelenses e árabes palestinos na região do Oriente Médio, uma citação que remete ao conflito entre dois irmãos: Alexandre e Raquel Tomazzi, protagonistas muito pouco confiáveis e, cada um ao seu próprio modo, com discursos radicais de violência e ódio. A obra está inserida em um contexto incontornável e reproduz, em seu microcosmo, o sistema político polarizado que hoje divide a nossa sociedade, não há como evitar a comparação.

O livro apresenta três vozes narrativas, Brenda Richter, cineasta alemã que perdeu o marido, assassinado em um passado recente no Brasil e prepara um documentário sobre a violência; aparentemente ela representa uma postura mais humanista e de sensatez. Os entrevistados são os dois irmãos: Raquel, uma artista performática de cento e trinta quilos que produz vídeos sexuais nos quais é agredida e humilhada e Alexandre, chamado de "miliciano" pela irmã, empresário que atua em um estranho e lucrativo empreendimento comercial, constituído por academias de ginástica ligadas a uma espécie de associação religiosa de inspiração evangélica na periferia de São Paulo.

O projeto do documentário tem como base uma agressão que Raquel sofreu, no início de 2018, durante um debate sobre arte e política num hotel na capital paulista, patrocinado por um poderoso Banco nacional. Como sempre, Michel Laub desenvolveu a estrutura do romance por meio de uma forma criativa e muito bem conduzida, dessa vez como se fosse a organização do próprio documentário, com seções de "Material pré-editado", "Extras/Material a inserir" e "Material bruto", variando as vozes narrativas, as entrevistas cobrem o período dos anos noventa, a partir do Plano Collor, que foi a causa da ruína da família, até as eleições que definiram o governo atual.

"Isso tem tudo no YouTube. Um cara na equipe, Ibrahim Eris. Presidente do Banco Central. Chamavam ele de o Turco. O Plano Collor foi em março de noventa, fizeram um bloqueio de todas as contas por dezoito meses, deixaram cada um tirar só um troco de feira, aí botam para explicar. O Turco diz regra aplicado. Juros pro rata temporis. Você não sabe se ri ou chora, na entrevista um não fala português, a ministra é uma débil mental... O nome da ministra era Zélia Cardoso de Mello, sabe como eles decidiram quanto cada cidadão podia tirar da conta? Esses caras. Num sorteio. Botaram os números num papelzinho e jogaram para cima. [...] O meu pai soube do Plano Collor em casa. O Jormal Nacional começa às oito e pouco.É o jornal mais importante daqui, eles apoiavam o governo. Todos os canais apoiam o governo porque são apoiados pelos bancos. Todos os ministros que deixam o cargo vão trabalhar num banco. O jornal mostrou a entrevista do Turco, ele disse que não tinha confisco nem calote, nós estamos dando um chance para o sociedade brasileira, aí o meu pai ouve isso e levanta... Ele pega a tevê. Era uma tevê de tubo grande, nem sei como ele teve força para carregar. Ele ia jogar a tevê contra a parede, mas perdeu o equilíbrio. [...]" - Trecho do depoimento de Alexandre

Na verdade, nada é o que parece inicialmente na trama e o leitor só percebe aos poucos as verdadeiras motivações dos personagens à medida em que as três vozes narrativas, Alexandre, Raquel e Brenda, interagem e se contradizem. Raquel foi uma vítima de bullying na adolescência e sofreu uma violenta e covarde agressão no evento em São Paulo, mas também é um "poço de ego ressentido e vingativo", na provocação lançada por Brenda, que acaba perdendo a sua postura de imparcialidade e empatia no decorrer da produção do documentário.

"Dá para dizer um monte de coisas sobre aquele dia. Seis de fevereiro de dois mil e dezoito. A não ser que você ache que é questão de sorte e azar, um mero acaso esse homem vir falar comigo antes de eu subir no palco, e seiscentas pessoas verem o que ele fez comigo em cima do palco, e não ter nenhum segurança nas primeiras filas, nem nas filas do meio, nas do fundo, nenhuma das seiscentas pessoas se deu ao trabalho de tentar encontrar um enquanto eu apanhava. [...] O homem que me bateu usou uma barra de ferro. A barra de ferro era preta. Quer mais algum detalhe? Esse foi o primeiro golpe, na altura do peito. A barra tinha uma ponta, como se fosse um prego na parte lateral, é essa a cicatriz que você viu. Como ninguém fez nada quando a surra começou, ele criou coragem para dar um segundo golpe no rosto. O golpe foi amortecido porque eu botei a mão na frente, se não fosse isso talvez eu estivesse morta, e mesmo assim teve força para entortar o meu nariz, esse que você viu também. [...]" - Trecho do depoimento de Raquel

Em uma recente entrevista sobre Solução de dois Estados, Michel Laub respondeu da seguinte forma ao ser questionado se o futuro do Brasil é se tornar uma nação de Alexandres e Raquéis: "Sim, mas também uma nação de gente que consegue olhar para eles e seguir um outro caminho. Não um caminho de meio-termo ou algo assim, porque o isentismo hoje em dia é quase sinônimo de conivência com a barbárie, mas algo próprio. A literatura pode ajudar na formação desse caminho próprio. Se eu não acreditasse nisso, não continuaria escrevendo."

Sobre o autor: Michel Laub nasceu em Porto Alegre, em 1973, e vive em São Paulo. Escritor e jornalista, publicou sete romances, todos pela Companhia das Letras – entre eles Diário da queda (2011) e O tribunal da quinta-feira (2016), ambos com direitos vendidos para o cinema. Seus livros saíram em treze países e dez idiomas. Recebeu os prêmios JQ-Wingate (Inglaterra), Transfuge (França), Bravo Prime e Jabuti (segundo lugar), entre outros.
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Marcianeysa 20/02/2023

Incômodo
Um livro incômodo, cru, retrato da violência que tomou conta do Brasil desde 2018.
" Eu sou o efeito do que eles fizeram para serem quem são. A lembrança viva disso. Em dois mil e dezoito e daqui para a frente.Eles são o futuro, mas o futuro também sou eu"
Katia Rodrigues 20/02/2023minha estante
Concordo, Marcia. É uma leitura bastante difícil de digerir.




@wesleisalgado 29/11/2020

Tomou a sua pílula diária de ódio hoje?
Sinopse de lado, vamos às considerações.
Ao terminar o livro minha sensação foi de inveja, por saber que eu nunca serei tão inteligente quanto o Michel Laub. Caralho, que surra literalmente é esse livro aos dogmas e convicções de cada um. Você com certeza vai se identificar ou com o Alexandre ou com a Raquel, e isso vai dizer muito sobre quem você é, e o papel que você representa na contextualidade dos dias atuais. O que mais me pegou foram os dicursos de ódio (até o mascarado ódio do bem, de ambos os lados), e o quanto eu me identifiquei e mesmo me vi em algumas elucubrações dos personagens, ora sendo conivente com elas, ora revendo minhas próprias ideias. A genialidade do Michel Laub entra exatamente aí, a maneira como ele consegue explorar dois lados completamente diferentes e ao mesmo tempo fazer o leitor rever seus conceitos e o que representa nessa atual dicotomia permanente em que vivemos. Eu li o livro em uma sentada e quando terminei parecia que eu tinha passado por um liquidificador, tamanho desconforto. E seja você direita ou esquerda, Alexandre ou Raquel, o que salta aos olhos é a abundância de ódio exalado por ambos os lados. Ficção pra você? Repare em qualquer conversa banal no seu trabalho, rua ou grupo de convivência, seja ele de que tipo for.
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Rafael G. 16/12/2020

Ensaio sobre o ódio
Assim como os romances anteriores de Michel Laub, "Solução de dois estados" tem um registro na borda com outros gêneros. Neste, uma cineasta alemã, Brenda, prepara documentário sobre a violência brasileira. Acompanhamos, portanto, as entrevistas (dividas em material bruto, pré-editado e extras). Os entrevistados são Alexandre e Raquel: ele, um homem religioso, conservador, empresário de sucesso, e sócio de uma rede de academias que é também igreja neopentecostal; ela, uma artista performática de 130 quilos que realiza filmes pornográficos ironizando a violência a que seu corpo é submetido desde a infância. Lados opostos da trincheira num país profundamente polarizado desde meados da década passada.

As perguntas de Brenda investigam sobretudo um episódio específico: um homem ligado a Alexandre invadiu o palco de um evento do banco que patrocina Raquel e a espancou com uma barra de ferro. No entanto, se parece fácil à primeira vista defender o óbvio (Raquel, a vítima) e odiar o pastor preconceituoso (Alexandre), o material que acompanhamos costura os dois irmãos a um sentimento que impede o diálogo: o ódio. E esta talvez seja a grande provocação ética do livro (uma provocação com diversos desdobramentos, e que oferece mais perguntas que respostas): é possível dialogar? Aliás, considerando que a maioria de nós, leitores do livro, provavelmente nos identificamos ideologicamente com Raquel, por que deveríamos dialogar com homens feito Alexandre? Temos alternativas a não ser o diálogo? Quais? O diálogo não é também uma idealização distante da realidade, considerando que homens como Alexandre querem nos eliminar?

As perguntas não são simples. Raquel e Alexandre não são personagens simples. As diferenças entre os dois tornam-se cada vez mais palpáveis conforme conhecemos suas trajetórias. Michel Laub oferece não apenas um grande romance, que reverbera suas inquietações em nossos corpos, como também um texto fluido, rápido, enérgico, que escorre com a força do ódio. Do ódio porque não há qualquer palavra de gentileza aqui dentro. E porque infelizmente reconhecemos os afetos que cortam as páginas. Não me surpreenderá se o livro for premiado. Leiam!
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Paulo 04/12/2022

Entrevista entre irmãos que revelam os distintos pontos de vista sobre a história da família, tendo como pano de fundo o Brasil do final do século vinte. Interessante como o autor nos faz ver através do olhar de quem está contando e depois nos faz ver o mesmo, mas com uma interpretação diferente e que nos convence.
Todos tem sua razão e no fim o que falta é sinceridade, de se sentar de frente para o outro e enfrentar uma opinião diversa da sua, tentar curar através do perdão a violência imposta a outro e da qual se é responsável, mesmo que indiretamente.
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