Rodolfo Vilar 11/01/2023
Começando o ano já com uma das melhores leituras da vida.
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Esse é meu primeiro contato com o Yukio Mishima, pseudônimo para Kimitake Hiraoka, que em 1948 publicou seu primeiro romance chamado "Confissões de uma máscara", livro que tem como pano de fundo o final da segunda guerra mundial, assim como a ainda insegurança do Japão em sua reconstrução. Mas o tema principal desse romance é exatamente a grande duvida do persongem principal quanto a sua sexualidade e sua paixão platônica por sua amiga. Em volto nessas camadas de dúvidas, o autor constroí uma história marcada por incertezas, descrições de sentimentos e experiências de um jovem em busca de sua identidade.
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Durante a leitura pude sentir uma sensação de autobiografia, não sei, como se todas as camadas da história partissem de experiências pessoais e íntimas, tanto que tais passagens se assemelham a nossa própria vida, na busca inconstante por encontrar a si mesmo e entender a combustão de sentimentos que aflora, principalmente na mente de um adolescente que tenta decodificar a origem e o sentido de suas vontades. O personagem principal narra sua infância e os momentos que o marcam na tentativa de compreender os traços que o levaram a sua homossexualidade, como se montar esse quebra-cabeça com peças faltando fosse a busca em consertar algo ou buscar um estado de redenção. Conhecemos a sua infãncia, seu estado frágil como doente e seu não pertencimento ao ambiente, logo um em clima de pré-guerra. Seus desejos por obras de arte e o nu masculino, seu "crush" pelo colega durante as aulas de educação física e suas perguntas sobre o desejo tornam o livro uma odisseia por entender sua sexulidade, que cumina na paixão na adolescência por sua amiga, Omi, onde ambos criam um laço incomum e contraditório, que causa uma revolta no leitor pelo sentido do personagem estar enganando a si, a Omi e a nós leitores que confiamos conhecer sua natureza.
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Parece que o narrador conhece tão bem a si mesmo durante as primeiras páginas do livro que confiamos nele para segurar em sua mão e seguirmos com a leitura. No fundo ele é um perturbado, com obssessões pela morte, necrofilia e imagens distorcidas de redenção. Terminamos o livro com a sensação de que algo ficou a ser explicado, como se um corte brusco acabasse a história e ainda não compreendemos a natureza final do personagem. Apesar dessa sensação de abandono quanto leitor, a leitura é transformadora, íntimista e muitas vezes pertubadora, numa imagem confusa de personagens estranhos em meio um Japão também confuso.