Nandsland 16/10/2023
Revisitando minha autora favorita da adolescência
Eu fui uma adolescente fascinada pelo universo dos caçadores de sombras, e lembro de ler e reler vários das séries durante esses anos. De amanhecer o dia lendo e esperar ansiosamente pelo fim da aula para ler mais. Então, eu tenho um amor muito grande pelo universo e pelos personagens da Cassandra aqui, mas confesso que me afastei disso de 2020 para cá, tentei ler a série do Magnus e do Alec nesse período e foi uma leitura super arrastada para mim e desde então eu não toquei em mais nada da Cassandra.
Mas eu tinha esse livro parado na estante há uns 2-3 anos e coloquei como meta de leitura desse ano e comecei por obrigação mesmo. E fazia tanto tempo que um livro não arrancava reações tão cruas de mim...
O livro é de uma geração seguinte dos personagens de As Peças Infernais, que é a minha favorita dentro do universo, e foi tão bom reencontrar o Will, a Tessa, o Jem, a Charlotte e a Jessamine mesmo que seja só por vislumbres das relações deles com o James, a Lucie, a Cordelia, o Matthew, a Anna, o Kit e o Thomas. É muito difícil não se envolver com eles, se emocionar com as semelhanças e as relações que eles têm com os pais. Então, tem todo esse caráter nostálgico muito forte aqui nessa trilogia pela proximidade temporal com anterior.
A Cassandra tem essa característica do detalhismo dela que é muito 80 ou 8 para cada leitor, eu, por exemplo, só me incomodo quando estou a espera de uma cena de climax, principalmente porque ela alterna muito de perspectiva de personagem, então ta no climax de fulano, mas ela segue pra beltrano e aí é horrível ler todos os detalhes de ambiente e caracterização da perspectiva de beltrano quando você quer continuar no climax de fulano.. Mas tirando nesses momentos, o nível de detalhe da Cassandra me impressiona muito desde a descrição das roupas, para descrições das coisas do ambiente mesmo, ela é muito específica com isso o que me impressiona muito e me ajuda inicialmente a profundamente emergir na história e na época em que se passa, além de que isso, por vezes, também diz muito das características dos próprios personagens e isso dá a sensação que você os conhece muito bem, constrói muito o vínculo entre leitor e personagem.
E o que prende mesmo na escrita da Cassandra é esse vínculo que o leitor cria com no mínimo um dos personagens, porque, sendo honesta, alguns cenários são batidos, já aconteceram em outras séries do universo, mas ela constrói a tensão tão bem e com o vínculo, que mesmo sabendo que aconteceu com o Will e a Tessa e com a Clary e o Jace você ainda fica " AI MEU DEUS, AI MEU DEUS", mesmo sabendo que é algo quase reciclado. Então, você entende, racionalmente, que é algo reciclado, mas a sensação é tão intensa quanto foi da primeira vez que você leu algo assim e é nisso que a Cassandra me pega.
Eu gostei muito dessa leitura, apesar de ter sido um tanto arrastada no início, mas isso é comum porque a Cassandra traz sempre muitos personagens e é difícil para você acompanhar assim rápido tudo de cara. Ainda traz a reflexão que mesmo que os caçadores de sombras sejam caçadores tem muitos problemas envolvendo eles com temáticas associadas a problemas reais mesmo, desigualdade de gênero, preconceito, homofobia. Mas isso já vem sendo trabalhado no universo há um tempo.
Os "vilões" do livro estão muito associados as consequência das conclusão de As Peças Infernais, mas mesmo a Cassandra sempre fazendo um resumo para o leitor não ficar perdido, eu lembro do geral da conclusão e não de personagens específicos, então, ainda me sinto meio de fora das motivações vilanescas desse personagem em questão, mas, novamente, dá para ter uma ideia.
Tem uma questão quase repetitiva que é a relação do James, Cordelia e Matthew me lembrar muito a dinâmica da Tessa, Will e Jem. James e Matthew são parabatais, assim como Will e Jem e ambas duplas criam certo interesse pela mesma mulher, mesmo com problemáticas diferentes, para mim é difícil não ver novamente, a reciclagem e uma reciclagem ruim de certa maneira, porque diferente de Will, Jem e Tessa que eu realmente não sabia com quem ela ia ficar. Com Cordelia, James e Matthew isso é bem na cara, o que torna a dinâmica chata e você fica se questionando "Ei Cassandra, por que ce fez isso de novo e ainda fez mal feito?".
Mas outro ponto que gosto muito da Cassandra é a diversidade, tem personagens com várias ancestralidades diferentes, de diversas partes do mundo, uma miscigenação gostosa rs. E obviamente, não tem como entre oito personagens todos serem héteros, então tem bi, tem 🤬 #$%!& , tem lésbica e é legal acompanhar essa questão numa época muito conservadora e que valoriza-se principalmente a procriação, para o seguimento do nome da família.
Então, apesar dos pesares, foi uma leitura muito boa, me arrancou várias reações emocionais e depois do 40% é muito difícil largar, então você começa a engolir o livro.