Confissões de uma leitora 21/10/2020
MEU BELO PRESENTE foi um presente para os meus olhos.
É uma dessas leitura sorrateiras. Sabe, dessas despretensiosas, que pensamos “opa, as águas aqui são calmas”, e quando menos se espera, levamos dois tapas na cara.
Iniciamos a leitura pensando que será mais um clichê, mas com os desdobramentos da história percebemos que ela vai além, há uma profundidade e sensibilidade inesperadas, trazendo questões sociais pertinentes como, por exemplo, o luto em decorrência da morte e de laços quebrados em vida; a dificuldade da adoção no nosso país; o papel da mulher e os percalços da maternidade incluindo a romantização, que adoece tantas mulheres, sobrecarregando-as com responsabilidades, que deveriam ser compartilhadas; com cobranças e sentimento de inferioridade; a importância da comunicação nas relações, entre outros.
Sem contar que, embora clichê e, aparentemente, previsível, há umas tantas surpresas, que nos pega desprevenidos, e vai, assim, de mansinho, inflando a curiosidade.
Comecei a leitura querendo dar uns bons tabefes em Arthur e, posteriormente, passei boa parte querendo estapear Mika pelo seu comportamento, às vezes, pueril.
No entanto, quando nos permitimos olhar além da superfície, apesar do nervoso que Mika incita, podemos compreender as engrenagens e motivações por trás de suas ações.
Não é de se estranhar que ela se perca em seu sonho a ponto de não enxergar o que está bem diante dela tanto em relação ao noivo pilantra quanto ao próprio Arthur.
O que me trouxe algumas reflexões...
Também não é por menos sua passividade que quase chega a ser paralisante.
O medo tem disso, compromete a comunicação, o que gera mais um par de mal-entendidos, equívocos e achismos, nos deixando reticentes e cegos.
Mas, muito embora Mika sofra perdas inestimáveis, que a colocam em uma posição vulnerável, é nesse sofrimento que ela se fortalece. Os fortes também têm seus momentos de fragilidade, também precisam de colo e apoio, como Arthur, por exemplo. É um bálsamo assistir um personagem masculino não tendo receio de demonstrar seus medos.
Homens sofrem, também precisam de apoio, também se sentem inseguros e desprotegidos, pois antes de serem homens, são humanos, um pacote completo.
É fato que, independe do gênero e idade, precisamos uns dos outros não apenas para compartilhar alegrias, mas, sobretudo, para enfrentar o calvário de provações que passamos durante nossa vida. Uma rede de apoio, seja em qual âmbito for, é de suma necessidade.
A maneira que a relação deles se desenvolve é na medida certa, tijolinho a tijolinho. É uma construção gradual com erros e acertos, mas, principalmente, disposição.
Não posso deixar de citar Dona Célia, aquela vizinha que de primeira torcemos o nariz, mas quando conhecemos um pouco mais, nos afeiçoamos. Pense numa bicha sorrateira?
Antes de encerrar, tenho de confessar – sem spoiler –, que não esperava o resultado final, a autora me enganou direitinho ou talvez eu seja mais sádica hahahaa