Resenhas - Labirinto de Escombros

Alexandre Kovacs / Mundo de K 11/12/2021

Arthur Cavalcante - Labirinto de Escombros
Edição Independente - 226 Páginas - Preparação do texto, capa e diagramação: Arthur Cavalcante - Lançamento: 2020.

Um romance que flerta com a metalinguagem e que me fez lembrar do estilo de Italo Calvino (1923-1985) em obras como "Se um Viajante numa Noite de Inverno", o que definitivamente não é pouca coisa, diga-se de passagem. Em "Labirinto de Escombros", o jovem escritor alagoano Arthur Cavalcante desdobra as narrativas e personagens em múltiplas histórias aparentemente sem nenhuma conexão, enquanto conduz o leitor com segurança até a saída deste labirinto literário, fazendo-o perceber que todo o tempo havia um fio de Ariadne ligando a trama.

Na primeira parte, um guia de turismo e seu cliente – que não segue as orientações básicas de segurança – se veem perdidos ao final de cinco dias de caminhada em um bosque, sem comunicação com a equipe de resgate. Enquanto o turista rebelde, Soren, lê em voz alta trechos de um misterioso livro sem título que traz consigo na mochila, o guia, não nomeado, narra uma operação recente de resgate, envolvendo um casal e o filho pequeno, desaparecidos naquele mesmo local. Aos poucos, as histórias se multiplicam, confundindo-se com as memórias do guia-narrador e criando a sensação de um labirinto ficional durante a leitura.

"Soren levanta-se com a mochila e desce pelo mesmo caminho. Com o pé firme e nivelado, aponto para noroeste, mas Soren dá as costas e pega a primeira entrada a sudeste, tomando a frente. Pela primeira vez, algo aperta dentro do meu peito enquanto acompanho a figura de Soren se afastar. É a primeira vez que sua afronta compromete o sucesso do trajeto. Uma coisa é o aventureiro insuportável querendo sair da rotina pré-definida pelo guia; outra, é o irresponsável que, prestes a terminar o longo percurso, improvisa na última hora. Caso atinja o limite de tempo contratado, basta eu pegar o rádio comunicador e avisar o ocorrido. A equipe me encontrará em alguns minutos via GPS e Soren – mesmo contra a vontade – será convidado a se retirar do bosque." - Trecho da primeira parte (p. 12)

Durante a segunda parte do romance, o foco narrativo se concentra na história de outro narrador que passou por uma infância difícil em um orfanato, sofrendo bullying de um colega chamado Maurício. Este personagem, com quem o leitor se identifica prontamente, só encontra algum consolo no mundo da fantasia que ele encontra nos livros, aprendendo que a imaginação sempre nos transforma em pessoas melhores ao estimular o senso de empatia.

"Ele foi até o final do livro, abrindo com cuidado a última página para não receber uma revelação do enredo. Apenas queria verificar o tipo de papel utilizado e a minibiografia do autor. Além, claro, do maravilhoso mapa daquele mundo de fantasia. Uma ilustração detalhada, rica no traço, mostrando o posicionamento das cidades, a divisão territorial da civilização e o fluxo de montanhas e rios. Pegando a folha de caderno ao lado, agarrou o lápis e tentou fazer um desenho parecido com o mapa. Quando ele desenhava cada elemento, sentia como se ele próprio fosse um grande criador, uma espécie de Deus. Fez um círculo quase perfeito e rabiscou montanhas no formato de 'V' invertido. Para os rios, traçou pobremente linhas aleatórias, improvisando deltas à margem. No fim, reconheceu a simplificação. Se alguém visse aquele desenho, teria certeza de ser uma criança sem coordenação motora a responsável." - Trecho da segunda parte (p. 100)

Na terceira parte, fica mais nítida a imagem do verdadeiro narrador e os dramáticos eventos do seu passado com base na tragédia familiar que ocorreu no mesmo bosque. A chave para a conexão de todas narrativas, assim como o entendimento da trama como um todo, só será concedida ao leitor na quarta parte. Um romance forte e original que trabalha com a memória e as perdas que sofremos ao longo da vida, inspiração de toda verdadeira literatura.

"Seguindo o conselho de Renata, eles fizeram uma viagem pelo interior do estado. Acamparam numa área de árvores imensas, feito um bosque milimetricamente arquitetado para deixar os visitantes boquiabertos com tanta beleza. Com um estrondo ouviu um pássaro alçar voo na copa de uma árvore, mas não conseguiu acompanhá-lo, nem saber a origem do som. A família fazia piqueniques com Adalberto correndo ao redor da toalha que servia de mesa, e Daniel nos braços de Renata ria sem entender o que o irmão aprontava. / O destino realmente pregava peças. Onde estariam seus antigos colegas do orfanato? O que pensaria Maurício ao vê-lo naquela situação tão perfeita?" - Trecho da terceira parte (p. 180)

Sobre o autor: Arthur Cavalcante nasceu em 1989, em Arapiraca, Alagoas. Viveu a vida inteira em Marechal Deodoro e atualmente mora em Natal com a esposa. Trabalha como professor de Escrita Criativa e de Roteiro no IFRN. Coordena o projeto Sala dos Escritores, no qual desenvolve com os alunos narrativas para diversos meios. É autor do romance "Mestre de Guerreiro: entre a coroa e a flecha" (Pandorga, 2018), além de outros contos publicados.

Berta4 18/03/2021

Magnífico
Sabe aqueles livros que a gente precisa ler para entender e para sentir? Que por mais que alguém fale a você sobre a sinopse, é só lendo que você vai entender a magnitude da trama? Labirinto de Escombros é esse tipo de livro!


A sinopse é só o início dessa história, só a ponta do iceberg de uma trama recheada de complexidade e carregada de uma profundidade a cada página lida.



Em Labirinto de Escombros histórias se encontram, jornadas se entrelaçam, reflexões se misturam e cenas se desenrolam de uma forma a nos envolver na trama. Histórias essas que nem sempre se concluem, mas que nos deixa ávidos com essa leitura!
O livro é dividido em três partes e confesso a vocês que na primeira parte o livro foi um pouco confuso, eu ainda estava me habituando ao estilo de narrativa do autor. Mas depois que peguei o ritmo, a leitura se desenvolveu muito bem!
Uma leitura que me tirou da zona de conforto, mas foi extremamente satisfatória e proveitosa!

Júlio 24/09/2020

O melhor livro de 2020
Em um ano cheio de agruras, correr para pequenos prazeres é algo que nos alivia. No meu caso, a literatura sempre foi uma casa, mas existem momentos em que esse prazer se transforma numa revolução. Foi o que "Labirinto de Escombros" fez comigo. Comecei pensando que seria mais uma aventura e terminei absolutamente transtornado e emotivo.

Arthur nos faz viajar com uma escrita simples e direta, mas que não perde a poesia e a alma dos narradores envolvidos. Tem nuance, dança entre pontos de vista e abordagens surrealistas e extremamente palpáveis. No fim, nos brinda com o melhor que a arte pode nos fazer: viver outras vidas e experiências de uma forma segura.

Os personagens amam, sofrem, amam e sofrem mais ainda. No fim, é mais um retrato da vida que todos compartilhamos, dessa existência da qual não há fuga verdadeira. "Labirinto de Escombros" me deixou perdido da melhor forma possível: após ler, eu não sabia exatamente para onde olhar. Talvez a vida de todo mundo seja um pouco disto: uma mistura de prazeres, traumas e aprendizados.

Pode parecer clichê, mas no fim, é muito mais sobre a jornada que o destino. Posso dizer sem pestanejar: que bom que eu encontrei "Labirinto de Escombros" na minha jornada.

Muito obrigado por compartilhar sua arte com o mundo, Arhur!

Nati - @_fantasticomundoliterario 15/12/2020

Um verdadeiro escombro de histórias!
Labirinto de Escombros, sem dúvida, foi o livro que mais me tirou da zona de conforto nesse ano.

A trama narra a história de um guia turístico e seu cliente Soren que se veem perdidos em um bosque, sem qualquer expectativa de resgate. Enquanto buscam juntos a saída para esta aventura, os dois passam a narrar histórias: Soren sobre um livro que carrega consigo, e o guia sobre um resgate trágico do passado.

Utilizando o recurso da metalinguagem (quando alguém fala de si mesmo), o autor nos conduz a uma jornada de auto conhecimento dos personagens e nos apresenta várias narrativas emocionantes, carregadas de significados e aprendizados para o leitor. Por várias vezes pude sentir os anseios e aflições dos personagens, desejando que os dois tivessem o melhor final para essa caminhada.

Contudo, por ser um tipo de narrativa a qual não estava tão habituada, a leitura foi lenta e complexa para mim. Me vi perdida entre tantos fatos, sem saber qual era a relação deles com toda a base da trama, mas acredite: Elas vão se interligar completamente, dando o melhor desfecho para um livro como este. Valeu muito a pena estar acompanhada por estes dois personagens incríveis durante todo esse tempo!

Recomendo Labirinto de Escombros para todos os amantes de dramas complexos e bem desenvolvidos.

Mialle @mialleverso 30/12/2021

Um guia turístico e seu cliente se perdem numa floresta sem saber sobre a perspectiva de resgate e enquanto procuram por ajuda os dois começam a contar histórias.

Essa sinopse realmente não explica qual é o sentimento e a ideia desse livro, é realmente algo que é preciso ler. Não vou dizer que foi uma leitura fácil, que devorei o livro. Não foi assim, foi truncado, foi meio difícil, mas compensou muito. A cada página alguma coisa estava sendo construída, os personagens se perdendo em suas histórias e em suas memórias.

Labirinto de Escombros foi uma leitura realmente diferente do que estou acostumada. Os diálogos são realmente muito bons, o autor claramente tem um próposito, ele sabe onde quer chegar e chegou muito bem. A narrativa é realmente densa, um pouco difícil em alguns momentos.

Quero parabenizar o autor, de verdade. Eu fiquei fascinada pela ideia e como tudo ocorre até o final.

Eduardo 15/11/2020

Labirinto de escombros mesmo!
Um livro interessante, que embaralha histórias muito bem e nos deixa surpresos conforme vamos ligando as peças, juntando o que é fato e o que é ficção, nesse jogo, que o romance representa competentemente, chamado Vida.

Douglas | @estacaoimaginaria 08/12/2021

Uma grata surpresa
"Labirinto de Escombros", do alagoano Arthur Cavalcante, é um romance filosófico e uma grata surpresa.

A história acompanha um guia de turismo e seu cliente perdidos num bosque. Enquanto buscam uma saída, eles trocam histórias. Logo, somos imersos em outras tramas – a de um resgate naquele mesmo bosque, a de um garoto que sofre bullying em um orfanato, enquanto a esperança de escaparem se esvai.

A ideia é original e interessante. Em certo ponto, parece que o tal guia nos conduz para dentro de um labirinto fantasioso e confuso. Mas nós vamos seguindo, entrando a cada esquina, procurando por uma resposta. E a certeza é de que, aparentemente, somente no final é que tudo fará sentido (ou não).

A escrita do autor é madura, inteligente, audaciosa e instigante. E ainda que a narrativa seja um tanto densa, os diálogos ajudam no desenvolvimento da leitura. Além disso, o autor consegue deixar o leitor intrigado e preso na história, a ponto de nos deixar roendo as unhas e ansiosos para saber o que vai acontecer em seguida.

De fato, esse é um romance filosófico, muito bem escrito, com diferentes lições, tratando de temas como luto, amor e família. E o autor consegue construir essa narrativa de maneira impecável, e ainda consegue colocar elementos da cultura alagoana, o que torna a história ainda mais interessante.

Portanto, eu só posso desejar que as pessoas leiam esse livro. É um romance incrível, profundo, instigante, sensível e filosófico. Então, fica aqui minha indicação. E, sem dúvida, já quero ler outros livros de Arthur Cavalcante!

site: https://estacaoimaginaria.com/locomotiva-literaria/resenha-labirinto-de-escombros-arthur-cavalcante/

pausaparaler 03/01/2022

Precisa ser lido.
O início da história é repleto de informações que vão se desenrolando durante a leitura, haverá mistérios e muitas reflexões.

A história é original, a escrita é incrível e o autor usa um estilo de narrativa otimo que é quando alguém fala de si próprio.

O meu comentário sincero seria: é um ótimo livro e precisa ser lido!

Nise | @saymybook 01/04/2021

Não foi uma leitura fácil no começo, me senti completamente perdida e só depois que começou a fazer sentido. Sai completamente da minha zona de conforto!

Lidiane.Malheiros 08/04/2022

Labirinto de Escombros
É um livro que certamente me tirou da zona de conforto. Uma história com mistérios e reflexões, que vão se desenrolando durante a leitura. Uma jornada de auto conhecimento e narrativas emocionantes, carregadas de significados e aprendizados para o leitor. Para mim foi uma leitura complexa e por isso um pouco lenta, mas no final tudo fez sentido e valeu muito a leitura.
É uma história que trabalha com a memória e as perdas que sofremos ao longo da vida.

"A experiência cria calos difíceis de remover."

Danielle (@chimarraoelivros) 25/04/2022

Surpreendente
Labirinto de Escombros, de Arthur Cavalcante, mescla passado, presente, lembranças, devaneios e contação de histórias.
Por diversos momentos parece algo saído de uma obra surrealista. Um labirinto metafórico, formado por escombros da memória.
Eu fiquei presa a escrita do Arthur e queria saber como se daria e se haveria uma ligação entre as diferentes partes da história. O que eu não esperava era o desenrolar da parte 3 do livro, que fez com que eu terminasse a leitura emocionada.
Como acontece um vai e vem de histórias em que o leitor não sabe bem pra que caminho vão ir, a leitura é meio truncada, mas no que vamos tendo pistas do que pode estar por vir, ela vai se desenrolando de uma forma que achei incrível!
A forma de abordar o tema e o ponto de vista escolhido foi um que não havia visto e achei que o autor soube conduzir muito bem.
Adorei o livro e recomendo demais a leitura! Mas minha dica é fazer como eu, ler sabendo apenas o que está na sinopse e opiniões que não entregam muito da trama, para que a experiência tenha mais impacto.

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