Janaina Edwiges 06/05/2023
O navio da morte!
O vapor Demerara partiu de Liverpool no dia 15 de agosto de 1918 e chegou no Recife em 9 de setembro, trazendo para o Brasil, além de centenas de imigrantes, a gripe espanhola, doença que provocaria a morte de mais de 35 mil pessoas. A historiadora Heloísa Starling, em entrevista ao site da BBC, nos ensina que "não se tem notícia de quando o vírus subiu a bordo: se na escala em Lisboa, ou se o navio já zarpara infectado da Inglaterra"..."Seja como for, uma vez em solo brasileiro, espalhou-se fácil e rápido." Um fato histórico relacionado a essa enfermidade, que vemos retratado no livro, é o de que durante a pandemia, muitas famílias deixavam seus mortos nas calçadas de casa para serem recolhidos pelas funerárias. Não havia leitos suficientes para atender aos milhares de doentes e faltava coveiros para sepultar tantos cadáveres.
Este romance é uma excelente mistura de ficção com acontecimentos históricos e também da família do próprio autor. O protagonista da obra é Bernardo Gutiérrez Barreira, um galego que chegou ao Brasil no Demerara e que na vida real foi avô do autor. Bernardo foi um dos inúmeros imigrantes, na sua maioria europeus, que vieram para São Paulo na segunda metade do século XIX e ao longo do século XX, sendo empregados nas lavouras de café e fábricas. Através das vivências do jovem rapaz, vamos percebendo muitos aspectos das condições de vida dessas pessoas e as inúmeras dificuldades que aqui enfrentaram, como moradias precárias em cortiços, baixos salários e longas jornadas de trabalho.
Comprei este livro em 2020, mas justamente por estarmos vivendo o sofrimento real da pandemia da COVID-19 não consegui fazer a leitura na época. Acredito que para quem procura opções na literatura brasileira contemporânea, Demerara é um ótimo romance!