Helder 19/02/2022Relato da AmarguraVolta ao mundo – 7º País : Antigua e Barbuda, local de nascimento da autora Jamaica Kincaid
Até o momento, em meu projeto de volta ao mundo este foi o 1º livro que não me agradou.
Diferente do que o título indica, o livro não conta a história de uma mãe, mas sim de Xuela Claudette Richardson uma mulher cuja mãe morreu no parto, e cujo acontecimento foi a porta de abertura para um enorme buraco na alma.
Sem esposa, o pai não sabe como cuidar da criança, então a leva para viver com a mulher que lavava suas roupas, que passa a receber também para criar a menina
Porém, perceba que criar aqui resume-se a alimentar e vestir, já que esta mulher não sente nenhum carinho pela menina.
E assim Xuela segue a vida tornando-se cada vez mais seca, já que nunca recebe carinho de lugar nenhum. Seja na escola, na nova família que o pai cria ao se casar novamente ou na casa do amigo do pai onde vai morar quando adolescente.
O livro é curto, mas difícil de ler. O texto tem trechos muito bonitos, com profundas reflexões, mas no fim para mim é como se fosse um fluxo de consciência da personagem destilando todo o seu ódio das pessoas que vão passando pelo caminho. E haja ódio.
E para mim, ódio gratuito, pois facilmente a vida da personagem poderia ter sido perfeita, se ela não fosse tão autodestrutiva.
Longe dos livros comuns onde personagens nascem da dor e buscam a redenção, aqui me parece que Xuela só se sente bem causando cada vez mais dor e destruindo tudo ao seu redor.
Um dos pontos mais fortes e muitas vezes incomodo é a ojeriza que a personagem tem a ser mãe ou gerar descendentes. É como se ela passasse a vida toda com o objetivo de não perpetuar sua raça sobre a terra.
Só lendo para entender. Ou não, pois confesso que para mim tornou-se impossível vestir os sapatos de Xuela e perdoar qualquer atitude da personagem.
No fim, talvez a maior vingança da vida contra a personagem é que todos que ela desprezava se foram e ela teve que envelhecer sozinha a todos.
Também preciso deixar claro para que não se engane quem estiver lendo esta resenha, que este aqui não é nenhum ágil thriller de psicopatas que adoramos odiar. Bem diferente disso, é um livro com uma linguagem linda, mas muitas vezes rebuscada, usada para descrever simplesmente uma mulher amarga, o que serviu cada vez mais para me afastar da personagem.
A autora traz ainda um pano de fundo sobre as diferenças sociais e o processo de colonização da ilha caribenha que também é muito interessante, já que o pai de Xuela era um ruivo descendente de europeus e sua mãe uma negra caribenha descendente de africanos, mas mesmo estas reflexões se perdem no meio do ódio geral destilado em todo o texto pela personagem, que simplesmente não preza ninguém.
A escrita poética da escritora me deixou curioso em ler o outro livro dela que já foi publicado no Brasil, mas agora confesso que preciso de um tempo distante deste universo para me livrar da carga pesada trazida por esta personagem.
Por fim, fico na dúvida do real significado do título do livro, pois aqui realmente não existe nenhuma história de nenhuma mãe. E duvido sinceramente que a mãe de Xuela tivesse um terço da amargura que ela atraiu para sua vida.