leticiapinatti 09/01/2024
Reflexivo e rápido
Bem, é o primeiro livro de ficção cristã que leio e, também, o primeiro com uma narrativa tão eloquentemente rápida que me causou certo desconforto. Não é um atributo ruim, pois, afinal, fala sobre uma pessoalidade e não coletividade; mas, como estou acostumada a ler obras com capítulos mais densos, tramas com aspectos psicológicos bem explorados e intrínsecos ao tempo, que encaixam-se devagar ao apararem às arestas, acabei não me afeiçoando aos personagens do modo que se espera afeição. A protagonista conhece o mocinho no capítulo x e no y já se fala sobre amor incondicional, o que soou, para mim, incoerente. De novo, falo de uma ótica particular que nada interfere na qualidade da obra em si, visto que o amor e sua construção ganha várias e transformadas formas e valores para cada um de nós. E não acredito ser um escapismo, estratégia do eu lírico que se vale da fé. É possível construir sem apressar, ainda que se conte com elementos divinos ou sobrenaturais.
Yael é uma personagem determinada que, em um momento de vulnerabilidade e injustiça, perdeu-se da própria essência, amargurando-se pelas dores de um pecado coletivo, e ao restituir essa essência ganha nova vida, encontrando e aceitando o amor em si e no externo. Clichê? Sim. Mas quem disse que clichês são de nada proveitosos? E mais, o que não é clichê hoje em dia? Não ter fé, nutrir repulsa ao Evangelho ou ressentir-se de Cristo e destilar niilismo como um ?perfeito? cidadão pseudo consciente, também é clichê. Diga-se de passagem.
Já Calebe é o típico personagem escrito por mulher. Não tóxico, voltado aos princípios vistos como corretos e bem-apessoados, e dedicado à fé e ao casamento. Sempre tem a palavra certa a dizer, o conselho certeiro. Se fica confuso, logo se corrige e põe à prumo. O que é bom e louvável, no entanto, pouco crível. Mesmo homens da fé questionaram e, em momentos, cometeram erros terríveis, vide Davi e Abraão. Davi matou um inocente por cobiça e o outro apressou-se com a concubina ao invés de ser paciente na promessa que Deus o havia agraciado. Seria melhor, a meus olhos, um personagem masculino real, com defeitos reais, independentemente de ter sido escrito por uma mulher e ser cristão. Cristão não é sinônimo de perfeição. Cristão também erra e erra feio. Como não estamos, aqui, falando de pessoas maldosas, que se alegram no mal, posso tranquilamente dizer que: erros não devem definir, tampouco anular consequências.
No fim, é uma história de superação, que nos leva a reflexionar acerca do ressignificar ? tanto das nossas escolhas e consequências quanto às escolhas erradas de terceiros que nos afetam de modo cruel. O contato com o ser divino se dá de maneira simples, onde é possível compreender que Ele trabalha na simplicidade, no corriqueiro, abençoando e confortando, também, para além do simples. No entanto, é importante ressaltar que essa relação e contato não são explorados na profundidade durante os acontecimentos; de certo pela narrativa mais do que direta. Sabe um Deus de ouvir falar? Para quem tem mais conhecimento acerca da Palavra e maior intimidade com ela, compreenderá o que digo ao ler a obra. Muitas mensagens da obra são impostas pelo que sabemos, não pelo que lemos de fato.
Espero não ter chateado ninguém que gosta da obra. São apenas considerações e considerações não são verdades absolutas.