spoiler visualizarRonaldo Thomé 28/06/2021
Feminismo para Todo Mundo
Excelente trabalho introdutório, para quem (assim como eu) nunca leu um livro sobre o feminismo e as pautas, as reivindicações que tal movimento defende.
Daniela Moraes Brum iniciou a falar sobre o assunto através da página Femiinismo, no Instagram, e desde então se tornou uma divulgadora do assunto. Seu jeito de escrever aqui é bem simples, introdutório e didático, quase como um bate papo ou uma entrevista, o que não significa que não possua densidade e rigor.
O livro inicia explicando os conceitos de raça, classe e gênero, caros ao estabelecimento do feminismo. A autora nos menciona, também, a teoria da Interseccionalidade, criada pela autora negra Kimberlé Crenshaw, muito importante para o movimento atualmente - a ideia de que diversas formas de exploração e discriminação sociais se acumulam, de acordo com as posições que você ocupa na sociedade.
Essas ideias são essenciais para entender que, na sociedade em que vivemos, há pessoas que sofrem diversos níveis de exploração, e que a vivência de cada um(a) é diferente. Por exemplo: uma mulher branca, de classe média e hetero, pode vir a sofrer agressão por parte de um marido, namorado etc. Outra mulher, negra, de classe baixa e LGBT, provavelmente terá outras experiências e formas de ver o mundo. Cabe às mulheres em geral buscarem se unir, se conscientizar e se organizar em lutas que possam privilegiar esse coletivo, respeitando tanto a vivência como a realidade - e os direitos - de cada uma.
Temas caros ao movimento são abordados de maneira direta e eficiente - como o feminismo liberal, as muitas formas de "empoderamento" na mídia em geral, o conceito de sororidade. Pautas como a maternidade, por exemplo, são fundamentais para entender que há muita confusão - e desinformação - sobre as questões do feminismo.
Sobre esse último ponto, Daniela faz questão de desmentir inúmeras falácias sobre o movimento. Por exemplo: você pode ser uma mulher feminista, e ainda assim ser mãe e dona de casa, caso você deseje isso. O movimento feminista não almeja que as mulheres deixem de ser mães, caso queiram fazê-lo; no entanto, é fato que busca a autonomia e liberdade de a mulher poder escolher seu caminho, sem se sentir obrigada a ser esposa, a ser mãe, nem dona de casa. O fato é que vivemos em uma sociedade que vê a maternidade quase como uma obrigação para as mulheres.
Tendo isso em mente, diversos outros temas são trabalhados pela autora: as feministas devem votar apenas em mulheres ou em homens? Por que as feministas querem o aborto? Elas querem se igualar aos homens? Basicamente, todas essas perguntas são causadas ou pela falta de informação ou mesmo desonestidade. As feministas não querem ser IGUAIS aos homens, apenas que seus direitos sejam respeitados e que os homens abandonem as muitas formas pelas quais discriminam ou subestimam as mulheres. Uma feminista pode votar em um homem, e deixar de votar em outra mulher, desde que as pautas e assuntos tratados pelo candidato atendam ao que o movimento necessita; a legalização do aborto, em todo caso, é um tema caro ao movimento respaldado por informações biológicas e médicas.
Daniela finaliza sua obra comentando a respeito da importância dos movimentos populares dentro do feminismo, em especial devido à pandemia de Covid-19. Um trabalho introdutório acessível e honesto, cuja intenção é atingida com muito sucesso.
Indicado para: quem quer conhecer sobre esse movimento, que até hoje carece de aceitação por falta de entendimento, bem como preconceito.
Nota: 9,5 de 10,0.