Jô 15/04/2024
Este livro começa quase que imediatamente depois do segundo volume. Audrey, seu tio e Thomas Cresswell, o paquera e parceiro de investigações de Audrey, estão à bordo do RMS Etruria, em uma viagem de uma semana da Inglaterra para os Estados Unidos. A ação não demora a acontecer, pois enquanto o Festival Enluarado se apresenta no salão principal para o deleite dos passageiros, um tenebroso assassinato ocorre. Uma jovem na mesma mesa de Audrey e Thomas é morta com várias facas nas costas. E ninguém viu nada.
O tio de Audrey é um renomado perito forense e ensinou o ofício a Audrey às escondidas em um primeiro momento, já que seu pai proibiria. Thomas é outro aprendiz que ama a srta. Wadsworth, além de ser muito inteligente e um brilhante perito em cenas de crimes. Ainda que eu ache que Kerri pesa a mão na paquera e no "fogo da paixão" que só falta tornar esses dois em uma pilha de cinzas, acho OK quando eles flertam, mas ele são ainda melhores quando trabalham juntos para solucionar um caso.
É por isso que esse livro decpciona. Enquanto vemos uma colaboração intensa dos dois nos livros anteriores, com cada um tendo um papel preponderante para solucionar os crimes, neste aqui os dois parecem apenas dançar em volta de uma terceira pessoa que a autora colocou para criar um triângulo amoroso ridículo de tão ruim. Sabe quando é algo que não precisava ser inserido? Como se a autora quisesse criar um conflito entre os protagonistas e não encontrasse outra forma de fazer isso? Esse pivô dessa angústia toda é Mefistófeles, o mestre de cerimônias do Festival que parece misterioso e sedutor (claro que parece). Ah, contei que Audrey não vê a cara de Mefistófeles por uns 80% do livro? Ele usa máscara O TEMPO TODO e Audrey ainda cai de amores por esse sujeito em pouquíssimo tempo!
Eu queria ciência forense, investigação, pistas e análises de cenas de crimes. O que eu recebi foi triângulo amoroso, dúvidas de Audrey sobre seus sentimentos, o apagamento de Thomas em boa parte do romance e um desfecho sem graça nenhuma. O tal do "feminismo" da Audrey, de querer o direito de fazer suas próprias escolhas, pelo visto, só se aplica a ela, não à sua prima Liza, pois Audrey interfere na vida da prima, que também queria o direito de fazer suas escolhas e é impedida pela hipocrisia de Audrey. Segundo, a linda parceria de Thomas e Audrey dos livros anteriores é destruída aqui, pois Thomas é tratado feito um capacho enquanto Audrey não precisa de ninguém (só de Mefistófeles, elevado ao status de O CARA por alguma razão misteriosa). Sério, que deceção. Que livro irregular e caótico foi esse?
Também não entendi o motivo do título Escaping From Houdini ou O Grande Houdini como foi traduzido, já que as coisas não se conectam. Não posso passar disso, pois daria spoilers do final, mas acredite, o título foi outra decepção. Nos livros de Kerri, a revelação do verdadeiro criminoso sempre é um momento de suspense e surpresa, o que não aconteceu aqui. Quando se revela a autoria dos crimes eu nem pisquei de emoção, de tão saco cheio que estava ao virar a última página. E convenhamos: o que raios se passava com esses passageiros, que estão DE BOAS, vendo espetáculos circenses, enquanto tem pessoas sendo mortas por aí??
Acho bacana o fato de Audrey ser uma moça vitoriana que luta para ser a melhor cientista que puder. Sei que ela é jovem, que pode ter uma série de dúvidas sobre sua vida futura, sobre Thomas, é até natural pela idade dela, mas MELDELS, sabe? É um livro sobre lamúrias de amor do começo ao fim, com um Mefistófeles que não passa de uma cópia mal acabada de Thomas, fazendo inclusive o mesmo tipo de piadas sarcásticas. A inclusão da prima de Audrey na história também me pareceu sem sentido algum, já que ela serve para absolutamente N A D A no enredo. Se tem algo que salva o livro são os diferentes artistas do festival, muito bem descritos.
Terminei o livro apenas para ver algumas coisas sendo resolvidas, mas nem tudo se resolve, deixando um gancho para o próximo livro. Que eu pretendo ler, claro, mas com expectativas menores. Com relação à edição, ela segue o padrão das edições anteriores, em capa dura, papel amarelinho, um belo trabalho gráfico interior e menos problemas revisão, algo que foi um problema no livro anterior. A tradução é de Ana Death Duarte e está muito boa.