Mari 17/01/2023
E se, bem embaixo dos nossos narizes, existisse magia?
Na caótica São Paulo, infortúnios diversos ocorrem corriqueiramente, e enquanto a maioria é causada por nós, reles comuns, outros são causados por forças mágicas. O trabalho de Ísis, uma bruxa, é monitorar esses acontecimentos e intervir caso haja algum envolvimento mágico. Ou ao menos é o que ela deveria fazer. Na prática, ela quebra algumas regras pelo bem maior. Ela só não imaginava que, entre esses infortúnios corriqueiros (que ela supostamente não deveria se envolver) haveria mágica no meio.
?Porém Bruxa?, de Carol Chiovatto, é um romance adolescente que, no início, não me prendeu muito. As constantes menções a minorias e inserção delas a cada cinco linhas foi um pouco chato de se ler, assim como certas frases ou expressões que, na minha opinião, eram desnecessárias. Em um histórico de leitura, comentei que parecia que estava lendo tweets de uma adolescente. Note que eu mesma sou de esquerda e, caso tivesse sido abordado de outra maneira (ou talvez não com tanta insistência), eu com certeza teria adorado essa inclusão.
Quando me acostumei com isso, e ignorei o fato um pouco, admito que comecei a gostar do ritmo de leitura. Os capítulos são curtos, a leitura é fluida, e os personagens e seu envolvimento com a protagonista são um fator muito positivo ? com exceção da relação entre o Murilo e a Ísis, que qualquer interação minimamente romântica entre eles para mim era intragável.
A história principal e seu desfecho foi interessante, e me deixou bastante curiosa para saber mais sobre os dois tipos de bruxaria, história, poderes e afins. Creio que o livro poderia ter mais detalhes sobre essas questões, e achei que alguns pontos poderiam ser melhor explicados ? como a família da Ísis, sua introdução à magia, sua vida em Santos, suas amizades ?, mas descobri que pode haver uma continuação, então espero que possamos ver mais sobre a Ísis por lá.
Falando nela, Ísis é ? finalmente! ? uma personagem feminina excelente. Tem personalidade forte (e não estou falando daquela pessoa que se acha superior e a cada 5 palavras, 6 são grosseria), é decidida, corajosa, e não pauta sua vida em relacionamento amoroso. Eu certamente adoraria ver mais dela futuramente, assim como seus amigos, que são tão carismáticos quanto ela. A construção de personagens foi deveras uma característica muito positiva ? e talvez o que me motivou a continuar, apesar das impressões iniciais.
A diversidade cultural apresentada no livro foi outro ponto que me manteve firme. Crenças e religiões são um foco e, inclusive, o plot central da investigação gira em torno disso. Alguns conceitos e descrições eram confusos, mas isso talvez seja mais por minha ignorância do que pela escrita em si, e não deixam de adicionar uma riqueza cultural enorme ao enredo.
O final, porém, me decepcionou um pouco. Não por ser ruim, pelo contrário, mas por me deixar órfã de algo que eu gostaria que acontecesse. Foi tão súbito que virei a página certa de que haveria mais um capítulo, somente para me deparar com os agradecimentos. Mas, como disse, quem sabe na continuação.
O romance de estreia de Chiovatto é certamente uma grande adição à literatura brasileira, e imagino que um público mais jovem do que eu ? entre 15 a 20 anos ? vai gostar mais dos pontos que eu não achei tão bons, principalmente por serem didáticos. Eu certamente gostaria que meus futuros filhos adolescentes o lessem e fossem expostos a esse tipo de diversidade, mas eu, que já fui há muito instruída, não apreciei tanto.