Helder 28/12/2021Festa estranha, com gente esquisitaLuxuria de Raven Leilani é um achado.
Não acho que seja o livro do ano, mas com certeza é uma obra extremamente complexa e moderna, sem ficar esfregando esta modernidade na cara de quem está lendo.
As relações existentes neste livro são extremamente complexas e acabam mexendo com o leitor.
Eddie é uma garota de 25 anos. Negra, pobre e perdida na vida.
Ela trabalha numa editora infantil onde ganha pouco, mas já dormiu com quase todos os funcionários.
Ela conheceu Eric pela internet. Ele tem o dobro de sua idade, é branco, casado, com uma filha e classe média.
Eric tem um casamento aberto com Rebecca. Uma personagem que até agora estou tentando decifrar.
Um dia Rebecca conhece Eddie, e ao saber que esta perdeu o emprego e não tem para onde ir, chama-a para morar na sua casa, com ela, Eric seu marido e Akila, a filha adotada do casal, que por um acaso é negra.
E assim a autora subverte ou extrai diversos preconceitos que estão inseridos no leitor.
Quando Eddie passa a morar naquela casa, passamos a ser enredados em relações que nos parecem completamente improváveis, mas é assim que a autora vai nos mostrando de maneira sutil diversos preconceitos institucionalizados em nossas raízes, e sem levantar bandeiras.
A obra tem um clima constante de tensão e é difícil para o leitor não julgar os personagens de acordo com seus próprios preconceitos.
Edie parece só tomar atitudes erradas. Às vezes é extremamente liberal. Outras é completamente submissa, e isso não se refere somente a sexo.
NO fundo, Eddie teve uma vida tão sofrida e solitária, que ela se considera invisível. Como raça, classe e gênero, se é que isso é possível.
O livro tem cenas sensacionais que mexem com o leitor ao criar relações que nunca esperamos que possam acontecer.
É difícil entender o que Rebecca vê em Eddie, mas é muito legal ver a relação que vai sendo criada entre Akila, a menina negra adotada por um casal branco e a jovem Eddie, que simplesmente consegue enxergar o mundo da pequena garota negra vivendo num rico subúrbio veladamente racista.
Infelizmente para a história , e felizmente para os leitores, a autora não busca soluções fáceis e está aqui para mostrar a vida real, mesmo que isso doa.
E é incrível como consegue fazer isso em tão poucas páginas.
E a vida não é fofa e cor-de-rosa.
Festa estranha, com gente esquisita! Eu acho que queria um final mais feliz. Torço realmente para que alguém enxergue Edie. Sei que lá dentro tem coisa boa. Ela só não consegue parar de se sabotar