O fim

O fim Karl Ove Knausgård




Resenhas - O fim


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Mario Miranda 06/04/2021

Knausgard já se referiu em inúmeras oportunidades que a leitura de sua coleção "Minha Luta" pode ser feita em ordem aleatória, ou mesmo sem realizarmos a leitura de todos os 6 livros. Acho que ele acertou na sua declaração: a Leitura do último livro pouco, ou nada, contribuiu para a obra como um todo.

Acompanhei cada um dos lançamentos desta obra que de certa forma revoluciona a literatura do século XXI, ao ficar no limiar entre o real e o imaginário, a biografia e a literatura.

Metade da obra é dedicada a Biografia de Hitler e a outra metade a crítica literária, de forma que a leitura em si torna-se bastante enfadonha para os que não são realmente apreciadores do tema. As discussões familiares também tornam-se um pouco circulares, sem um claro avanço (notadamente nas 100 páginas finais que se concluem de forma abrupta - talvez o desejo do escritor em deixar de ser escritor).

Para quem chegou até este livro seguindo a ordem dos livros, a saga conclui com a publicação do 1º livro, as complicações inerentes a esta publicação, e os passos seguintes do autor para concluir sua narrativa. Obstinado, Knausgard decide superar tudo - e, principalmente, a todos - para finalizar o seu projeto.

Dos 6 livros, me agradaram de sobremaneira os 4 primeiros. Mas, sem dúvida, o que menos despertou meu fervor, foi o seu Fim.
comentários(0)comente



Rayssa 09/04/2023

O fim e a série Minha Luta.
Finalmente conclui essa enorme saga de um dos autores contemporâneos mais importantes da literatura mundial. Foi uma leitura extremamente recompensadora. Assim que terminei o primeiro livro, fiquei encantada e ansiosa para ler os demais. O primeiro volume nos apresenta o tema da morte, ao narrar a experiência pessoal do autor com a morte de seu próprio pai. De forma sempre muito honesta e direta, o autor fica, digamos assim, nu em frente ao leitor, deixando passar todos os seus sentimentos e pensamentos do mundo de forma transparente, e assim o é durante toda a série de livros.

Muitos se perguntam o que há de tão relevante em ler uma história tão longa de um homem apenas comum. O que eu vi nessa série foi uma oportunidade de adentrar um mundo alheio, que ao mesmo tempo nos identifica como humanidade. São ações, gestos, momentos que todos nós podemos passar, e com isso podemos nos identificar com os personagens reais, tão crus, verdadeiros, com defeitos e benevolências. Foi um longo tempo vivendo suas aventuras, romances, tristezas e alegrias, memórias tão instigantes que me permitiram o mais importante em uma leitura: sentir.

Além de tudo, aprendi muito sobre a própria literatura e a arte da escrita. São diversas referencias literárias, de obras e outros autores. Em todos os livros o amor pela literatura perpassa pelas páginas e isso é, de certa forma, muito empolgante para o leitor.

Sobre o último volume, creio que seja o mais inusitado de todos. Começamos com o autor narrando a própria jornada com a publicação desses livros. Com ameaças de processos, e brigas, decepções com as pessoas envolvidas, o autor reflete em como essa saga afetou mais do que ele pensava que poderia afetar a vida dos envolvidos. A metalinguagem usada aqui nos deixa ainda mais próximos de sua vida e do processo criativo.
Porém, é nesse momento que o autor deixa de lado o aspecto autobiográfico de sua obra e adentra em um enorme ensaio sobre questões diversas, entre elas, a arte literária, a arte em si, a humanidade e a ciência e, sobretudo uma análise profunda de Minha luta, livro homônimo escrito por Hitler. Karl Ove analisa aspectos sociais e filosóficos da ascensão de Hitler na Alemanha e o holocausto. São páginas muito interessantes e enobrecedoras.

Em que pese a excelência desse grande ensaio, não tenho certeza se ele foi bem colocado nesse livro, ou se teria sido melhor ser lançado em apartado, em uma obra singular exclusiva, uma vez que destoa tanto do tom dos demais livros da série. Ademais, vejo que, como o próprio autor narra que os últimos volumes teriam que ser lançados no menos período de tempo possível, esse último volume parece ter sido escrito com pressa. Algumas coisas ficam bem repetitivas e carecem de edição.

As últimas páginas são muito intensas. É o momento em que o autor narra o problema de bipolaridade e a internação de Linda Knausgard, também escritora, e sua então esposa, em um hospital psiquiátrico. Sozinho com 3 filhos pequenos e a esposa com um gravíssimo problema psiquiátrico, o autor só pode contar consigo mesmo para encarar a vida e todas as responsabilidades. É um momento realmente tocante e angustiante.

Minha luta é uma série deslumbrante, corajosa e inovadora. As palavras vêm do fundo do coração do autor e vemos isso o tempo todo. Ao romper com as amarras da ficção literária, a realidade aqui se apresenta com uma força crua, inegável, perturbadora até. Mas tudo me deixou tão próxima do autor que, agora, ao final, me sinto órfã. Recomendo sem dúvidas a leitura de toda a série. Não posso dizer que foi fácil, ou rápido, mas posso dizer que valeu muito a pena e me transformou como leitora.
Diego 09/04/2023minha estante
Muito boa resenha, me deu vontade de ler rs


Rayssa 09/04/2023minha estante
Obrigada. Leia sim!




Camila Faria 20/05/2021

Três anos depois, finalmente pude ler o tão aguardado último volume da série Minha Luta ~ o livro anterior foi lançado em agosto de 2017. Pra quem não sabe do que se trata, tenho um post bem explicativo (e elogioso) sobre os três primeiros livros. Como esperado, o estilo do autor continua o mesmo: a sua maneira de contar a própria história, com os altos e (muitos) baixos, permanece cativante. Nesse último volume Karl Ove descreve, em detalhes, a reviravolta causada pela publicação do primeiro livro da série: o autor foi processado por familiares por calúnia ~ entre outras confusões ~ e a sua vida virou motivo de fofoca e intriga na imprensa escandinava. A digressão mais aguardada por quem vem acompanhando a série (e também a mais temida e a mais odiada por alguns) é o longo ensaio sobre Hitler, 400 páginas num livro de mais de 1000. Mas vale destacar que ele não se limita a escrever sobre a infância/juventude/ascensão do ditador, que em si já é interessante; Karl Ove também discorre sobre arte, literatura, linguagem, identidade… Eu, particularmente, gostei (embora ocasionalmente tenha achado BEM cansativo, especialmente as 51 páginas esmiuçando a poesia de Paul Celan). Também não posso deixar de mencionar o meu desconforto com as páginas finais, nas quais o autor descreve minuciosamente a doença mental da então esposa (a escritora Linda Boström Knausgård) ~ embora claramente essa superexposição tenha sido um dos fatores que contribuíram para o agravamento da sua condição. Um final audacioso, sem dúvida, para esse MEGA projeto autobiográfico.

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-29/
comentários(0)comente



Escritor.Lucas 01/01/2023

Sensacional
Karl Ove fechou com chave de ouro sua história narrada em MINHA LUTA. Foram seis livros ao todo, sendo esse último com mais de mil páginas. Apesar de todos os volumes serem longos, sua escrita torna a leitura fluida. Para quem gosta de livros bem descritos, recomendo.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Cassionei 08/04/2021

O acerto de contas de Karl Ove Knausgård
O fim inicia pelo começo, ou seja, o lançamento do primeiro volume de Minha luta, um romance dividido em seis longas partes, que Karl Ove Knausgård lançou entre os anos de 2009 e 2011 em seu país, a Noruega, e somente agora tem concluída sua publicação no Brasil, pela Companhia das Letras. São milhares de páginas que têm como protagonista e narrador o próprio Karl Ove. Os demais personagens são seus familiares, amigos, alunos, escritores, editores, todos (com algumas exceções devido a ameaças de processo) com seus nomes reais e retratados de forma fiel (ou assim nos quer fazer crer o autor) à realidade, sem nada de ficção, mas com a roupagem de um romance, um longo romance, um enorme romance, um pesado romance.

Temos aqui um Karl Ove Knausgård preocupado com a reação das pessoas mencionadas, pois antes da publicação envia por e-mail os originais para saber a opinião delas, o que me lembrou de um autor brasileiro, Jacques Fux, que usa, de forma irônica e ficcional, esse recurso no romance “Brochadas: confissões sexuais de um jovem escritor”, cujo protagonista, que tem o mesmo nome do autor, conta suas falhas na cama e pede autorização das “vítimas” de seus fracassos para utilizar seus nomes nas narrativas.

Karl Ove provoca a irritação de seu tio, irmão de seu pai, que percebe erros factuais e afirma que a história irá manchar a memória da família. Ameaça processá-lo e, por isso, é quem acaba sendo o responsável pelo sucesso da obra, uma vez que deixa vazar tudo aos jornalistas, despertando interesse pelo romance antes mesmo de seu lançamento. É o que afirma o amigo de Karl: “vai ser uma publicidade incrível para o livro”.

Os detalhes da rotina familiar do escritor mais uma vez marcam o tom dessa última parte de Minha luta. O dia a dia com sua mulher, Linda, também escritora, e os três filhos pequenos é descrito de forma minuciosa: pôr as crianças para dormir, preparar as refeições, levá-las à escola infantil comunitária, ir às compras, lavar roupa. Nada disso, porém, se torna monótono, pois a escrita de Karl Ove é envolvente, tanto que consegue dar saltos no tempo sem que percebamos, além de inserir trechos ensaísticos que dão um intervalo na longa narrativa.

Em O fim, Knausgård extrapola nesse quesito ao escrever um capítulo de 400 páginas totalmente teórico, um livro dentro do livro, em que discute a questão dos nomes de personagens, do título de obras e por que ter denominado sua série romanesca com o nome do livro maldito de Hitler. Para tanto, destrincha os trechos da obra do ditador, citando inclusive enormes trechos, lembrando como as memórias de Hitler acabam sendo distorcidas, comparando-as com trechos de escritos de, entre outros, Kubizek, amigo do então jovem genocida, o que de certa forma explica o porquê das discrepâncias entre o que Karl Ove lembra e o que o seu tio disse que realmente aconteceu.

“Claro que não podemos chegar à verdade sobre as coisas realmente se passaram, porque essa verdade pertence ao instante e não pode existir fora do instante, mas é possível olhar ao redor, iluminar o que aconteceu a partir de vários ângulos, pesar a probabilidade de uma coisa e a probabilidade da outra, e nessa tentativa de esforçar-se de maneira consciente para desviar os olhos daquilo que mais tarde aconteceu, ou seja, esforçar-se para não ver determinado traço de caráter ou determinado acontecimento como um sinal de outra coisa que não aquilo de fato é em si mesmo.”

O narrador ainda lembra as crises de depressão de Linda Boström Knausgård, que acaba sendo internada em um hospital psiquiátrico. Anos depois, separada de Karl Ove, ela iria ser internada outras vezes e sofreria terapias dolorosas, contadas em A pequena outubrista, publicado por aqui no final de 2020 pela Editora Rua do Sabão. É através da literatura, portanto, que ambos acertam contas com a vida e refletem sobre tudo a seu redor: “A beleza, ou seja, a linguagem literária, o filtro através do qual o mundo é visto”.


site: https://cassionei.blogspot.com/2021/02/na-minha-coluna-no-digestivo-cultural.html
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR