Camila do Projeto Invisível Visível 09/07/2021
Resenha de "Alma" (#6)
“Alma”, de Paloma Rodrigues, é uma curta narrativa que nos apresenta o dom da personagem que empresta seu nome à obra, um bebê que é capaz de ver certos eventos que acontecerão no futuro e compartilhá-los em sonho com a mãe e o irmão. Como Alma ainda é muito nova para intervir nesses acontecimentos, que se mostram prejudiciais às pessoas de seu convívio, ela, bastante engenhosa, acaba optando por pedir apoio logístico à família para a solução das pequenas tragédias do cotidiano prestes a acontecer ao seu redor.
Assim, Alma, Mike e Helena se tornam uma espécie de heróis de pequenas causas, com Alma transmitindo os problemas para os mais velhos e estes buscando “traduzir” as imagens infantis que a pequena lhes apresentava e agir em prol do resultado que preservasse os envolvidos, mudando o curso dos eventos. A forma como as missões que lhes são incumbidas não-verbalmente são abraçadas sem pestanejar é admirável e até mesmo um exemplo, inclusive de aceitação familiar.
O maior desafio é proposto quando Alma produz uma imagem que demanda um enorme esforço de interpretação: os três são atingidos por um terremoto, seguido de uma nuvem gigantesca de fumaça e fogo, que consome o irmão e a mãe em chamas. Alma, que ainda não pode falar, continua transmitindo esse porvir reiteradamente, e o pavor toma conta da família, que deve descobrir como evitar que isso aconteça antes que seja tarde demais.
A escrita escolhida pela autora é bem bonita em sua simplicidade. Temos acesso à versão da história primordialmente através dos olhos de Mike, um menino de 12 anos que nos proporciona adentrar essa intimidade familiar por sua percepção ainda um pouco infantil. Ao mesmo tempo, não se tem explicação do porquê de esses eventos se desenrolarem, de Alma poder fazer o que faz, não sendo esse sequer o ponto central da trama, que se serve tranquilamente da fonte do realismo fantástico.
O desfecho é inicialmente imprevisto e, a cada nova descoberta, é tecida a homenagem da obra à inocência e pureza da infância que Alma ainda carrega consigo, mesmo já sendo detentora de tamanho conhecimento de inegável responsabilidade adulta.
Mais uma vez, a autora não deixa restarem dúvidas de que, nas suas obras, os animais têm posição central garantida e a forma de tratamento dos humanos para com eles consiste em um definidor de caráter deveras objetivo e, quem sabe, infalível.
Boa leitura!
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