caio.lobo. 07/11/2020
Kant aqui não é tão difícil como em A Crítica da Razão Pura
Livro difícil de encontrar numa tradução atual, essa versão minha é de 1943 (as traduções antigas parecem melhores inclusive) e é de Portugal. Aqui Kant diferencia o belo do sublime. Belo é tudo o que é agradável e que nos conforta, já sublime é o que nos impressiona, e grandioso e até pode nos aterrorizar. Um arco-íris é belo, uma forte tempestade é sublime; uma poesia pastoril é bela, um épico como O Paraíso Perdido de Milton é sublime. O oposto de belo é o feio e o de sublime é o monstruoso.
O livro é dividido em 4 capítulos e no primeiro se faz essa distinção entre belo e sublime. No segundo capítulo Kant leva essa discussão no campo moral, onde humildade, amorosidade, sinceridade são belas e coragem, honra, inteligência são sublimes. Da mesma maneira a mesquinhez, a inveja, a preguiça não são belas e a loucura, o orgulho, a volúpia são monstruosas.
O terceiro capítulo pode deixar algumas mentes modernas perplexas, mas como cada cabeça, sua sentença e como não podemos julgar a moral de uma época com a moral de outra época, então não podemos julgar Kant ao falar que a mulher não pode aprender geometria, pois não imaginaria que algum dia a mulher aprender as matemáticas seria normal. Neste capítulo então fala das características das mulheres que são belas e do homem que são sublimes. Claro que ele fala que a mulher não pode ter uma inteligência lógica e o homem não pode ter bom gosto. Hoje podemos ver que tanto homens como mulheres podem ter inteligência lógica como bom gosto, apesar da maioria não ser inteligente e ter um péssimo gosto, e isso não e exclusividade de algum sexo, raça ou classe social, a má qualidade é geral.
O quarto capítulo pode deixar alguns puritanos progressistas boquiabertos, pois fala das características das raças, como os italianos e franceses são dados à beleza e alemães e ingleses à sublimidade. Faz alguns elogios e críticas a estes e outros povos, como os árabes, persas, japoneses, indianos, africanos e indígenas americanos. A parte que pode revoltar é falar da monstruosidade da cultura indiana e a incapacidade dos negros. Para isso se necessita um olhar além de convenções para entender a mente deste homem, fruto de sua época. Mesmo eu sendo amante da cultura hindu não me revoltei com suas palavras, pois era impossível para ele conhecer as sutilezas e filosofias de uma terra tão distante a fundo. Precisamos compreender o zeitgeist, ou o espírito de uma época.
No geral é uma leitura até que gostosa w recomendo para todos aqueles que querem começar a ler Kant, pois começar pela Crítica da Razão Pura é osso duro de roer.