Kamilla 08/12/2021
Muito Bom
Neste livro temos a história de Samuel, com exceção do final que temos um capítulo que alterna os pontos de vista de outros personagens, o restante é pelo ponto de vista do protagonista, que conta a sua história através de um caderno de memórias. O protagonista é um adolescente repetente do fundamental (ter uns marmanjos junto com as crianças em sala de aula ou desistentes era bem comuns nos anos 90) então a escrita dele (o Samuel em seu caderno de memórias) contem muitos vícios da oralidade como, gírias, palavrões e até erros mesmo (ô menino pra ficar toda hora, "mim fazer", "mim sair", na hora que o André corrige e manda um "fala direito" eu ri, porque estava pensando isso o livro todo) e até nisso o autor teve cuidado na construção do personagem.
Como já mencionado, todo o enredo se passa nos anos 90 e isso foi feito com maestria, eu era criança nos anos 90 então eu peguei as referências (caso do índio, maníaco do parque, banheira do gugu, ligação do orelhão, walkman...), e a construção da masculinidade das pessoas dessa época ficou impecável, pelo que eu ouvia os caras falando nessa época era bem desse jeito mesmo (não que mudou muita coisa). Num livro que se propõe ser uma crítica, a sensatez do "Anjo" não foi só bonito de ver, mas necessário.
A parte da quebra de narrativa fiquei pensando "ué o moleque melhorou o português do nada?" e a coreografia narrada mesmo não sendo legal não parecia coisa do perfil construído para esse personagem, um cara viciado em masturbação, formado no pornô só iria querer replicar o que viu nos filmes, já tava achando ruim, mas em seguida vem o corretor (sim tem momentos da escrita que alguém pontua a prosa dele e tece comentários como por exemplo, quando ele foge do assunto, ou como nesse caso, conta uma mentira) e fala que percebeu a mudança na escrita, que ele deve ter copiado um conto e que ele deve contar a verdade, o trecho seguinte revela como foi e o pensamento dele na ocasião e foi exatamente isso, ele queria fazer todas as poses dos filmes a moça que não topou as poses e ainda falou que "depois melhora", fez sentido.
Sobre o que pessoalmente não gostei tanto, a história é do Samuel e tem coisas que não vão ter respostas mesmo e ainda assim o autor respondeu algumas questões(legal), mas eu precisava de mais um capítulo na cabeça do irmão, e o Ulisses que me chamou atenção a gente chega a inferir uma resposta mas também gostaria de mais dele, esses personagens me parecerem fugir um pouco do padrãozão mas um deles me pareceu raso nas motivações. (não vou dizer no que, nem quem por motivos de Spoiler)
edit: semana passada estava numa conversa que me lembrou esse livro e então fez um "plim" na minha cabeça de uma coisa que fez total sentido, então estou editando a parte em que acho que poderia ter mais coisas de outros pontos de vista, não é necessário, o livro tá redondinho do jeito que foi concebido.