Pietra Galutty 25/11/2023
Políticas do Poder: o pessoal é um reflexo do coletivo
Políticas do Poder (Power Politics, 1971) foi o combustível necessário para o resgate do meu self. Quando iniciei esta leitura sentia-me perdida olhando para um abismo, ele me olhando de volta, sem saber explicar nem a angústia nem a falta de intensidade. Após essa leitura sinto que encontrei algo há muito perdido -- sensação antes já sentida com as obras de Margaret Atwood.
"We are hard on each other
and call it honesty"
(M. Atwood, Power Politics, p. 68-69)
"If I love you
is that a fact or a weapon?"
(M. Atwood, Power Politics, p. 70-71)
"Now it's broken
and no space for excuses.
[...]
Next time we commit
love, we ought to
choose in advance what to kill".
(M. Atwood, Power Politics, p. 92-93)
A edição é bilíngue, os poemas de Atwood em suas primeiras traduções aos português. Confesso que tenho meu grande apego à escrita original da autora, seu poder de transmitir sentimentos, porém a tradução consegue aproximar ainda mais o leitor.
"yes at first you
go down smooth as
pills, all of me
breathes you in"
(M. Atwood, Power Politics, p. 62-63)
"believe me, allow
me to touch you
gently, it may be the last time"
(M. Atwood, Power Politics, p. 90-91)
O livro em si, embora perpasse o amor romântico e tenha nele um tema de base, ecoa também questões políticas, sociais e culturais. Principalmente, questões de afinidade com a nossa vida enquanto mulheres. Atual. Vibrante. Mesmo a sua primeira publicação tendo sido em 1971, é notável como encontra extrema atualidade.
"You take my hand and
I'm suddenly in a bad movie,
it goes on and on and
why am I fascinated"
(M. Atwood, Power Politics, p. 20-21)
"My love for you is the love
of one statue for another: tensed
and static"
(M. Atwood, Power Politics, p. 30-31)
"You did it
it was you who started the countdown
[...]
You attempt merely power
you accomplish merely suffering"
(M. Atwood, Power Politics, p. 86-87)
As relações entre homens e mulheres estão passando por uma profunda mudança de marés. É certo que uma polarização está acontecendo. Que mulheres têm expressado mais facilmente sua raiva contra homens poderosos. Também é certo que esse sentimento não passará.
"you fit into me
like a hook into an eye
a fish hook
an open eye"
(M. Atwood, Power Politics, p. 16-17).
"but I rest here without power
to save myself, tasting
salt in my mouth, the fact that
you won't save me
[...]
Wich of us will survive
wich of us will survive the other"
(M. Atwood, Power Politics, p. 64-65)
Políticas do Poder não é um vazio manifesto, é um verdadeiro testemunho pessoal. O livro mostra na carne que o pessoal também é político. O amor é o sentimento que nos movimenta.
"Because you are never here
but always there, I forget
not you but what you look like"
(M. Atwood, Power Politics, p. 46-47)
"you'll outlive
even my dirtortions of you"
(M. Atwood, Power Politics, p. 50-51)
"Waiting for news of you
wich does not come, I have to
guess you"
(M. Atwood, Power Politics, p. 54-55)
Atwood caracteriza seu livro como uma "sequência de não-sonetos". Isso porque seu livro é uma investigação inquieta e crítica dos sentimentos feita por uma mente educada. De quem é o poder de fala em uma relação que fracassa?
"I can't tell you my name
you don't believe I have one
I can't warn you this boat is falling
you planned it that way
[...]
I can't tell you I don't want you
the sea is on your side
You have the earth's nets
I have only a pair of scissors.
When I look for you I find
water or moving shadow
There is no way I can lose you
when you are lost already"
(M. Atwood, Power Politics, p. 134-135)
A própria autora esclarece aquilo que entende por "Políticas do Poder", em um breve ensaio publicado dois anos depois "Notes on Power Politics", ou seja, algo que se relaciona ao coletivo, mas está presente em tudo o que somos e fazemos, de forma invisível e silenciosa. Muitas das coisas que vivemos em nossa vida pessoal não passam de duplos do mundo externo -- práticas de dominação e tudo a elas inerente. O pessoal é um reflexo do coletivo.