Ju 16/06/2023
Que abordagem ridícula
Quando comecei a ler esse livro, esperava encontrar relatos sobre prostitutas e um cuidado ético em relação a eles. Todavia, não foi o esperado. Damos de cara com um jovem estudante de direito que em momento algum nega o título de "doutor" (nem o
todos os estudantes de direito, mas sempre um estudante de direito). Ele sempre faz comentários sobre os corpos das mulheres e eu estava achando esquisitíssimo, até vir a revelação de que o autor é gay. Ótimo, mas isso dá o direito a ele de tratar as mulheres daquela forma? É desrespeitoso, é dentro do contexto de uma pesquisa acadêmica, E NADA DISSO FAZ SENTIDO. Além disso, temos diversas intromissões da vida particular do autor ao comparar o seu sofrimento com o das prostitutas, tentando fazer comentários engraçados e tornar-se a estrelinha do livro, como se tudo fosse sobre ele.
Trago abaixo alguns exemplos do que quero dizer:
"Achei que ele era apenas um corpo – delicioso, por sinal."
Eu me pergunto, por quê?
"Eu queria abraçar Andreia e falar que iriamos às ruas, que bradaríamos por aí que a mulher prostituta merece ser ouvida. Mas fiz um pouco melhor, eu dei voz a elas, eu criei este livro."
Você criou esse livro com uma abordagem que não dá para levar a sério.
"O problema é que eu sofro muito pela vergonha alheia, e era isso que estava rolando, eu estava morrendo de vergonha por Marjorie. Agora, se tem uma coisa que eu sei hoje, é que caso o Seu Elias cruze o meu caminho, ele tá é fodido, porque eu vou dar umas boas porradas e uns tapas bem afeminados na fuça dele. Imagina só fazer o que ele fez com uma pessoa cardiopata. Eu hein, falta de amor ao próximo!"
Nesse trecho, ele estava contando sobre o que uma das mulheres relatou quando descreveu como seu pai descobriu que ela havia se tornado atriz pornô/prostituta. É só absurdo, eu não consigo compreender como alguém achou pertinente dizer "sofro de vergonha alheia" e "tapas bem afeminados".
"Eu perguntei à Marjorie como havia sido essa noite que havia valido à pena. Ela não economizou nos detalhes e, ao término de sua fala, eu estava de pernas bambas e tremendo de úlria de transar o mais rápido possível."
????????????? PARA QUÊ???????????? HEIN???????????? O QUE ISSO TEM DE RELEVANTE?
"Talvez fosse amor de quenga ou amor de pica, como dizem por aí. Acontece muito de pessoas com pouca experiência amorosa gostarem de uma transa e já acharem que estão gostando do seu parceiro ou parceira. Trata-se de algo bem comum, na realidade."
Esse comentário se conecta com a fala anterior, visto que Marjorie estava relatando a única vez em que fez sexo porque teve realmente vontade e achou que gostou muito do rapaz que se envolveu. Que tipo de desrespeito é esse? De verdade, eu estou tendo um treco por ter de ler isso novamente. Mas aí só melhora, porque o autor decide pesquisar os vídeos pornô da Marjorie e escreve:
"Ela era uma excelente atriz pornô." ?????????????????
"Ela estava mais do que certa, eu já devia não transar há cerca de um mês e eu estava subindo pelas paredes. Para piorar, eu passava todas as minhas semanas falando com putas sobre sexo e fodelância."
Não tenho nem comentários, nenhum. Nenhum. Não há mais o que falar.
E, para encerrar, temos essa pérola:
"Jamais vou me intitular feminista porque essa fala vinda de um homem muito me incomoda."
CARA, POR QUE DIABOS VOCÊ TÁ FAZENDO UM LIVRO NO QUAL VOCÊ ADMITE QUE VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE PROSTITUIÇÃO, SOBRE TRANSEXUALIDADE, E ATÉ, APARENTEMENTE, SOBRE FEMINISMO VISTO QUE O FEMINISMO É A IGUALDADE ENTRE OS GÊNEROS. TE INCOMODA UM HOMEM FALAR QUE QUER I G U A L D A D E ENTRE OS GÊNEROS?
Enfim, surtei lendo essa bomba. Se paga de livro revolucionário, salvador da pátria, contando as histórias das prostitutas, mas parece não ter um pingo de respeito pela história delas ao tecer esse tipo de narrativa.