Queria Estar Lendo 09/06/2023
Resenha: Finais Violentos
Finais Violentos é a conclusão da duologia iniciada em Prazeres Violentos, da autora Chloe Gong. Um épico cheio de reviravoltas, ação, política e um romance sofrido e arrebatador.
Esta resenha vai conter alguns spoilers do primeiro volume. Leia por sua conta e risco.
Finais Violentos se inicia alguns meses após dos terríveis acontecimentos que finalizaram o primeiro livro. Juliette é, aos olhos de Roma, sua maior inimiga. Ele não sabe a verdade sobre Marshall, sobre a morte falsa e seu esconderijo, e é melhor assim. Juliette sabe que, se Roma a perdoar, eles estarão em perigo. Porque aquela é uma cidade que destrói tudo que ousa amar.
Shangai está à beira da guerra. Não apenas entre as gangues, mas os partidos Comunista e Nacionalista vêm crescendo em poder e trazendo ainda mais conflito para as ruas. Isso sem falar na ameaça gigantesca que o bilhete deixado pelo criador do monstro representa. Quando novos ataques começam, e parecem trazer um terror ainda maior para os cidadãos, as gangues e a guerra iminente, Juliette e Roma vão precisar fazer de tudo por Shangai - e por eles mesmos.
Finais Violentos é épico do começo ao fim. Chloe Gong traz uma abertura emocionante, um desenvolvimento impecável e um desfecho digno para essa grandiosa releitura de Romeu e Julieta.
Enquanto Prazeres Violentos apresentou um desenvolvimento mais gradual, aqui é tiro, porrada e bomba nas emoções. Finais Violentos começa em um baque sentimental, e segue assim até o fim. A autora sabe muito bem como trabalhar aquele desejo desesperado dos protagonistas, a tensão política e bélica correndo pelas ruas, o medo do desconhecido. É tudo bom demais!
"Do que você tem medo?"
"As consequências de amar em uma cidade comandada pelo ódio."
A tensão que cresce por causa da crescente da guerra é muito bem construída. Nós conhecemos muito das duas gangues - a Escarlate e a Flor Branca - por causa de Prazeres Violentos, mas, aqui, o tabuleiro está ainda maior e complexo. Os Nacionalistas crescem em poder, e os Comunistas chamam pelo povo. Shangai é um barril de pólvora prestes a estourar, mas quem vai acender o pavio?
Eu me apaixonei pela maneira com que esse livro pareceu uma grande e intrincada montanha-russa. Cheia de subidas emocionantes, de descidas de tirar o fôlego, de reviravoltas chocantes e de um final pra parar o coração de todo mundo. Se você acha que sabe para onde essa história está indo porque conhece Romeu e Julieta: pense de novo e ainda não vai descobrir.
Finais Violentos equilibra toda essa tensão política e de guerra com momentos leves. Mas eles são tão raros que você se agarra aos sorrisos e ao amor e à esperança com todas as forças.
Juliette Cai é simplesmente um espetáculo de protagonista. A força e a determinação que vimos em Prazeres Violentos, e sua fidelidade ferrenha à gangue e à família, estão em cheque. O tabuleiro não é mais o mesmo e, pouco a pouco, Juliette começa a entender os custos de tanto poder. Eu gostei muito dos dilemas que ela confronta em sua jornada. Como questiona as coisas que antes pareciam certas, porque acreditava que eram. Ela abre os olhos para os horrores. Ainda ama a sua cidade. Mas percebe que esse amor pode arrastá-la em direção à perdição.
"Era essa cidade, dividida por nomes e cores e territórios, mas, de alguma maneira, sangrando o mesmo tom de violência."
Roma, por outro lado, começa esse livro sombrio e soturno pelo desconhecimento sobre o destino do Marshall. E é verossímil e doloroso vê-lo dobrado ao terror da gangue e do poder do pai, tornando-se aquilo que a violência o transformaria, caso tivesse se entregado a ela antes. Mas ainda há esperança para o garoto de coração de ouro, e é isso que te faz roer as unhas e virar correndo as páginas, buscando por ela.
Roma e Juliette se tornaram um dos meus casais favoritos da vida. Não apenas pelo amor poderoso que existe entre eles. Mas também pela força que carregam individualmente e como sua relação é intensa em todos os sentidos. Ainda que aconteça entre muitos tiros e facas na garganta. O entendimento entre eles está muito maior.
Os segredos, no entanto, os afastam. É doloroso acompanhar os pontos de vista da Juliette porque a gente conhece a verdade. Sabe o que ela fez para proteger o Roma. Enquanto os pontos de vista do Roma são angustiantes por todo o ódio que ele construiu sobre a mulher que amava.
Os dois são peças nesse tabuleiro gigantesco, e entender e aceitar isso vai movê-los numa direção inesperada. E dolorosa. E maravilhosa.
"E o que era amor se tudo o que fazia era matar?"
Finais Violentos está recheado de personagens importantes e carismáticas. Rosalind e Kathleen, primas de Juliette, que têm papéis de destaque e desenvolvimentos interessantíssimos em suas jornadas pessoais. Kathleen, mais uma vez, roubando as cenas para si, porque pense numa personagem bem humorada e querida.
Ela usa sua inteligência para decifrar os enigmas que aparecem no decorrer da história. E mantém sua fidelidade principalmente à família. Ainda que essa família esteja lentamente colapsando. Seus dilemas com a irmã são dolorosos. Assim como acontece na parte romântica, a parte fraternal é de arrancar o coração do seu peito.
Marshall e Benedikt, igualmente, vivem seus momentos intensamente. Marshall, escondido, mas lidando com o anonimato da sua maneira. E Benedikt, completamente transtornado pela morte do melhor amigo, finalmente aceitando que seus sentimentos por ele poderiam ter significado mais do que entendia.
"Esses prazeres violentos têm finais violentos."
Eu queria sentar aqui e falar sobre essa história por horas e horas, porque a duologia que fez releitura de Romeu e Julieta, para mim, se tornou uma das melhores que já tive o prazer de conhecer. Mas a graça desse segundo volume está justamente em todas as surpresas. Então fica aqui o meu convite para você conhecer essa trama. Tanto pela política quanto pelas morais, pela guerra, pelas discussões, pela representatividade LGBTQIA+ e também e principalmente por Roma e Juliette.
Chloe Gong faz jus ao drama crescente do clássico de Shakespeare. Se Prazeres Violentos foi uma pequena palha de todo o sofrimento, Finais Violentos vem para colocar sal nas feridas. É aquela sofrência literária que dá gosto de acompanhar, sabe? Que te faz querer arrancar os cabelos de tanta angústia, porque nada parece dar certo, todos os personagens estão em risco, tudo é incerto.
Eu peguei esse segundo livro pensando que não sofreria, porque já sabia onde a história pretendia chegar. Mas errei feio na questão de saber. Eu sofri muito. O caminho desse sofrimento é que foi pavimentado com surpresas e plot twists. E o final! Pense num final que te derruba no chão e te deixa lá. Foi isso que aconteceu.
Chloe Gong se firmou como uma das autoras que eu vou buscar todo e qualquer lançamento daqui pra frente. Contando, em Prazeres Violentos e Finais Violentos, uma história de amor impossível, cheia de dor e esperança, de política e de escolhas cruciais. Como acontece apenas nos melhores romances.
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