Beto 02/07/2021
Melhor que seu antecessor?
Soa até meio clichê nos dias atuais, mas sempre que converso com alguém sobre literatura sou obrigado a fazer, no mínimo, uma breve menção a "12 Regras Para a Vida". O segundo livro da carreira de Jordan Peterson, o qual se tornou um best-seller e o alçou ao estrelato é, inegavelmente, um ótimo livro, fugindo do padrão da autoajuda tradicional ao confrontar a realidade de uma forma diferente, sem fugir de embates com o sofrimento, o temor existencial e, como está explicito no próprio nome da obra, o caos.
Diante disso - sem elevar Peterson a um patamar de gênio filosófico, o que seria um claro exagero ao que sua obra realmente representa -, é inegável que o livro sucessório já nasceria com dois estigmas. 1) Ele é mesmo necessário ou foi feito para ganhar muito dinheiro? 2) Ele pode superar seu antecessor? Isso tornou-se ainda mais evidente com os problemas de saúde que afetaram a vida de Jordan e quase o levaram a morte, como ele mesmo descreve de forma emocionante no prefácio de "Beyond Order".
De cara, anuncio que o novo livro de Peterson não teve o impacto que "12 Regras" teve em minha vida - o que é normal, pois em 2018 ela estava uma bagunça -, mas ele é uma obra, nitidamente, mais profunda e densa, com o olhar de alguém que encarou a morte e viu suas regras se provarem diante de seus olhos.
O livro todo foi escrito praticamente durante seu período de tratamento e as respostas de Peterson às regras que ele compõe demonstram isso a cada página. Ele não tentará filosofar sobre o tema para te dar uma resposta racional - ele nunca se propôs a isso nem em sua primeira obra -, porém, usará de exemplos clínicos e da boa e velha "experiência" para indicar um caminho.
Sigo achando que "12 Regras" é mais impactante, mas "Beyond Order" é, indubitavelmente, mais maduro e profundo. Em todos os capítulos, vemos Peterson entrar nos sentimentos mais profundos do indivíduo para que possamos confrontar o nosso próprio "dragão", encarando o sofrimento de frente sem que nos deixemos levar pela arrogância ou nos tornemos amargos em um contínuo ressentimento.
Quando sair a tradução - para aqueles que não querem esperar, o livro possui um inglês bem tranquilo -, não tenho dúvidas que ele se popularizará de novo em nossa terra, pois, como em seu antecessor, Peterson continuamente nos convida a encarar dois pontos que parecem perdidos atualmente: a responsabilidade e o sofrimento.
O caos dói e nunca é desejável sair do ponto onde estamos. Pior ainda se torna quando chegamos ao lugar mais baixo possível, quando parece impossível se movimentar. No entanto, "caímos para aprendermos a nos levantar" - eu sei que é clichê de novo, mas isso não é a realidade? - e, se a modernidade deseja que fiquemos acomodados no buraco, sempre é necessário enaltecer quem tenta nos levar para a maré contrário.
Bem-vindo de volta, Jordan. É bom tê-lo conosco quando tudo parece estar de ponta cabeça.