Silvana Barbosa 22/12/2020Sobre mudançasEu gosto tanto do Natal e tudo que está relacionado a ele, que minha tendência diante de uma história natalina é sempre dar nota máxima, sem importar se a história é longa ou curta, pois aprendi faz tempo que comparar um livro a outro pode ser muito injusto...
Posto isso já vou avisando que o conto Entre fotos e recordações é bem curto. E graças à eficiência de sua autora, a leitura é ainda mais rápida. E é uma leitura muito gostosa!
Elis Finco possui muito talento com as palavras, e envolve o leitor trazendo-o para dentro da narrativa, compartilhando com a protagonista de sua intimidade, como quem olha sobre o ombro de um ente querido e tem, daquele ângulo, seu mesmo ponto de vista.
Em poucas páginas vemos uma dona de casa, mãe, esposa, ao arrumar a casa para o Natal, quedar-se perplexa por não se ver em uma foto antiga, embora tenha reconhecido na imagem tantas outras faces.
E aí cabe a reflexão. Ela estava ou não na fotografia? E se sim, por que não se reconhece?
A resposta pode ser simples, e pode ser complexa, principalmente para a personagem.
É muito comum que ao cuidarmos de alguém deixemos de cuidar um pouco de nós mesmos, nos perdendo em algum ponto entre refazer toda a sua vida para caber um filho ou adequar seus gostos para harmonizar com o do parceiro. E, tal qual um objeto perdido, pode ser ou não passível de recuperação.
Ter apoio é fundamental nessa jornada de mudança pela qual passamos ao amadurecer, de modo a não perder nem nossa face num espelho nem nossa essência numa velha caixa de recordações reaberta apenas ao final de cada ano.