Biia Rozante | @atitudeliteraria 16/11/2020Amei... Amei e Amei...Luiza Campbell está desempregada, enfrentando uma crise financeira complicada, e sozinha. Sozinha já que sua mãe e padrasto moram na Austrália e ela em Londres. Recém-formada em museologia, as portas parecem não se abrirem, até que recebe uma proposta irrecusável para alguém em sua situação, o que a leva a não questionar muito sua escolha em aceitar a proposta e ir morar no norte da Inglaterra para trabalhar como digitalizadora e restauradora de documentos em um castelo que estava em ruinas.
O castelo em questão sempre pertenceu a família Warrington, e foi um dos castelos mais belos e toda a Inglaterra, e que inclusive era tido como uma fortaleza por seus inimigos. Porém, após o falecimento precoce de seu último legítimo conde – Jordan Devin Warrington, em 1426 o mesmo acabou sendo abandonado. Jordan não tinha herdeiros, e as pessoas que acabaram assumindo a herança, liquidaram o patrimônio, trazendo caos para as famílias/arrendatários que dependiam do conde. Agora em 2012 estão o restaurando para torna-lo um museu e hotel, e Luiza ficou com a incumbência de separar, organizar e colocar em ordem cronológica, todos os materiais escritos recuperados – pergaminhos, documentos, cartas, livros de contabilidade e a história da família e da região. Ela também precisaria elaborar textos sobre os antepassados da família para a galeria de fotos e site do castelo. Mas o que de fato chama a sua atenção são as caixas doadas por um anônimo, intituladas como conteúdo pessoal de J. D. Warrington, ou seja, o conde de Havenford.
“(...) Quando você vive para contar a história, sempre haverá alguém para escutá-la. Como você acha que os bravos nascem? Alguém precisa contar.”
Ao contemplar aqueles escritos foi impossível para Luiza não sentir o quanto as palavras do conde eram um derrame de sua alma, um homem com muitas responsabilidades, que amava as pessoas de sua região, porém marcado por um passado sofrido e repleto de perdas. Despretensiosamente em um momento mais vulnerável, Luiza escreve uma carta resposta para o conde, ela compreende a loucura da situação, sabe que ele jamais receberia tal, mas ainda assim sente que de alguma forma fez algo bom para aquele coração cansado e no dia seguinte contempla uma resposta do mesmo. O impossível teria se tornado possível? Ou tudo não passa de uma brincadeira de alguém que está trabalhando no castelo?
As correspondências seguem primeiro para tentar descobrir a verdade sobre, e segundo pela conversa se tornar irresistível, eles criam um vínculo, um sentimento perigoso e poderoso, que não tem explicação, nem chance de ir para a frente, eles estão a séculos de diferença e a única explicação que parece plausível é a loucura e a carência. Até que uma tempestade torrencial atinge o castelo, e vira tudo de ponta cabeça.
Uau... Eu preciso muito falar o quanto CARTAS DO PASSADO me surpreendeu e me levou por uma viagem repleta de emoções, ação, aventura e romance. Na minha cabeça, mais que ler, era como ver um filme, com todos os elementos necessários, personagens cativantes e apaixonantes, cenários de roubar o folego, um enredo/roteiro que prende, que cativa o leitor/espectador e que você termina com aquela sensação de quentinho, de poder sonhar, de que o impossível é possível para aqueles que ousam se entregar e viver sem medo do inesperado. Sim, se ainda não ficou claro eu AMEI.
Cartas do Passado é um romance com viagem no tempo. Aqui conhecemos primeiro a Luiza uma jovem com vinte e seis anos buscando trilhar seu próprio caminho, mas que se encontra sem oportunidades, até que o trabalho no castelo aparece e ela fica muito tentada, pois ela está sem dinheiro e o trabalho oferece moradia e alimentação. Assim ela parte pro norte da Inglaterra meio que no escuro, ela não conhece a história do castelo, nem o que ele significou um dia. Por isso quando ela chega, toda a imponência do lugar já atraí sua atenção, ainda que o mesmo não esteja em todo seu potencial, o castelo é deslumbrante. Ela acaba tendo como local de trabalho a biblioteca, que um dia foi o escritório do conde, portanto, ao ler seus escritos, provavelmente onde eles foram escritos, trazem uma familiaridade, e uma intimidade, que parece criar uma linha invisível os conectando.
“Luiza não fazia a menor ideia do que estava causando. As consequências que ocupavam sua mente eram completamente diferentes das reais. Ela estava acreditando e, ao fazê-lo, comprometia-se sem saber. E mudava o que para muitos deveria permanecer intocado. De certa forma, o que fazia não era justo, dava esperanças ao impossível. E mudava o mundo de outra pessoa, criava expetativas, sentimentos e frustrações que não chegavam a lhe ocorrer.”
Jordan foi um homem forte, incrível, Justo, gentil, generoso, que lutava pelos que amava, mas que ficou marcado pela perda, algo trágico que o feriu profundamente e acabou ditando muito suas escolhas e a forma como ele viveu sua vida. Seus escritos acabam por contar muito da sua dor, das suas angustias e de tudo que ele gostaria de mudar. E essa fragilidade de um homem tão poderoso, faz com que Luiza fique tentada a responde-lo, obviamente que ela não espera uma resposta. Mas essa resposta acontece e a partir daí tudo muda.
Eu não posso esmiuçar o enredo em virtude das surpresas e dos spoilers. Mas posso te garantir que é uma história linda, sensível, muito bem construída e que CONVENCE o leitor de que tudo ali está de fato acontecendo. É palpável, é grandioso porque mescla emoções, te faz sorrir, chorar, torcer, sofrer... arrepia. Foi de fato uma leitura doce e especial, e que me deixou torcendo para ver adaptado para as telas.
Lucy Vargas me conquistou e eu quero sim conhecer mais e mais do trabalho da autora. Este é meu segundo contato com a escrita dela e foi maravilhoso conhecer essa faceta dela. Para mim até o momento é o melhor livro da autora e pelo que sei temos uma sequência – As Cartas da Condessa -, que estou torcendo para ser lançado também.
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