Antonio

Antonio Beatriz Bracher




Resenhas - Antonio


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Alê | @alexandrejjr 29/03/2022

O incômodo ruído do silêncio

O que devemos fazer com a verdade quando ela é descoberta? Essa é a grande pergunta que percorre este "Antonio", terceiro e ambicioso romance da paulistana Beatriz Bracher.

Este livro possui muitas peculiaridades. Eis algumas que valem o destaque e a primeira delas está logo na capa: o Antonio que empresta seu nome ao título é uma personagem sem voz no romance pois ainda não nasceu. E esse detalhe é importantíssimo: o ser que ainda não é no mundo ficcional de Beatriz Bracher carrega consigo uma infinidade de passados - mesmo que ele não saiba. O quão poético é isso? Não é algo comum a todos nós? Bom, o segundo ponto a salientar é a técnica apurada e de difícil execução empenhada pela autora aqui, a mesma utilizada em “Enquanto agonizo” do mestre William Faulkner: o romance possui três narradores que dialogam com um quarto personagem que, atenção, também não tem voz. Percebe-se, portanto, que Beatriz Bracher pensou exaustivamente em como ela queria contar essa história, em como ela quis algo não original, mas sim diferenciado para a sua narrativa. O terceiro e último ponto que eu gostei demais é o fato do interlocutor dos três narradores, Benjamim, outro que não tem voz no romance, ser apenas um recurso utilizado pela autora para colocar os leitores em um grau maior de proximidade com a narrativa, já que as personagens se dirigem a este que os ouve - ou lê, no nosso caso.

Este é um livro feito de ausências e presenças. Beatriz dá aos dois eixos narrativos - aquilo que não se sabe e aquilo que se descobre - o mesmo peso, a mesma importância. Para entendermos a pequena saga desta família, nós nos deparamos com o que contam Isabel, a avó de Benjamim; Haroldo, o melhor amigo do avô de Benjamim; e Raul, o melhor amigo do pai de Benjamim. É na voz deles que vamos entendendo as agruras da infelicidade - da qual não sabemos o motivo nas primeiras páginas - que corrói a família e por que os segredos que ficaram guardados pela morte de Elenir, Teodoro e Xavier, respectivamente mãe, pai e avô de Benjamim, ainda necessitam de respostas. É através da iniciativa de conhecer a fundo o que ficou neste incômodo ruído do silêncio deixado pelos mortos que vamos descobrindo, juntamente com Benjamim, as revelações necessárias para que as cicatrizes que atormentam nosso interlocutor cessem, deixem de sangrar e, mais do que isso, não perturbem Antonio, que ainda não nasceu.

É na dicotomia e no paralelismo que Beatriz Bracher sustenta este fantástico “Antonio”. E sua instabilidade narrativa faz dele um exemplar único na safra contemporânea nacional, numa tentativa intelectual louvável de mostrar as fragilidades da memória quando tentamos reconstruir o passado. Não, não é um romance simples, apesar de ser absurdamente acessível em termos de linguagem. Mas a experiência é singular.

“Antonio” tem de tudo um pouco para quem tem bom gosto: a estrutura faulkneriana de “Enquanto agonizo”; uma pitada de Gabo e sua confusão familiar - sem a repetição de nomes, graças a Deus! - de “Cem anos de solidão”; e, como não poderia deixar de ser, bons segredos familiares para chocar puristas e conservadores na linha do que já fez Lúcio Cardoso e seu clássico “Crônica da casa assassinada”.

E aí, precisa de mais alguma razão para ler esse livro?
Carolina.Gomes 29/03/2022minha estante
Preciso conhecer.


Katielly 30/03/2022minha estante
Adoro ler suas resenhas, Alê! Deu vontade de conhecer o livro ??


Alê | @alexandrejjr 31/03/2022minha estante
Acho que tu vais gostar, Carolina! Talvez o ritmo seja mais lento e a história menos ambiciosa que "Crônica da casa assassinada", mas é um livro muito interessante!

Kat, eu que agradeço os teus comentários sempre carinhosos! É um prazer poder falar de literatura com quem gosta.


OceaneMontanea 29/09/2023minha estante
Ah, como a arte é múltipla, aberta e maravilhosa. Das pessoas que sigo e amigos tenho 2 que resenharam este livro, você e outra leitora. Enquanto essa sua resenha me empolga, pois iniciei Antônio agora, a dela é absolutamente negativa e desencorajaria qualquer um! Hahaha. Que loucura isso de o mesmo material causar tantos sentimentos e reações diferentes em pessoas ou momentos diferentes. E isso me instiga, pois unanimidades absolutas me causam uma certa desconfiança.


Alê | @alexandrejjr 30/09/2023minha estante
Kelly, que delícia de comentário! A arte é realmente maravilhosa. E que a multiplicidade de experiências jamais acabe nesta rede!




Gláucia 25/11/2015

Antonio - Beatriz Bracher
A autora utilizou um recurso narrativo usado por William Faulkner em Enquanto Agonizo onde cada capítulo é narrado por um personagem a fim de reconstituir uma parte da história de uma família. No romance brasileiro, isso para mim não fez diferença pois a autora não conseguiu dar voz a cada um dos quatro personagens e teria dado na mesmo se tivesse contado a história de forma usual.
Esses quatro personagens estão contando a história para Benjamim, que desconhece sua verdadeira origem familiar. O livro é bem fininho e só por isso rápido de ler. Não conseguiu me despertar a mínima emoção, nenhum sentimento, uma leitura totalmente neutra e dispensável. Porém, essa opinião é bem particular, o livro foi discutido num clube de leitura e a maioria esmagadora gostou muito, provavelmente por identificação e vivência de cada leitor.
Marta Skoober 30/11/2015minha estante
Acho que nunca vi você dar uma estrela antes, ou já?


Gláucia 30/11/2015minha estante
Acho que sim, Marta. Inclusive acabei de avaliar em 1 estrela A Mulher de 30 Anos.




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Alê | @alexandrejjr 01/02/2022minha estante
Excelente análise, Ronaldo!




Caroline 26/08/2016

Confuso
O livro é confuso, mas quando vc consegue entender o ritmo de escrita da autora, a história é muito boa.
Uilians 27/01/2018minha estante
esse livro tem uma explicação do significado do trabalho que achei genial. livraço superindicado




arthur966 21/09/2023

Eu esqueci tanta coisa para seguir em frente, tanta coisa, tanta coisa, tanta. precisei não saber outra infinidade delas. agora eu não tenho mais para onde ir, não existe mais em frente, e as coisas esquecidas e não sabidas estão pesando.
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Nicholas Sana 28/01/2024

Primor
Tramas familiares estão aos montes na história da literatura, mas a forma como ela faz aqui, nos colocando no papel do indagador principal?é maravilhosa?absolutamente fantástico?
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