Cães

Cães Júlia Grilo




Resenhas - Cães


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Gabriel Perez Torres 10/04/2024

Cães: Entre a Narrativa Humana e a Perspectiva Canina
"Cães", de Júlia Grilo, desdobra-se como uma narrativa que transita habilmente entre o universo humano e a experiência canina, desafiando as fronteiras tradicionais da empatia e da compreensão interespécies. Ao escolher Cafeína, uma cadela, como epicentro de eventos que entrelaçam destinos humanos e animais, Grilo não apenas humaniza sua protagonista canina, mas também propõe uma reflexão sobre o próprio ato de narrar e entender histórias.

A obra é marcada por uma ambiguidade intencional que flutua entre o realismo e a fabulação, empregando a vida de Cafeína como um espelho para a complexidade das relações humanas, suas crises, alegrias e tragédias. Ao narrar a história sob a perspectiva de uma cadela, Grilo convida o leitor a reconsiderar as convenções narrativas e a questionar a hierarquia estabelecida entre humanos e outros seres vivos.

Este entrelaçamento de vidas, onde os destinos de Cafeína e dos personagens humanos se cruzam, revela a maestria de Grilo em construir uma trama onde a empatia transcende a barreira das espécies. A autora, com sutileza e profundidade, consegue fazer com que o leitor se importe, se envolva e, sobretudo, reflita sobre a capacidade de compreensão e comunicação além da linguagem humana.

Além disso, a obra destila críticas sociais e existenciais por meio das experiências de Cafeína, abordando temas como a liberdade, a solidão, o amor e a morte, sem perder de vista a lente singularmente canina. Essa abordagem não apenas enriquece a trama, mas também expande o alcance da empatia do leitor, forçando-o a ver o mundo através de olhos não humanos, mas igualmente capazes de sentir e interpretar a realidade.

Em "Cães", Júlia Grilo demonstra uma habilidade notável em tecer uma narrativa que é ao mesmo tempo íntima e abrangente, pessoal e universal. A escolha de uma cadela como protagonista e narradora é uma estratégia literária ousada que paga dividendos emocionais e intelectuais, oferecendo uma leitura que é cativante, perturbadora e profundamente tocante.

A obra de Grilo é um lembrete de que, no coração da experiência compartilhada de vida, as histórias de amor, perda e redenção são universais, independentemente da forma de vida que as experimenta. "Cães" é um convite para olhar além das aparências, para ouvir as histórias não ditas e para encontrar o comum na aparente diferença. É um livro que permanece com o leitor muito depois da última página, ecoando com questões sobre compaixão, coexistência e a natureza do ser.
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Liz 08/03/2024

Gostei bastante, vale a pena a leitura. No livro conta a versão de uma cachorrinha sobre o mundo, mas não é sobre a cachorrinha o livro, ele aborda muito sentimentos humanos.
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julis 13/08/2023

Que livro lindo!!
Eu tenho animais e a todo tempo que lia ficava imaginando se eles gostariam de ser como a cafeína, ou como a duquesa.. ou a pretinha (aliás tenho uma cachorra com esse nome)
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Maria Eduarda Martins 09/07/2023

Cães
"não me parecia, na verdade, que ela sequer existisse antes de mim, que pudesse ter vontades diferentes das minhas, que pudesse ter vontades"

"não há elegância animal, não há proficuidade animal, não há benevolência animal, a não ser que pareça muito com a nossa própria."

"tinha medo de me perder de mim mesma, de ter minhas margens rompidas e ceder em lugar um espectro desconexo e impreciso."

"descobri então que o afeto se aprende assim como a violência."

"Cães" é uma leitura que eu queria fazer há anos. Com uma escrita crua, direta e reflexiva, Júlia Grilo mistura ficção e acontecimentos de sua vida para narrar a história da cachorra Cafeína.

A narrativa das vivências e angústias da cadela, carinhosamente apelidada de Café, supera o esperado. Em verdade, a trama traça um paralelo entre a vida humana e a canina, e, eventualmente, de outros animais.

Não raras as vezes, os cães se humanizam e os seres humanos assumem características selvagens.

A narradora é muito sincera, o que dá raiva, porque transparece, em algumas circunstâncias, uma pessoa muito irritante e mimada. Mas também alguém muito triste e solitário...

No entanto, um ponto me chamou atenção, especialmente em uma reflexão sobre os sentimentos humanos: o ciclo de violência se perpetua assim como o do amor. E isso é o que mais dói.

Além disso, há uma permanente discussão sobre raça. Ela se instala de modo sutil, mas permeia a história da narradora e da protagonista. Achei muito inteligente.

Como um todo, o livro dá uma explodida na cabeça, não por trazer algo completamente novo, mas pela forma como joga as verdades na nossa cara. Fiquei abismada, porque era tudo verdade. Ótima obra!
juliagrilo 12/07/2023minha estante
adorei ler sua resenha, maria! muito obrigada


Maria Eduarda Martins 24/08/2023minha estante
Adorei ler seu livro ?




Ivandro Menezes 09/04/2023

Um bom romance de estreia
"Cães" é o romance de estreia da baiana Júlia Grilo. Ora introspectivo, ora imaginativo, vai, em movimentos paralelos, acompanhando a dinâmica familiar da narradora em uma dupla perspectiva, a da narradora em busca de seu lugar naquela família e no mundo, e o de Cafeína a cadela mais nova da casa.

Essa dúplice perspectiva está alicerçada nas inquietações juvenis, por vezes adolescentes, sob os signos da descoberta e inquietação, descortinando o mundo das relações adultas e as frustrações do processo de crescer e se relacionar. Nesse aspecto, de como figuras centrais e fixas, como a figura materna, altera-se, distancia-se e se reaproxima. A dificuldade emocional e afetiva de perceber o amor por trás dos gestos mais ríspidos.

A escrita de Grilo surpreende pela segurança, a consciência na construção das frases, embora num ou noutro ponto as coisas tendam a divagacões tão amplas que, ao leitor mais distraído, acabe impondo um voltar páginas, e a uma quebra no ritmo.

A exploração do humano a partir de uma matilha a que Cafeína se junta ao fugir de casa é interessante. Tens pontos altos e outros nem tanto. Algumas coisas ficam por demasiado claras, causando um certo incômodo. Contudo, no balanço geral, faz sentido com o todo.

"Cães" é daqueles livros que te deixam animados. Trazem a convicção de que a literatura brasileira (e nordestina) é fértil, e num mar de livros que reciclam clichês e temas, Júlia é mesmo um alívio. Curioso pelo que há por vir.
juliagrilo 12/07/2023minha estante
ficar animado é mesmo muito bom, não é, ivandro? obrigada por sua resenha




lucaszugaib 10/02/2023

É um livro sobre um cachorro e sua dona. A história é sobre a dona, ou é sobre o cachorro. Em alguns momentos elas andam juntas, se separam, se tornam 1 história só.
A história curta é interessante, cheia de reflexões sobre a vida, do ponto de vista do animal e da humana. Achei essa ideia bem legal e bem executada.

Apesar disso, não curti tanto a escrita da autora, mas isso não torna o livro e sua ideia ruim. Vale a leitura!
juliagrilo 24/02/2023minha estante
obrigada por compartilhar as suas impressões! ?




Carol 21/01/2023

sem dúvidas tornou-se um dos meus livros preferidos!! o tempo demonstra seu escoamento através dos objetos, da casa, e do comportamento dos seres vivos que ali habitam, numa dinâmica woolfiana.

o famoso questionamento no que diz respeito ao que nos separa das outras espécias dá-se de maneira filosófica, e me peguei em muitos momentos compartilhando das reflexões de julia, como que numa sensação de: "putz, conseguiu traduzir algo que sempre me questionei mas não conseguia exprimir em palavras"

eu vou recomendar demais essa obra, sensacional!!

parabéns julia, você é incrível!
juliagrilo 24/02/2023minha estante
muito obrigada, querida!




Gigi 06/01/2023

Ótima lembrança!!
Esses dias estava lembrando de uma viagem que fiz para São Paulo, mais especificamente fevereiro de 2022. Durante a viagem, conheci a autora do livro em uma balada que eu nem se quer lembro o nome, mas não esqueço das piadinhas sobre o ?Olavo de Carvalho? ou a ?filha da Carminha?. Trocamos algumas palavras e ela me falou que era escritora de ?Cães?, confesso que não conseguia lembrar o nome do livro mas conseguia lembrar o nome de Júlia Grilo, pois eu achei que era uma piadinha da amiga dela Hahahaha.
Enfim, que bom que lembrei desse episódio! Adorei o seu livro, Júlia! Estou esperando o próximo!!!
juliagrilo 24/02/2023minha estante
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHABABAHAHAHAHAHHAAHHAAHAHAHHAHAHAHA amei!




spoiler visualizar
juliagrilo 24/02/2023minha estante
eu também adoro quando me revelam os pensamentos que eu não contaria a ninguém...




Bibia Bolacha 21/11/2022

A saga de Cafeína é contada pela autora com uma crueza e uma honestidade desconcertantes e um pouco ríspidas, o que de início me produziu uma esquisita atração por aquela leitura bruta e despida do carinho, dos mimos e dos paparicos habituais com que sempre fui ensinada a tratar meus familiares - dentre eles, meus cães e gatos de estimação. Com o passar das páginas, fui ficando cada vez mais enredada naquela história, a qual engoli em 2 dias. O principal aprendizado que extraí dessa leitura pode ser sintetizado em uma das frases mais pungentes dessa narrativa despretensiosa, mas marcante: "o afeto se aprende assim como a violência". Dentro desta lição se encerra a percepção forte de que, independentemente da cultura, das convenções e das expectativas sociais, somos essencialmente animais e jamais o deixaremos de ser.
Importante lembrar que a música ao final me quebrou e chorei muito.
juliagrilo 24/02/2023minha estante
que linda a sua resenha! adorei ?




jade 18/08/2022

uma grata surpresa! que livro bom. muito interessante a escrita da julia. li por acaso, sem ler sinopse nem nada so pq gostei da capa e tava no kindle unlimited. minha historia ta tão parecida com a da ju kkkkkk ansiosa para que essa escritora cheia de potencial produza mais e mais! ?
juliagrilo 24/02/2023minha estante
minha história tb eh mto parecida com a da juh! ???




Janaina 05/03/2022

Para ler e reler
Neste pequeno romance da jovem baiana Júlia, duas vozes se fundem para falar de um só ser. E, embora o prefácio tente dar um quê de nebulosidade à obra, negando seu caráter autobiográfico, é impossível terminar a leitura sem associar Cafeína, a cadela preta vira lata, a um alter ego da narradora, com todas as camadas que constituem a sua individualidade.

O primeiro contato entre ambas ocorreu quando a dona tinha apenas 10 anos, mas a história é narrada quando elas não mais residem na mesma casa, no interior da Bahia, depois da mudança da agora jovem para a capital baiana, para cursar universidade.

Triste com o estado de saúde de Café, como afetuosamente a chama, e tomada por um sentimento de culpa, por tê-la submetido ao que considerou uma enorme violência, a narradora reconstrói a história em comum de ambas, partindo de sua perspectiva infanto-juvenil, para nos apresentar a uma cadela que busca materializar sua humanidade, mesmo sem entender direito o que isso signifique; jogando-se numa experiência imprevisível e arriscada, que lhe traz vários questionamentos e se mostra, ao fim, necessária para que possa conquistar a consciência e o empoderamento que lhe devolvam ao lugar de origem, de uma forma completamente diferente.

Da mesma forma, a grande experiência de largar o ninho materno proporcionará à narradora a oportunidade de conhecer novos modelos afetivos, revisitar antigas impressões e reconstruir aquela relação que, certamente, representará um excelente ponto de partida para a nova etapa da vida.

Ao mesmo tempo em que Júlia nos coloca frente a frente com a humanidade de Cafeína, nos põe a pensar sobre o limite entre a humanidade dos bichos e a animalização dos humanos, através de provocações tão sutis quanto profundas que escondem no pequeno livro um sem-número de reflexões que, para serem exauridas, demandariam algumas atentas leituras.

Fiquei impressionada com a riqueza, com a delicadeza e com a profundidade da obra, sintetizada num texto tão curto e que nos entrega tanto.

Um livro para ler, refletir e reler. Muito bom!
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Gláucia 27/02/2022

Leitura profunda e provocadora
A jovem escritora Júlia Grilo nos impressiona pela escrita envolvente e a profundidade de temas que aborda no seu romance de estreia Cães, a partir da história da cadela Cafeína que deseja ser humana, trazendo diversas reflexões sobre os limites do que nos torna animais ou humanos, incluindo relações familiares e sociais.
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Andreia Santana 15/01/2022

...porque ser humano dói
Um livro sobre as muitas tristezas da infância, a melancolia da adolescência e a solidão dos cães domésticos, que é, muitas vezes, um espelho e extensão do desamparo dos seus donos. A liberdade negligente dos animais de rua e o peso da matilha que enlaça e acolhe, mas anula o indivíduo, estabelece uma hierarquia, não permite desobediências à ordem social.

É sobre o quanto a violência gera ainda mais violência, de ações ou sentimentos, contra outras criaturas e contra si mesma, com muito mais potência do que a capacidade da gentileza de se multiplicar.

O romance com traço autoficcional de Júlia Grilo, escritora baiana de 21 anos, nascida em Salvador e criada na cidade de Amélia Rodrigues, no recôncavo baiano, é sobre o que há de humano nos cachorros e sobre como nós, humanos, temos comportamentos caninos, lupinos... domesticados, mas um pouco insubmissos, o suficiente para não sufocar.

Mamíferos que somos, gerados e paridos - e tanto parir quanto nascer são experiências difíceis. Crescer é ainda pior -, primatas que abdicaram da natureza, mas que ainda tem seus tributos à pagar ao instinto selvagem.

Quem nunca mendigou afeto com olhos pidões e sentiu o estômago borbulhar ao receber migalhas de atenção, como aqueles cãezinhos de tutores sempre ocupados e estressados? Quem nunca sentiu a fera à espreita sob o manto da razão e das convenções sociais?

Em seu pequeno e poderoso livro (são pouco mais de 150 páginas), a autora conta a história da cadela de sua infância, Cafeína, que deseja tornar-se humana, ao mesmo tempo em que revisa a própria vida, ainda curta, mas intensa, rica internamente, pulsante e dramática, como é a vida de quem descobre o paraiso e o inferno que é o ato de escrever sendo ainda muito jovem.

É um livro sobre como ser uma cadela na matilha se assemelha, muitas vezes, com a posição das mulheres na sociedade. Sobre perdoar-se e perdoar as nossas mães, e as mães delas, nessa teia de ancestralidade que nos emaranha e define.

Um romance que conta de sonhos desfeitos, refeitos, rarefeitos. Que aborda o amadurecimento e seus aprendizados, alguns que dilaceram para depois remendar.

Cães (Editora Penalux, 2021), tem a orelha assinada pela cartunista Laerte Coutinho e o prefácio é de Wagner Teles. É o romance de estreia de Júlia Grilo que estuda Psicologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Foi iniciado durante um processo de luto da autora. Sua cadela Cafeína estava com câncer, morrendo. O livro funciona como homenagem, catarse, mea culpa, despedida de um afeto difícil entre menina e cachorra, entre uma jovem mulher e sua infância e adolescência. Júlia olha para dentro, como futura psicóloga, para decifrar o que está fora.

É um livro sobre cruzar fronteiras, lançar-se ao mundo, ir e voltar, sobre términos e recomeços, se for preciso recomeçamos quantas vezes forem necessárias, teimosos esses humanos, bem mais que resilientes. Sobre o limite da realidade e do delírio.

Sobre crescer e adolescer como mulher negra, em uma cidade pequena de interior, em uma família convencional, em um mundo racista, com uma irmã branca. Sobre as dores ocultas das famílias multirraciais brasileiras, as heranças não ditas da escravização, sobre essa coisinha delicada que se chama autoestima, sua ausência, a busca, a construção da estima por si.

Este é um livro para se ler com a sensibilidade à flor da pele, porque é assim que a autora parece tê-lo escrito. Reflexivo, filosófico, agridoce. Ora pesado e sombrio, ora ingênuo e delicado. Remexe nas entranhas, desperta memórias familiares, enternece e revolta, revolve, tumultua como redemoinho e apazigua a mente como a música certa que toca na hora que a gente mais precisa...

O exemplar que eu li:

É a versão em papel (foi lançado também em e-book), da biblioteca de minha irmã, que foi quem me indicou essa leitura, encantada que ficou pela autora e pela história. Escolhi abrir o ano com uma autora, baiana, muito jovem, e cheia de lições para ensinar...

Ficha Técnica:
Cães
Autora: Júlia Grilo
Editora: Penalux
155 páginas
R$ 42,00 no site da editora Penalux

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Bruna 25/11/2021

Um livro difícil de resumir ou falar sobre com poucas palavras.
A autora ao mesmo tempo humaniza os cães e animaliza os humanos para assim fazer uma análise profunda do que é ser humano e tentar chegar no cerne da questão.
Com partes mais poéticas e outras mais cruas, a autora constrói a história de sua cadela Cafeina de um ponto de vista antropomórfico, e também conta a sua própria história a partir de um ponto de vista externo. A narradora tenta entender o que é ser humano ao analisar as atitudes dos animais e dos humanos. É uma narrativa que causa estranhamente ao mesmo tempo que parece familiar. E com isso a autora faz uma análise por vezes filosófica, vezes científica, vezes emocional do que é humanidade, se ela tem humanidade.
Uma leitura para se ler com calma e apreciar as questões que a autora trabalha na história.
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