spoiler visualizaranya 17/01/2022
leonel salvou a leitura
Vamos lá. Sinto que tenho muita coisa para comentar sobre SaNA, algumas boas, a maioria nem tanto. Queria muito poder dizer que gostei tanto desse livro quanto a amiga que me indicou, mas infelizmente está longe de ser o caso.
Para início de conversa, é importante dizer que gostei da ambientação. Senti um pouco da energia de Barbie Fairytopia, mas para um público mais velho e com temas mais sérios, obviamente. Inclusive, adorei a introdução dos noir, foi uma adição legal e original.
Vou começar com a primeira coisa que me incomodou: tudo acerca das ônids. Uma espécie de fadas que tem o ?instinto? de fazer trabalhos domésticos e não aceitam retorno monetário, sério isso? Uma espécie INTEIRA que não pode ter nenhuma forma de independência financeira dos patrões e que tem um instinto mágico de serví-los? Não me desceu, especialmente com aquele trecho pavoroso que dizia que ?eles não eram como escravos, e sim como avós cuidando de seus netinhos?.
A política e a situação social do mundo deles são construídas de uma forma que me dá calafrios. Os guardiões têm que cuidar das estações, isso ficou claro, mas? e o resto? A população é completamente desamparada e eu senti falta de pilares extremamente necessários para a formulação de uma sociedade crível. Acho que o recurso do enredo de ?eles estão no poder há apenas 4 gerações? foi usado e abusado para desculpar certos descuidos na hora de construir esse mundo. Tudo sobre a forma como os guardiões governam é mal-explicada e absurda, e não tem nada que desculpe a população estar sofrendo tanto, uma vez que a hierarquia das marcas não me parece o suficiente para causar isso. A razão para isso parece bem clara: os governantes (incluindo Niara e Alef) são terríveis nos seus trabalhos.
Sério, quando descobri que os rebeldes eram uma farsa eu até senti um alívio, porque se eles buscassem realmente o fim da injustiça eles estariam mais do que certos. Porém, logo fiquei me perguntando: e POR QUE não existem rebeldes de verdade? Por que não tem ninguém lutando por essa situação? Todo mundo sabe que mudanças verdadeiramente significativas devem vir do apoio popular, mas no livro parece que os integrantes dessa sociedade nem existem. São apenas os nobres agindo como salvadores e não tem nenhum líder popular envolvido, o que mostra mais uma vez o descaso da narrativa com a política.
Inclusive, eu quis cair dura quando a Effie ficou com raiva pelo Clã da Primavera viver no luxo. Tipo, meu amor, você pode até não viver no mesmo luxo que eles, mas não foi na sua capital que tinha gente morrendo de fome nas ruas? Isso só prova que sua família era tão negligente quanto eles. A partir dessa cena, explico a minha certa apatia pela protagonista (que quase me ganhou em alguns momentos, mas despencava no meu conceito em outros). Além disso, vale notar que os personagens agiam como adolescentes de 13 anos na metade do tempo, correndo e batendo o pé a cada ínfima inconveniência.
Outra coisa, não faz o menor sentido a Effie ter sido negligenciada esse tempo todo pela sua família. Por ser algo importante pro arco dela, percebi que existiu um monte de situações sem cabimento para justificar isso. E a parte que ela descobriu da esposa grávida do irmão? Sério, absurdo, incabível, inexplicável. Odiei ela se sentindo culpada por ter ficado brava com ele, por mim acho que foi até pouco. E falando em Alef, que morte anticlimática e nada a ver. Pareceu que a autora não sabia o que fazer com o personagem e simplesmente deletou ele (ou foi fazendo a limpa que nem fez com os outros guardiões).
Além disso, achei muito nada a ver a cena que Lua, Sol e Órbita trouxeram o Leonel de volta. Eu li umas três vezes esperando eles explicaram o porquê de concederem a vida a ele (e não a dos outros mortos da batalha), mas isso não veio em momento algum. Pareceu apenas um deus ex-machina.
Agora, para falar de pontos positivos. As cenas de ação foram, em sua esmagadora maioria, muito bem descritas. Eram os momentos que eu olhava e realmente pensava que a escrita tava excelente. Outra coisa, foi a originalidade na criação da entidade Órbita, achei ela muito interessante e necessária para a funcionalidade daquele sistema. Também gostei da sinestesia da personagem, muito bem trabalhada e dando um toque único na narração (apesar de algumas coisas ficarem repetitivas depois de 300 páginas, talvez devesse ter existido uma busca para a substituição de palavras e frases que eram usadas milhares de vezes ao longo da história).
E o único personagem que eu genuinamente amei foi Leonel. Que romance saudável! Não sou fã de amor à primeira vista, mas Leonel era encantador o suficiente para fazer funcionar. Eu estava para dar uma estrela e meia para a leitura, mas a cena que ele sacrifica seu pedido para curar as asas de Effie me obrigou a dar meia-estrela a mais de tão linda e emocionante, cheguei até a arrepiar. Juro, esse garoto e seu romance com Effie foi o que salvou essa leitura para mim, porque senão? Não acho nem que teria conseguido terminar o livro.