Nara 03/05/2022
Uma leitura pra vida!!
Tenho falado de forma obsessiva sobre esse livro e Joan Didion..
Me peguei lendo trechos do ensaio Sonhadores do sonho dourado:
"Esta é uma história de amor e morte na terra do ouro, e começa no campo."
"das meninas para quem a grande promessa de vida se resume a um vestido de noiva branco de cauda curta e a dar à luz uma Kimberly ou uma Sherry ou uma Debbi e depois divorciar-se em Tijuana e retomar o curso de cabelereira."Éramos jovens e inconsequentes", dizem sem arrependimento, e olham para o futuro. O futuro sempre parece atraente na terra de ouro, porque ninguém se lembra do passado."
"o que poderia levar uma mulher assim a sentar-se numa rua chamada Bella Vista, olhar através da sua nova janela panorâmica para o sol vazio da Califórnia e planejar como iria queimar o marido vivo dentro de um Volkswagen."
Eu poderia inserir diversas notas que fiz a cada ensaio, amei todos.
O livro está em um lugar de muito afeto, pois a leitura me acompanhou durante todo o processo dessas últimas férias.. Nos ônibus, metrôs, nas percepções que eu fazia da vida à minha volta, da retomada de andanças pela cidade.. Nas filas de consulados, de sp à rj.. Nos momentos de tensão que anteciparam a entrevista do visto. E sem caso pensado, indo comigo até o destino final, que também era a cidade tema do último ensaio: Nova York.
Para além do prazer que é ler sobre eventos reais, Didion nos desperta com percepção aguçada, nenhum gesto escapa. A cidade é uma personagem, um composto das gentes que por lá vivenciaram. E o sentido da vida se dá na forma com que nós mesmos elaboramos sobre ela.
Existe uma fluidez fruto de um ritmo analógico e, uma capacidade quase sinestésica que mescla passado com o presente e, faz do futuro sempre essa promessa de só se tornar uma parte ainda mais caótica do passado. E com cheiros, cores e gosto de estações quentes.. Incêndios por todos os lados.
De que algo muito poderoso acontece com a escrita e a memória pode não passar de uma grande invenção pessoal e, no entanto, ser completamente honesta, transparente, direta e absurda. Sobre a realidade ser a única ameaça que paira no ar.