z..... 17/05/2022
Leitura valorosa na percepção da formação política do Brasil, com abordagens históricas, sociológicas e econômicas que vão do passado feudal de Portugal até o período Vargas. O recorte temporal é dissertativo sobre a ideologia de governo que predominou ao longo de diferentes séculos. Foi publicada em 1958 e é notório para o leitor como a política atual reflete as mesmas disposições do passado. Não é para menos, Raymundo Faoro destacou como a burocracia e o estamento político mantiveram as elites no poder.
As análises começam no feudalismo (onde o rei tinha supremacia em tudo); as navegações na Idade Moderna trouxeram inovações por projetar o comércio marítimo e atrair investimentos da burguesia (contexto que fez o poder ser dividido e barganhado, com projeção de retorno no máximo lucro possível nas colônias, fadadas à exploração); o governo estamental preservou e ampliou a dominância da elite no colonialismo e fases seguintes, em que o imperador não tinha soberania e a democracia excluiu seu elemento mais representativo e anárquico para mudanças, o povo, dominado pelas oligarquias e coronelismo.
Algumas das dissertações no livro...
O autor não destaca personagens específicos, o pensamento predominante das elites no poder é o foco, comum nos que adentram o governo, favorecidos sempre pela burocracia e estamento político manipulados a seu favor, a ponto de uma das conclusões mais conhecidas e impactantes do livro ser de governos que frequentemente exercem poder sobre elementos públicos como se fossem privados.
É livro extenso (tem mais de 900 páginas) e costuma ser correlacionado à leitura chata, o que discordo, pois o texto é de linguagem bastante acessível, sem o academicismo formal como imaginei no início.
Algo que poderia tornar a leitura mais fluida (não sei se as editoras poderiam fazer isso) seria alteração na formalidade estética. A obra tem disposição editorial de outros tempos onde o início de cada capítulo tem o tema e subtópicos tipo um pequeno sumário, seguindo-se textos longos em que os tópicos vão se misturando. Poderiam pelo menos repetir o nome dado pelo autor em cada subtópico que se inicia. Duvido que a maioria dos leitores fique retornando ao começo do capítulo para ver... Oras, assim adentramos cada tópico já cientes do que estará tratando.
Outra versatilidade seria colocar as notas editorias no final de cada capítulo, não reunindo tudo ao final do livro. Não sei em que percentual, mas acredito que a leitura ficaria mais dinâmica. Porém, é o de menos na representatividade da obra...
Encerro com algumas frases da publicação:
"A comunidade política conduz, comanda, supervisiona os negócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos depois, em linhas que se demarcam gradualmente."
(Capítulo Final)
"O poder não nasce da soberania popular, nem por ela se justifica, senão que preexiste à sociedade, autenticado pelo tempo e pela tradição nacional."
(Capítulo XV)
"O governo dos coronéis, chefes políticos, donos da terra, só pode ser o que aí temos: opressão política e exploração impositiva."
(Capítulo XV)