Cabanagem

Cabanagem Gian Danton




Resenhas - Cabanagem


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Gárgula 18/03/2021

Cabanagem, de Gian Danton
História misturada com folclore
A leitura de Cabanagem, de Gian Danton, apesar de rápida, se mostrou excelente e divertida. Vale uma nota ao prefácio muito interessante de Alcinéa Cavalcante.

Publicação da AVEC Editora, o livro conta de uma maneira muito interessante como foi a Cabanagem que existiu no norte, chegando até o Amapá. Este fato é certamente desconhecido por muitos, como eu inclusive.

Uma perseguição daquelas
O texto de Gian Danton nos leva para um Brasil Imperial muito diferente do que imaginamos. A realidade do interior do norte brasileiro, que mistura muitos elementos, inclusive místicos, se transformando por conta disso em um cenário incrível que sustenta o fato histórico.

Temos aqui vários destinos se cruzando. O foco maior estar no duelo entre Chico Patuá, nosso herói cabano, e Dom Rodrigo, o vilão violento, cruel e sem limites. Fugindo para o Amapá, o caminho de Chico Patuá é atravessado por inúmeras situações estranhas, ainda que nos mostre como a vida da região se desenrolava. Um retrato, ainda que romantizado, de um Brasil cru e muitas vezes terrível.

Em sua cola está o impiedoso Dom Rodrigo, um psicopata que é solto da cadeia e alistado compulsoriamente no exército com a missão de eliminar os cabanos. Nada poderia dar mais errado, porém já percebemos aqui características históricas do nosso “jeitinho brasileiro”. Um improviso perigoso e cheio de consequências mortais para aqueles que cruzam o caminho do vilão.

Além de vários personagens interessantes, temos a presença constante de inúmeras lendas em meio ao fato histórico. Este artifício imprime uma sensação de realidade, mesmo tendo muito misticismo, ficando por isso excelente o resultado final na obra.

Considerações finais
O livro vem com um aviso sobre temas sensíveis para leitores igualmente sensíveis. Mesmo assim, é um livro gostoso e interessante, que brinca com elementos míticos e folclóricos, criando terror e suspense.

A violência desmedida de Dom Rodrigo faz paralelo com o governo brasileiro da época: truculento e tosco. A solução mais fácil era sempre optar pela eliminação, ainda que seja interessante ter ganhos pessoais, às custas do sofrimento alheio.

Indico a leitura com certeza!

Resenha publicada no blog Canto do Gárgula

site: https://cantodogargula.com.br/2021/03/16/cabanagem-de-gian-danton/
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Paulo 23/04/2021

Uma das características da fantasia histórica que eu mais gosto é a possibilidade de abordar assuntos ou acontecimentos que não são muito conhecidos. Venho gostando demais desses fatos e personagens como Ajuricaba (um quadrinho sobre um personagem icônico para a cidade de Manaus) ou Spetaculare Meneghetti (um ladrão paulista do início do século XX). Portanto, Cabanagem se trata de um livro essencial para dar luz a um dos movimentos do período regencial menos conhecidos. Sim, aqueles que nós, quando alunos, não gostamos de comentar porque exigem decorar e compreender a Balaiada, a Sabinada, a Revolução Farroupilha, as duas Cabanagens. Danton dá luzes ao acontecimento, nos trazendo personagens interessantes e fatos curiosos ao lado de algumas especulações. Não é um livro que vai mudar a sua vida, mas vai te permitir conhecer mais sobre um movimento do período regencial pouco trabalhado e que revela mitos e lendas do norte do Brasil.

O movimento dos cabanos tem aterrorizado a elite do norte do Brasil. São revoltosos alinhados ao discurso de abolição da escravatura que vinha tomando conta do debate no período imperial. Os cabanos eram escravos fugidos e camponeses empobrecidos que passavam de fazenda em fazenda e libertavam os escravos das senzalas. Isso fortalecia também o movimento que conseguia lidar com as forças nacionais com o uso de táticas de guerrilha. Chico Patuá se tornou uma lenda na região. Ao apoiar um dos líderes do movimento, Angelim, Chico ficou conhecido na região e passou a ser abrigado por pessoas mais pobres enquanto fugiam das forças nacionais. Estrondo, um escravo fugido conhecido por sua imensa força física, passa a seguir Chico Patuá, entendendo que ele terá algum papel em tempos vindouros. O grupo passa a seguir rumo a Mazagão, no Amapá, após conseguirem trazer para o grupo vários escravos das redondezas. Isso aumenta o poder das forças de libertação e preocupa ainda mais o governador local. Em uma medida controversa, o governador colocam o sargento Elmano e o soldado Duarte para cuidar de um especialista em matar, o cruel Dom Rodrigo. Este ficou encarregado de lidar de uma vez por todas com os cabanos. Mas, por trás disso tudo existe uma guerra secreta envolvendo os poderes da luz e das sombras que poderão influenciar o desenrolar do movimento.

Danton colocou para si a tarefa de informar os leitores sobre o que era o movimento. De uma coisa não podemos reclamar: ficamos sabendo a respeito do que foi a Cabanagem e os principais envolvidos. Claro que existe o elemento fantástico e ele criou um personagem ao qual encaminhar a narrativa. Mas, isso não tira o foco do movimento em si, que está sempre ali no foco das decisões de todos os núcleos narrativos. Que são dois: um formado por Chico e Estrondo que seguem rumo a Mazagão em busca de abrigo e reforços vindos da Guiana e de outro temos Dom Rodrigo, Elmano e Duarte que estão em busca dos cabanos. A narrativa é em terceira pessoa bem próximo dos personagens. Observamos tudo o que eles observam. A escrita do autor emprega um português moderno, mas o autor explicou o motivo pela escolha. Lembrar que tanto camponeses como indígenas da região não falavam português, mas um dialeto local que seria incompreensível para os leitores hoje. E usar um português arcaico, de época, não seria realista, já que eles não usavam esse idioma.

Um dos grandes medos que eu tenho ao ler uma fantasia histórica é quando o autor acaba concentrando sua escrita mais no aspecto do cenário ou do acontecimento que inspirou a história. É o que em História se chama o encanto pelo objeto de estudo. O equilíbrio entre contar uma história e apresentar os fatos é importante para que a narrativa não perca a sua qualidade de história ficcional. E eu tive uma opinião bastante dividida nesse sentido. A primeira metade da narrativa é bastante expositiva onde os acontecimentos são apresentados ao leitor. Isso é feito através de uma série de diálogos expositivos que podem tornar a leitura um pouco árida no princípio. Mais à frente, o autor pega o jeito e consegue equilibrar melhor as duas características. Entendo a importância de apresentar os fatos, afinal foi o que inspirou a história, mas isto poderia ter sido feito de uma forma mais suave. Recortes de jornal antes dos capítulos, notas, bilhetes. Quem faz isso muito bem é o livro Guanabara Real que brinca com os acontecimentos, tornando-os parte da mitologia do que é apresentado no livro.

Por falar em mitologia, parabéns ao autor por conseguir mesclar harmonicamente fatos históricos e folclore do norte do Brasil. Sinto que alguns autores nacionais ainda possuem uma resistência ou uma incompreensão sobre como usar lendas como a Matinta, a Mãe D'Água, Norato e Caninana, que são menos conhecidas. Autores e autoras, leiam esse livro. Pronto, está aqui o que vocês precisavam. Danton emprega bem as lendas em sua narrativa fazendo com que elas fornecessem evoluções para a história que está sendo contada. Estas figuras lendárias não foram simplesmente atiradas ali para dizer que tem folclore sendo usado; nada disso. Os seres sobrenaturais tem uma função a ser cumprida. E o embate entre forças do bem e do mal é parte da narrativa. Alguns podem reclamar que se trata de um clichê, o que eu vou discordar abertamente. Para mim, basta a história ser bem contada que o resto é o resto. E o autor conta bem a história e consegue fechar todos os plots que ele propôs ao longo da história.

Posso estar errado, mas achei que o protagonista é mais Estrondo do que Chico Patuá. Apesar de haver uma conexão entre o ícone dos cabanos e Dom Rodrigo, a história de Estrondo é aquela que fica no fundo, mas quase sempre toma conta das decisões. E a relação entre os personagens é importante para que a missão de Chico possa ser levado a cabo. Estrondo não é apenas o companheiro do protagonista; ele assume o protagonismo vez ou outra. Posso estar enganado e o foco ter sido mesmo entre Dom Rodrigo e Chico Patuá, mas a inclusão de Estrondo foi importante sim para que Chico pudesse levar a cabo sua missão. O autor soube também transformar Dom Rodrigo em um personagem detestável. Aquele antagonista que o leitor quer ver sendo derrotado de alguma maneira pelo mocinho. Aliás, fica o meu alerta (e que está na quarta capa do livro): cuidado com algumas cenas mais fortes. Tem alguns momentos bem tensos com muitas mortes, violência sexual, assassinatos. No mais, eu curti o livro e achei que representou bem um acontecimento histórico menos conhecido. Mais um livro que eu voto para que a Avec mande para as escolas!!!

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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z..... 12/07/2023

Poderia se chamar "Dom Rodrigo", afinal, em termos práticos, o gigante barbudo, também vilão, assume o protagonismo como personagem mais instigante. A história é uma perseguição deste a Chico Patuá no fim da Cabanagem, no trajeto entre Belém e Macapá, imersos na floresta amazônica com suas histórias de injustiça social (ilustradas nas arbitrariedades do gigante) e imaginário, onde o destaque vai para a Cobra Norato (a lenda que recebeu mais atenção e visceralidade).
O livro mistura História e Mitologia, dividindo opiniões. Independente de preferência, o texto é fluido, de leitura fácil, com ilustrações pontuais interessantes.
Registro final para Mazagão, o autor valorizou mito sobre o declínio da vila.

Venham mais obras sobre o Amapá!
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Moony 13/01/2024

Fantasia histórica e folclore
A Cabanagem foi uma das revoltas que houve no período regencial, ocorrida na província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840, causada pela crise econômica e social da região e tendo seus líderes derrotados. Os principais líderes tinham origem indígena, negra e da camada mais pobre.
Esse é o pano de fundo do livro "Cabanagem" de Gian Danton. A história se passa nesse período de guerra e acompanha ora Dom Rodrigo, ora Chico Patuá, este fugindo do primeiro. Chico Patuá é um líder dos cabanos e que está fugindo das tropas regências e de Dom Rodrigo, um homem muito mau, um assassino que mata sem dó nem piedade e tem um passado com Chico, que o leitor descobre ao longo da história.
O livro trás também muito folclore, várias figuras folclóricas. O próprio Chico Patuá tem esse nome porque dizem que ele tem o corpo fechado, protegido por um patuá. Tem também a figura da cobra Norato, lenda da Amazônia.
Outro ponto interessante é que a o autor coloca pontos da História. Então, são citados alguns personagens que realmente existiram. E tem alguns fatos que ocorreram como o caso do brigue Palhaço, um episódio bem triste da nossa história e que pouco se conhece aqui no Sudeste. Tem uma passagem que resume o nosso conhecimento sobre a História da Amazônia, de Belém, do Norte, onde o personagem está contanto a história do brigue e, no final, diz: "Aqui todos sabem. O Norte se lembra."
"Cabanagem" trás História, folclore, cultura, suspense, terror, mais folclore. Pelas mãos experientes de Gian Danton, escritor e quadrinista ("Manticore" está entre seus trabalhos mais importantes), a obra estimula o leitor a conhecer mais sobre o folclore e a História da Cabanagem e da região Norte do Brasil.

Você pode encontra-lá no site da editora Avec e na Amazon (e no Kindle Unlimited).
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Ricardo.Rincon 28/02/2022

Um título bom
Um bom livro de ficção histórica com pitadas de fantasia.
Acompanhamos a história de Chico Patuá, um cabano que deseja chegar ao Amapá para fugir das tropas da coroa que estão atrás dele.
No caminho ele acaba ajudando os escravos a se revoltar e os deixando como homens livres.
Um livro muito bom e também muito rápido, para quem gosta de histórias nacionais, esse é uma boa pedida.
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Su :) 30/01/2023

é legal pra quem quer conhecer mais do folclore amazônico e um pouco da história também, já que narra a revolta da Cabanagem, mas não gostei muito da forma que boa parte das personagens femininas foi retratada. no mais, é um bom livro, queria que alguns personagens tivessem tido um final feliz.
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