Krishna.Nunes 14/07/2021Bom, mas não se compara ao livro. Essa é uma narrativa épica sobre uma violenta disputa política envolvendo algumas das poderosas dinastias que constituem o Imperium.
No universo de Herbert, a galáxia já passou por uma guerra contra as máquinas que fez com que os computadores fossem proibidos. Por isso, pessoas com habilidades especiais são treinados para serem verdadeiros processadores de dados humanos.
O planeta Arrakis, que por suas extensas áreas desérticas é apelidado de Duna, é o único local do universo onde se encontra o enigmático mineral mélange, comumente conhecido por "especiaria". Além de servir como droga recreacional e narcótico leve, a especiaria tem o efeito de expandir a mente humana, fornecendo poderes de presciência e visões proféticas. Sem contar com máquinas para traçar as rotas das viagens espaciais, os pilotos da Guilda (empresa de trasportes e monitoramento por satélites) dependem da especiaria para voar. Sem ela, as viagens espaciais estariam condenadas, as pessoas estariam confinadas aos seus planetas natais e o império não existiria. Isso torna o mélange a substância mais preciosa da galáxia.
O leitor é introduzido à trama no momento em que o Duque Leto Atreides recebe do Imperador a dúbia tarefa de administrar o planeta Arrakis. Se, por um lado, isso lhe garante o privilégio de explorar a cobiçada especiaria, por outro lado coloca-o na difícil posição de viver num planeta sem água e ter de confrontar os inimigos históricos de sua família, a dinastia Harkonnen, liderada pelo maquiavélico Barão Vladimir.
Este volume 1 contempla apenas um terço do primeiro livro da série. A adaptação preza por criar sua própria estética, sem se inspirar no filme de 1984 nem no de 2021. As ilustrações são bonitas e conseguem traduzir o clima de aridez, de vastidão e às vezes de mistério do texto original. As cores pesadas e os cenários escuros combinaram bem com o clima de expectativa dessa primeira parte da história. Todos os personagens, lugares e acontecimentos principais são apropriadamente apresentados e resumidos aqui.
O pecado da história em quadrinhos é a falta de aprofundamento. No livro, enquanto a maioria dos diálogos acontecem, o leitor acompanha os pensamentos das personagens. É possível que a narração de um diálogo curto se estenda por muitas páginas, enquanto nós lemos o que se passa na cabeça dos interlocutores e muitas nuances ficam nas entrelinhas. Na HQ, os pensamentos são representados por caixinhas coloridas, o que foi um bom artifício gráfico, mas não basta para exprimir tudo o que era necessário ser dito. Toda a sutiliza se perde. Em alguns pontos, dá para pensar: "como foi que ele/ela chegou a essa conclusão??" porque a construção do raciocínio não é tão elaborada quanto no livro.
Mesmo assim é um resumo razoável da obra e um bom suporte visual para quem já leu mas não assistiu a nenhum dos filmes. Já para novos leitores eu acho que a HQ pode ter o efeito contrário, de afastar em vez de atrair, porque imagino que ler essa obra sem conhecer o livro original deve ser muito confuso.