GG 17/10/2023
Num mundo um tanto utópico, um monge não-binário, que busca um sentido para a vida, e um robô peregrino, que anseia saber do que os seres humanos precisam, Becky Chambers cria um universo onde os cínicos não têm vez.
Após os robôs terem ganhado consciência e terem ido embora, a humanidade aprendeu a se virar sozinha. Há coexistência respeitosa com a natureza, as pessoas têm suas necessidades mínimas supridas, há um ar de contentamento generalizado. Mas Dex se pega com um sentimento incômodo de incompletude: isso é a vida? Se não me falta nada material, não me falta amor, por que me sinto assim, como se faltasse algo? Algo que não sei o que é?
A partir daí, Dex cria coragem para tentar entender esse vazio, encontrando um Chapéu de Musgo, um robô que se aproxima muito da humanidade.
Com um pezinho no absurdismo e outro naquelas paradas budistas de "a felicidade é uma viagem e não um destino", a novela é um grande diálogo filosófico, com uma pegada de auto-ajuda (surpreendentemente não digo isso de modo ofensivo) que é reconfortante. Tal como diz a dedicatória, é um livro para aqueles que precisam desacelerar.
Sem medo de fazer Dex soar como um mimizente com problemas de primeiro mundo, a autora fala de que mesmo quando você aparentemente tem tudo, está ok em não estar ok às vezes. Todos estamos sujeitos à crises existenciais. Porém, Chapéu de Musgo também aponta que nós não precisamos dificultar nossa vida e ver as coisas de modo mais simples e aceitar que não precisamos todos atingir grandes feitos é ok.
A gente termina a leitura com um sentimento legal. Sem falar que essa edição é muito linda.
Foi meu primeiro livro que continha linguagem neutra e foi meu estranho no começo, devo admitir. Depois a gente se acostuma e a leitura flui super bem.